Prefeita segue foragida

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LidianeLeite

Três dias após ser iniciada a Operação Éden, da Polícia Federal (PF) no Maranhão, que investiga denúncias de desvios de verbas da educação no município de Bom Jardim – a 275 km de distância da capital maranhense, São Luís –, a prefeita da cidade Lidiane Leite (PP), de 25 anos, segue foragida.

A investigação foi iniciada após denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Maranhão (MP-MA) e Ministério Público Federal (MPF). Na quinta-feira (20), foram presos os ex-secretários de Agricultura, Antônio Gomes da Silva, conhecido como Äntônio Cesarino”, e de Assuntos Políticos, Humberto Dantas dos Santos, conhecido como Beto Rocha, ex-namorado da prefeita.

Com o sumiço da prefeita, moradores da cidade estão sem saber quem está no commando do município, com 39.049 habitantes. Na cidade, o clima é de incerteza. Vereadores estão impedidos de realizar votação para afastar a prefeita do comando da cidade por causa de uma medida cautelar obtida por Lidiane na Justiça. Ela já havia sido afastada três vezes do cargo: na primeira vez, em abril de 2014, pelo prazo de 30 dias após denúncias de improbidade administrativa, retornando ao cargo em 72 horas, depois de obter liminar na Justiça; na segunda, pelo período de 180 dias, em dezembro de 2014, com liminar suspensa pelo Tribunal de Justiça do Maranhão (TJ-MA) em 48 horas; e  terceira em maio de 2015, retornando em 72 horas.

Na prefeitura, o expediente é de 8h às 12h, mas poucas pessoas foram encontradas no prédio nessa sexta-feira (21). Somente o secretário de Administração e Finanças, Dal Adler Castro, poderia responder pelo órgão, mas não quis falar com a imprensa.

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Repercussão nacional

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AnapaulaeChicoPinheiro

É enorme a repercussão na mídia nacional o caso envolvendo a prefeita Lidiane Leite, de Bom Jardim, no interior do Maranhão. Pelo terceiro dia consecutivo o assunto é destaque no Bom Dia Brasil e no portal G1.

Caso das escolas precárias em Bom Jardim, cidade do Maranhão: a Polícia Federal prendeu dois ex-secretários suspeitos de desviar R$ 15 milhões, dinheiro que deveria ser usado para reformar as escolas e para dar comida para as crianças. A prefeita de Bom Jardim, Lidiane Leite, está foragida. Lembra dela? O Bom Dia Brasil a mostrou ostentando luxo. A reportagem é de Alex Barbosa e da TV Mirante, afiliada da Rede Globo no Maranhão.

No vídeo da reportagem acima, você vê quem são os dois ex-secretários municipais presos pela Polícia Federal: Antônio Cesarino era da Agricultura, e Beto Rocha é ex-secretário de Assuntos Políticos e ex-namorado da prefeita da cidade, Lidiane Leite, do PP. A prefeita de 24 anos teve a prisão decretada e é considerada foragida pela Justiça.
Os três são suspeitos de desviar dinheiro público, principalmente da Educação, uma das maiores carências de Bom Jardim, município com 40 mil habitantes, a 270 quilômetros de São Luís. Eles vinham sendo investigados há dois anos pela Polícia Federal e ministérios públicos Estadual e Federal.

“A princípio a gente apurou que mais de R$ 15 milhões no ano de 2014 foram aplicados em reforma de escola e em construção de escolas. Andando por Bom Jardim, na zona rural, não existiu”, diz a promotora de justiça Karina Chaves.

Os ex-secretários foram presos depois que o Bom Dia Brasil mostrou nesta semana a situação das escolas municipais de Bom Jardim, que no papel deveriam ter sido reformadas, mas as licitações foram vencidas por empresas de fachada.

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A equipe encontrou crianças estudando em varandas improvisadas como salas de aula e em bares, adaptados para receber os alunos. “Aqui nós temos três séries juntas: 1º ano, 2º ano e 3º ano”, afirma o professor Moisés Silva Moraes.

