Em busca do hexa, Brasil estreia na Copa do Mundo
Se para europeus e norte-americanos a corrida ao ouro em solo sul-africano começou em 1886, para os brasileiros é hoje o dia. Surgida após a descoberta do metal precioso no fim do século XIX, Joanesburgo é o terreno onde a seleção brasileira iniciará sua luta pelo troféu mais cobiçado do futebol mundial: a taça da Copa do Mundo.
O Brasil dá o pontapé inicial para recuperar a taça mais valiosa do futebol mundial contra a misteriosa Coreia do Norte às 15h30m (20h30m no horário sul-africano) no estádio Ellis Park, em Joanesburgo.
São cinco quilos de ouro 18 quilates cobiçados por 32 seleções. Mas, ao contrário dos estrangeiros que desembarcaram no local há 124 anos em busca de recompensa financeira, o time de Dunga está interessado apenas no valor simbólico do troféu. Para o Brasil, a conquista significará a coroação do melhor futebol mundial pela sexta vez, a manutenção da hegemonia no reino da bola. Nada melhor do que tirar o objeto da Itália, atual campeã, com quatro conquistas, e a única que ameaça o domínio verde-amarelo.
O solo africano tem sido generoso com o Brasil. Na África do Sul, a seleção jogou sete vezes e ganhou todas. No ano passado. a equipe conquistou a Copa das Confederações com uma virada marcante sobre os EUA: venceu por 3 a 2 após sofrer o 2 a 0. Além disso, levando em conta todo o continente africano, a seleção também tem retrospecto 100%: 18 vitórias em igual número de partidas.
Sem problemas médicos para a estreia, Dunga escalará o que considera sua força máxima para o confronto contra os norte-coreanos. Apesar de não haver surpresa, há uma curiosidade: o Brasil estreia com um time que jamais atuou junto. Como Michel Bastos ganhou a vaga no apagar das luzes, será a primeira vez, oficialmente, que esses 11 jogadores formarão uma equipe.
Porém, nem todos estarão 100% fisicamente. Kaká, que se recuperou recentemente de uma lesão na coxa esquerda, está confirmado e é a principal força ofensiva no meio-campo. Mas ele mesmo admite que não sabe quanto tempo vai resistir.
– Não sei quanto tempo vou aguentar. Espero ficar até o fim. Mas chego muito bem, fiz tudo o que podia para estar pronto para a estreia.
Julio Cesar, que machucou as costas no amistoso contra o Zimbábue, no último dia 2, está confirmado. E disposto a provar que seu problema não é tão grave, apesar de ter perdido alguns dias de treino para cuidar da contusão
.- O que ocorreu contra o Zimbábue não foi nada grave. Eu sabia que teria condições de atuar na estreia da seleção. Estou 100%.
Para Dunga, é o momento de pôr a prova todo seu trabalho. Contratado após o fiasco na Copa da Alemanha, em 2006, ele foi chamado para mudar a imagem da seleção, que ficou associada à falta de comprometimento de alguns craques e ao carnaval na preparação em Weggis, na Suíça.
O treinador sabe que tudo que conquistou (Copa América, Copa das Confederações e primeiro lugar nas eliminatórias para o Mundial) de nada valerá em caso de fracasso.
– Agora é a hora da verdade. O que mais chama atenção é que o que aconteceu nas eliminatórias conta pouco. A Alemanha, tão criticada, fez quatro gols ontem. Quem tiver equilíbrio vai apresentar um bom futebol. O Japão também era cobrado, foi lá e ganhou (vitória por 1 a 0 sobre Camarões).
Coreia do Norte: um adversário fechado de todas as maneiras
Sobre o rival, uma análise muito breve.
– Esperamos um time compacto. Eles têm três jogadores que atuam fora do país, o que os ajuda bastante. É um time que joga fechado e sai em velocidade. Nós vamos ter que achar uma forma de superar isso.
O comandante brasileiro tem razão. A Coreia do Norte é tão fechada que pouco se sabe de seu time. Os treinos na África do Sul só contavam com a presença da imprensa nos 15 primeiros minutos, mesmo assim por ser uma exigência da Fifa.
Mas, apesar de ser um confronto entre a melhor e a pior seleção da Copa, de acordo com o ranking da Fifa (o Brasil lidera a lista, com os norte-coreanos em 105°), o treinador Kim Jong Hun aposta na concentração de seus jogadores. E ele não teve preocupação em manter a boca fechada: para ele, sua equipe pode surpreender.
– O Brasil é favorito, mas no poder mental nós podemos equilibrar o jogo e até ganhar. Meus jogadores não devem nada a nenhuma equipe do mundo, garanto que poderiam estar no futebol europeu porque têm a mesma capacidade dos outros – destaca Hun.
Apesar de ser uma ditadura socialista, o futebol norte-coreano já tem mostras de globalização: três jogadores atuam fora do país. O camisa 10, Hong Yong Jo, é do modesto FK Rostov, da terceira divisão russa. Outros dois atuam no futebol japonês, incluindo o centroavante Jong Tae Se, chamado de “Rooney da Coreia do Norte”.
Com 16 gols em 24 partidas, ele é a grande esperança de gols da seleção. Uma das poucas, aliás, de um time que se mostrou muito defensivo em seus amistosos preparatórios. Longe de sonhar com o ouro, nas costas do camisa 9 está o peso de levar o país à segunda fase da Copa do Mundo depois de 44 anos.
Jong Tae Se assume a responsabilidade e promete três gols na primeira fase do Mundial.
– Nós podemos vencer o Brasil. Será um jogo muito difícil, mas temos um coração valente e um espírito forte. Corações valentes fazem milagres – aposta o atacante
Reportagem Daniel Lessa e Rafael Pirrho, do Globoesporte.com