Santa Luzia – Açailândia

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Por José Sarney

Como um humanista, cuja vocação não era a política – e que nela entrou seguindo a máxima de Napoleão de que a política é um destino, e não uma vocação -, exerci o destino com a visão de construir, sem caráter partidário, nem de facção, nem de divisão, nem de considerar os que não pensavam comigo como inimigos.

Todas as ações que fiz pelo Maranhão e no Maranhão foram pensando no conjunto do Estado e no objetivo maior da Política com P maiúsculo, como dizia Nabuco, pensando coletivamente e procurando melhorar a sorte do meu Estado e do meu País. Deus deu-me a graça de poder conduzir-me dessa maneira em todos os encargos que Ele colocou em minhas mãos.

Jovens poetas, eu e meus companheiros pensávamos que não devíamos somente fazer versos e avançar nos gêneros literários, mas também colocar nossas inteligências a serviço do povo de nossa terra.

Como disse no início dessa série de artigos sobre as coisas pelas quais fui responsável, encarnei uma função de liderança, que exerci sem nunca passar por cima de ninguém.

O Maranhão, como disse, era um Estado desintegrado, sem nenhum recurso, mergulhado num obscurantismo que era um prolongamento do século XIX. Para integrá-lo territorialmente, precisávamos integrar a faixa da Amazônia que ficava em nosso território e vivia, sob a dependência do Rio Tocantins, sem ligações profundas, nem culturais, nem econômicas, com o resto do Maranhão e sua capital, São Luís.

Candidato a governador, como já disse, um dos nossos propósitos era incorporar essa região e o sertão, para que pudéssemos buscar a nossa unidade territorial.

Assim, no programa que submetemos ao povo, tínhamos que ligar a Belém-Brasília a São Luís. Então, lembro uma noite, no sítio Natal, onde nos reuníamos, em que tentamos traçar uma estrada que atravessasse a Floresta Amazônica e a ligasse à São Luís-Teresina, que também pretendíamos asfaltar.

Calcule o que não era, há 50 anos, vir de Imperatriz a São Luís. Nem Carolina, que era a cidade mais representativa do sertão, era ligada à Belém-Brasília. Para sair de lá e ir à nossa capital, tínhamos que ganhar os caminhos que demandavam o Sul e o Nordeste e entrar no território maranhense pelo Piauí, e então pegar a intransitável São Luís-Teresina, então quase um caminho de carro de boi.

Pegamos o mapa e riscamos um traçado que, saindo de Santa Luzia, rasgasse a floresta e chegasse à Belém-Brasília. Dois lugares, pequenos acampamentos da construção daquela estrada, existiam como pequenos povoados: Frades e Açailândia. Nesta morrera Bernardo Sayão – o construtor da Belém-Brasília -, quando, muito ferido, ali chegou para embarcar num teco-teco.

Hoje ninguém sabe o que significou essa epopeia, abrir o linhão e começar o seu traçado. Lembro-me bem com que emoção eu, em Açailândia, então um lugarejo, dirigindo um trator, derrubei a primeira árvore. Açailândia hoje é uma referência nacional, com a mais moderna aciaria do Brasil, unindo hoje a área do Tocantins, o sertão, ao Maranhão.

Eu já havia construído a estrada de Carolina-Estreito, possibilitando que as estradas do sertão também tivessem acesso a essa nova via.

Hoje ninguém se lembra, nem os que ali transitam, que ela nasceu de um planejamento e de uma visão de um Maranhão Novo, que afinal surgiu.

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De volta ao Maranhão Novo

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Por José Sarney

No meu último artigo sobre o meu governo do Maranhão, 1966-1970, terminei contando como constituímos um grupo de trabalho para planejar o que íamos fazer. Era o GTAP.

Faltava água, as ruas estavam destruídas e a energia eram quatro geradores a lenha da Ullen. Atacamos essas emergências. Asfaltei todas as ruas de São Luís, criei a Caema e fiz um novo sistema de abastecimento de água. Construímos a barragem do Batatã; no Sacavem, a adutora e a ampliação da Estação de Tratamento de Água; reformamos todos os sistema de distribuição d’água, construindo quatro caixas-d’água — Calhau, Oiteiro da Cruz, Tirirical e Galpão (atual início da Kennedy, onde existia um galpão com mercado de legumes e frutas) —; substituímos o encanamento da cidade. Trouxemos dois containers com geradores novos, evitando a continuidade do racionamento que existia até a chegada da energia da hidroelétrica que estávamos construindo no Rio Parnaíba — Boa Esperança.

Comecei a construção de grandes conjuntos de casas populares, criando a Cohab. Para estabelecer comunicação com o interior e melhorar a da capital, criamos a Telemar, cujo presidente era o General Alexandre Colares Moreira, e iniciamos o primeiro plano de Comunicação do Brasil, preparado pelo Coronel Goes, o mesmo que fez o Plano Nacional, grande autoridade na matéria.

Abrimos e construímos a Avenida Kennedy, transferimos a a população da grande palafita que ocupava a área que hoje é a região da Areinha para o outro lado do Bacanga — onde estávamos construindo a Barragem —, e fundamos o Anjo da Guarda. A cidade mudava de aspecto, e os problemas urgentes estavam resolvidos com as novas vias. Para elaborar e implantar um plano de engenharia de tráfego, trouxemos o Major Fontenelle, que fazia o mesmo plano no Rio no governo Carlos Lacerda. Assim, buscávamos, com grande antevisão, enfrentar os problemas que viriam no futuro.

Com a Barragem do Bacanga e a Ponte José Sarney, a cidade era outra, se expandia, abria as asas. Roseana completaria essa obra trabalhando por São Luís, construindo viadutos, abrindo novas avenidas, criando os Vivas, promovendo a Cultura com o renascimento das tradições culturais. Desse modo o nosso objetivo de tornar a cabeça do Estado a sua capital, renovando-a, estava atingido. Tudo que temos hoje vem do passo inicial e, como dizem os chineses, toda corrida começa no primeiro passo.

Pense como seria hoje a São Luís sem nada disso, sem a visão do futuro, sem as obras de há 50 anos, que concebemos e iniciamos.

Depois veio a parte da Educação, com a Cema, a TV Educativa, a Universidade, os Ginásios Bandeirantes, as escolas João de Barros e a nova mentalidade que passou a existir, de progresso e futuro.

E calcule o que se sente ao ouvir dizer que vivemos 50 anos de atraso!!

Coluna do Sarney

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