Paredes de barro, teto de palha. No local também era um bar que virou escola improvisada depois que os alunos já não tinham mais onde estudar. A escola que, no papel, está reformada, teve de ser derrubada porque ameaçava desabar sobre as crianças. Tudo lá é improvisado, inclusive a cozinha, onde deveria ser preparada a merenda dos alunos se houvesse merenda na escola.

“Tem não, acabou. E sem recreio também. Se tiver com fome, fica com fome. Aí a gente sai um pouco cedo”, conta uma estudante.

As investigações também apontaram indícios de fraude na licitação da merenda escolar. Dezesseis supostos agricultores participaram de uma concorrência para fornecer alimentação para as crianças. Cada um receberia em média R$ 18 mil. Uma mulher, que não quis se identificar, diz que nunca plantou nada e aceitou participar da fraude para ganhar R$ 600, e devolveu o restante ao então secretário de Agricultura.

Mulher: Foi depositado na minha conta esse dinheiro.

Bom Dia Brasil: A ideia, o combinado era que você repassasse para quem?

Mulher: Antônio Cesarino, o presidente do sindicato e secretário de Agricultura da cidade.

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A prefeita Lidiane Leite foi eleita por acaso. O ex-namorado, que está preso, teve a candidatura impugnada um dia antes da eleição e ela entrou na disputa aos 22 anos. Lidiane era vendedora de leite antes de eleita. Depois de eleita passou a ostentar uma rotina de luxo e badalação. Na internet, ela esnobava. Em uma postagem disse que comprava e gastava com o que quisesse e que não estava nem aí para o que achavam: “Beijinho no ombro para os recalcados”, disse a prefeita.

O comportamento da prefeita e o contraste com a situação das escolas chocou até os policiais. “Estamos absolutamente indignados porque chegou ao nosso conhecimento que as crianças estavam sendo dispensadas mais cedo das aulas por falta de alimentação”, conta o delegado da Polícia Federal Fabrizio Garbi.

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Prefeita foragida

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Lidianeprefeita

A Polícia Federal (PF) reforçou a vigilância em aeroportos e rodoviárias do Maranhão para capturar a prefeita de Bom Jardim (MA) Lidiane Leite (PP), foragida desde quinta-feira (20), quando foi deflagrada a “Operação Éden”, que investiga denúncias de desvios de verbas da educação no Município.

“Solicitamos a todos os cidadãos de bem do Estado do Maranhão que cada um deles se torne um agente da Polícia Federal e nos auxilie na captura dessa pessoa”, disse o superintendente regional Alexandre Saraiva, em entrevista coletiva concedida na quinta-feira.

Foram presos o ex-secretário de Agricultura, Antônio Gomes da Silva, conhecido como “Antônio Cesarino”, e de Assuntos Políticos, Humberto Dantas dos Santos, conhecido como Beto Rocha, que seria ex-namorado da prefeita.

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Segundo o delegado Ronildo Lajes, a repercussão nacional do caso acelerou a deflagração da operação.

“Acontece que, com a publicação da reportagem, por decorrência da repercussão até nacional, nós percebemos no monitoramento que os alvos estavam se movimentando muito, tentando conversar com testemunhas e há rumores no local de que eles estavam tentando evadir-se”, explicou.

“Mesmo sendo policiais federais, somos humanos e estamos absolutamente indignados porque chegou ao nosso conhecimento que as crianças estavam sendo dispensadas mais cedo das aulas por falta de alimentação”, revelou o delegado Fabrizio Garbi.

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Vergonha nacional

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Lidiane

“Eu não me importo, quero que investigue sim, quero que se puna o responsável, se houver, que eu não sei se há”, diz a prefeita de Bom Jardim Lidiane Leite (PP), em um palanque no centro da cidade, onde se defende de acusações de desvio de dinheiro público.

“Estou de cara limpa, aqui pra vocês (pula para) batalhando por uma melhoria nessa cidade, uma evolução maior para este povo”, acrescenta a gestora municipal.

