Por Joaquim Haickel
O segundo turno da eleição presidencial de 2014 traz consigo ingredientes extremamente instigantes ao raciocínio pragmático e dialético que tanto persegue os políticos que se pretendem coerentes e sensatos.
Ser prático e percorrer os caminhos das ideias, defendendo suas teses e dando ouvido com igual respeito às antíteses que a elas venham a se contrapor, é tarefa bastante delicada e desgastante, mas é exatamente isso que os bons políticos devem fazer.
Analisemos primeiramente minha situação pessoal nesse contexto. Eu, apenas um eleitor.
No primeiro turno votei em Aécio, pois não queria ver no segundo o debate entre dois discursos de uma mesma esquerda, midiática e fajuta, pra brasileiro ver. Devo declarar que também sofri uma pressão quase irresistível por parte de minha mulher e de meu irmão, que abominam a política petista. Votei em Aécio também pelo fato dele ter sido meu colega na Constituinte.
Analisando-se a posição de alguns amigos do PT e do PMDB, fica claro que outra coisa não lhes resta a não ser cair de cabeça na campanha de Dilma. A vitória dela é a única esperança para que possam se sobressair, administrativamente falando.
O posicionamento de meu amigo Edinho Lobão no segundo turno do pleito presidencial pode ser qualquer um. Ele pode apoiar Dilma por lealdade, mesmo ela tendo sido covarde para com ele em sua eleição; ele pode simplesmente votar nela e pedir-lhe votos em seu círculo mais restrito de influência; e ele pode nada fazer, não mover uma palha por ela. Qualquer dessas atitudes será facilmente bem entendida por qualquer pessoa.
Do ponto de vista meramente político ele deveria movimentar céus, terras e mares no sentido de apoiá-la, pois da eleição dela depende a pouco provável continuidade de seu pai, Edison Lobão, no Ministério das Minas e Energia.
A posição do ex-presidente Sarney e da governadora Roseana é semelhante a de Edinho, sendo que os segundos têm aparentemente menos interesses em jogo que o primeiro.
Por fim analisemos a situação de Flávio Dino, governador eleito de nosso Estado. No primeiro turno ele recebeu apoio e se comprometeu com o candidato do PSDB, coisa que já havia feito anteriormente com Eduardo Campos e fez também com Marina Silva, depois da morte do pernambucano. Só não fez com Dilma porque ela não veio ao Maranhão, mas a apoiava tacitamente através de militantes locais do PT e da direção nacional do PCdoB.
No primeiro turno, Flávio, bem ou mal, acendeu uma vela pra Deus e outras para os diabos, mas a imagem que ficou foi a dele e Aécio de mãos dadas, erguidas em sinal de compromisso, de luta e de vitória. Agora ficará estranho ele fazer uma foto igual com Dilma e declarar apoio a ela.
Neutralidade em política não existe. Fazer nada é fazer alguma coisa.
Observemos que Flávio tem de um lado, seu vice, seu senador, seu chefe da Casa Civil e seu pai apoiando Aécio. Ele tem de outro, seu partido, seu secretário de Assuntos Políticos, seus amigos petistas e seu irmão, apoiando Dilma.
Caramba! Não pensei que minhas previsões fossem se concretizar tão rapidamente. Disse e repito: em termos de política, as mudanças que foram prometidas na campanha, são umas, mas as que por acaso venham a ser efetivamente entregues, não serão profundas o suficiente para fazer com que o modus operandi, que a mecânica própria da política, sofra qualquer alteração ou transformação em sua essência.
A disposição tática do grupo de Flávio Dino é a única que poderia ser estabelecida num quadro como este que se apresenta. Ele está fazendo o que acredito seja o certo e fará exatamente a mesma coisa que o chefe da oligarquia que ele defenestrou do poder faria em seu lugar. Igualzinho!
A situação de Flávio é extremamente delicada. Seu partido, o PCdoB deve estar pressionando-o para que ele declare apoio a Dilma e mais que isso, que ele coloque toda a sua máquina eleitoral, a de um vencedor de uma eleição em primeiro turno, para trabalhar por ela.
Por outro lado, mais da metade de seu grupo não gostaria de ver Flávio apoiar Dilma, mesmo aceitando que ele não declare apoio formal a Aécio. Ressalte-se que esses são jogadores profissionais do jogo político, aprenderam na cartilha do velho oligarca.
A sorte de Flávio, é que neste momento ele ainda não será mal julgado pelo povo por esse posicionamento, pois acabou de vencer a eleição, tem muito crédito a seu favor e o eleitor vai com a onda.
Aos ocupantes dos cargos mais graduados cabem as decisões mais difíceis e a verdadeira responsabilidade pelas consequências de seus atos. Está é a primeira grande e difícil decisão que Flávio terá que tomar. Neste caso não gostaria de estar em seu lugar, pois de seu posicionamento, de sua escolha, depende parte do sucesso ou do insucesso dos primeiros meses de sua administração.
Os dirigentes de um eventual governo do PSDB terão para com o PCdoB uma compreensível má vontade, pois os dois partidos são completamente antagônicos. Os dirigentes do PCdoB imaginam que a eleição de Aécio possa dificultar muito seu trânsito pela Esplanada dos Ministérios, e seu consequente acesso às verbas que possam ajudá-lo em sua administração.
Acredito que Flávio tentará a todo custo permanecer neutro, coisa que faria qualquer sábio político, oligarca ou mudancista.
Acredito que Dilma tem contra si a avalanche da mudança que tomou conta do país. Acredito que sua derrota pode acabar por servir à boa causa do amadurecimento de nossa democracia. Acredito que como eu as pessoas não acreditem que com Aécio na Presidência da República, possa haver retrocessos quanto às conquistas sociais adquiridas como o Bolsa Família ou quanto a projetos indispensáveis como o PAC.
De resto, acredito que se mudar alguma coisa, mudarão os nomes das pessoas no comando, o tom do discurso, o invólucro do produto e poucas outras coisinhas mais.