A prefeita é investigada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público Estadual (MP-MA), pelo Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF).

“Até agora da investigação que foi levada a efeito do inquérito policial instaurado aqui na Polícia Federal é que de fato há fortes indícios de que houve, sim, desvio de recurso público direcionados à merenda escolar, de outros recursos direcionados à educação e de outros do Fundeb e não só do Pnae”, explica o delegado federal Ronildo Siqueira.

“A princípio, a gente apurou que mais de R$ 15 milhões, no ano de 2014, foi aplicado em reforma de escola e em construção de escolas e, isso, aparentemente, andando por Bom Jardim, na zona rural isso não existiu. E a gente requisitou todos esses contratos, mas não encontrou”, diz a promotora Karina Chaves.

Prefeita por acaso

A reportagem teve acesso com exclusividade ao conteúdo das investigações. São possíveis fraudes em licitações, desvio de dinheiro da merenda escolar e transferências bancárias irregulares.

Antes de entrar para a política, Lidiane, que se tornou prefeita aos 22 anos quase por acaso, trabalhava em um mercado. “Ela vendia leite na porta da casa da mãe dela, junto com a mãe dela”, diz uma moradora. “Antes, ela vendia leite na residência da mãe dela”, confirma outro morador.
Em 2012, o namorado dela na época, Beto Rocha, era candidato a prefeito. Só que ele foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa e teve a candidatura impugnada. Lidiane assumiu o lugar do namorado e foi eleita.
Depois que assumiu o cargo, Lidiane passou a compartilhar fotos da sua nova rotina nas redes sociais. Nesta postagem, ela diz “eu compro é que eu quiser. Gasto sim com o que eu quero. Tô nem aí pra o que achem.” E completa: “beijinho no ombro pros recalcados.”

A polícia investiga transferências da conta da prefeitura para a conta pessoal de Lidiane, feitas alguns meses depois da posse. São várias transferências de cerca de R$ 1 mil e chegam a R$ 40 mil em um ano.

Também foram feitas transferências para o advogado da prefeitura, Danilo Mohana. Elas somam mais de R$ 200 mil em pouco mais de um ano. Procuramos o advogado e ele agendou uma entrevista, mas mas ele não apareceu no horário combinado.

EscolabomJardim

Situação das escolas

Na internet, a prefeita escreveu: “devia era comprar um carro mais luxuoso, porque graças a Deus o dinheiro tá sobrando.”
Na pequena Bom Jardim, não tem nada sobrando. A cidade tem 40 mil habitantes, um índice de desenvolvimento humano entre os mais baixos do país e problemas graves na educação, escolas caindo aos pedaços e crianças estudando em lugares improvisados.

Alex: Isso aqui era um bar antes?
Professora: É.
Alex: Aqui é o balcão?
Professora: É.
Alex: E veio para cá o colégio por que, pro bar?
Professora: Porque o colégio está estourado.
Depois que a prefeita foi eleita, houve duas licitações para reformar as escolas. A empresa Ecolimp, que tem como atividade principal “coleta de resíduos não perigosos”, recebeu R$ 1,8 milhão. No contrato, consta que ela funciona no centro comercial de Raposa, na Região Metropolitana de São Luís, mas não há nenhuma empresa no local informada.
A TV Mirante apurou que não houve reforma em nenhuma das escolas previstas no contrato.
No local onde deveria estar uma das escolas reformadas pela empresa, só tem mato. Entrando por um caminho se percebe que a escola foi derrubada.
Por enquanto, as aulas são num espaço improvisado.
Zeladora: Ó o banheiro.
Alex: Esse é o banheiro que as crianças usam?
Zeladora: É, o banheiro.
Em outra escola, as crianças estudam amontoadas em uma varanda.
Alex: Não tem sala de aula?
Professora: Não tem sala.
Alex: Essa escola não foi reformada recentemente?
Professora: Não.
Alex: E o quadro negro, como é que faz?
Professora: Não tem.

Procuramos os donos da empresa que venceu a licitação. Um deles não foi encontrado. E outro, identificado com Hudson Oliveira Braga, que mora na periferia de São Luís, não recebeu a reportagem.

Em outro contrato, a empresa Zabar Produções recebeu mais de R$ 1,3 milhão para reformar 13 escolas.
Pela licitação, deveria haver uma torneira de primeira linha em um bebedouro que nem existe. E os banheiros da escola a situação é bem diferente no papel da realidade. Deveriam ter pias, chuveiros, saboneteira, mas não há nada disso. Nas salas de aula, a situação se repete. Onde deveria ter forro no teto e luminárias, há uma lâmpada pendurada em um fio. As portas também deveriam ser novas, mas estão velhas e com os trincos quebrados. Em uma das salas, nem porta tem.

A reportagem ligou para o dono da empresa, Antonio Oliveira da Silva, conhecido como Zabar, que confirmou por telefone que realizou as reformas nas 13 escolas.
Em 2013, a Câmara Municipal de Bom Jardim abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os contratos da prefeitura. A prefeita recebeu os vereadores que estiveram no seu gabinete com agressões verbais.

Lidiane: Vocês são tudo, sabe o quê? Um bando de moleque, vagabundo, sem vergonha! Ladrão, ladrão, ladrão!

A câmara também encaminhou à Polícia Federal e ao Ministério Público denúncia de fraude na licitação da merenda escolar. Em 2013, a prefeitura fez um contrato com 16 agricultores para fornecer merenda para as escolas municipais. Cada agricultor receberia, em média R$ 18 mil por ano.

Alex: Consta que a senhora teria recebido cerca de 19 mil da prefeitura pra fornecer merenda. A senhora nunca pegou esse dinheiro?
Zuleide: Nunca peguei esse dinheiro. E nunca nem vi esse dinheiro de prefeitura. Nunca.
Zuleide: Eu acho que isso aí é uma enrolada que estão fazendo comigo sem eu dever.

Antonio Cesarino, visto nessas fotos com a prefeita, era secretário de Agricultura do Município na época dos contratos. “A Câmara diz que foi desviado, acusa a minha pessoa e eu lhe digo mais uma vez que eu não recebi um centavo, eu não vi a cor desse dinheiro”, defende-se Cesarino.

“A investigação ainda está em andamento, mas a medida em que for correndo o procedimento e de fato sedimentada essa participação, eles serão indiciados, no inquérito policial podendo responder por associação criminosa, peculato e posteriormente serem condenados na justiça”, explica o delegado Siqueira.

Vida em São Luís

Enquanto é investigada em Bom Jardim, a prefeita é vista com frequência São Luís, que fica a 270 km de distância. Na capital, a reportagem flagrou Lidiane fazendo compras em uma loja de vinhos e na sala de espera de uma clínica, às 11h de uma quarta-feira. E, em uma postagem na internet, ela aparece na academia, malhando em São Luís.

Em Bom Jardim, a reportagem esteve na prefeitura em horário de expediente.
Alex: Não tem ninguém aí?
Vigia: Não.
Alex: E a prefeita?
Vigia: Tá aqui não.
Alex: Sexta-feira ninguém trabalha aqui?
Vigia: faz que não com a cabeça.

A reportagem tentou falar com a prefeita pelo telefone, mas as ligações caíram na caixa postal. Uma equipe da TV Mirante havia conseguido falar com a gestora um pouco antes de um comício.

Repórter: Com relação à transferência de dinheiro da prefeitura para sua conta pessoal?
Lidiane: Isso é uma total mentira e eu não tenho medo algum. Vai ser provado.
Lidiane: O que eu tenho a falar é que está sendo investigado. Você e toda a população vai ser informado do que houve.
Enquanto isso, os professores e estudantes só têm a lamentar. “Eu fico triste quando eu chego aqui, eu observo, eu olho tudo, sei lá, dá um… Fico triste. Queria uma coisa mais organizada para eles, que eles merecem”, conclui.

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