Na cidade conhecida por ter um telefone público e um semáforo gigantes como pontos turísticos, um homem pequenino destoa deste cenário. No Ituano, time de Itu, no interior de São Paulo, Roberto Aparecido Prado, de 44 anos, domina a rouparia do clube como ninguém.
E ai de quem ousar ultrapassar a grade que limita o vestiário da sua área de trabalho sem autorização. Com 1,25m de altura, ele impõe respeito e diz que ali manda mais até que o presidente Juninho Paulista, ex-jogador do São Paulo e da Seleção Brasileira.
– Aqui ninguém entra se eu não deixar. Os jogadores entregam as roupas, mas não passam da grade. Nem o Juninho entra aqui se eu não quiser. Sou eu quem mando! – disse o roupeiro ao Globoesporte.com, enquanto arrumava os uniformes dos atletas para mais um dia de treino.
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Robertão, como gosta de ser chamado, é conhecido no futebol do interior de São Paulo. O roupeiro sofre de nanismo, doença genética que provoca um crescimento esquelético deficiente, que geralmente resulta em um indivíduo de baixa estatura. Ele conta que a deficiência ocorreu pelo fato de a sua mãe ter tido rubéola durante o período de gestação.
– Mas eu não tenho problemas com isso. Nunca fui vítima de preconceito. E você não vai encontrar um roupeiro melhor do que eu por aí. Os outros podem ser tão bons quanto eu, mas não são melhores.
A altura parece não ser mesmo um empecilho para Robertão. No Ituano, o material dos atletas fica espalhado por estantes com até cinco prateleiras. Quando ele não alcança esticando os bracinhos, usa uma pequena escada de dois degraus. Se o objeto está mais alto, ele lança mão de uma vassoura para puxar. Esse tipo de improviso funcionou em outros 26 clubes por onde passou.
– Eu comecei aqui no Ituano como gandula. Quando o Juninho jogava e fazia um gol, corria para me pegar no colo. Depois eu passei a ser auxiliar da rouparia, até me tornar roupeiro mesmo. E já rodei muito no mundo da bola. Trabalhei no Noroeste, Jaboticabal, Taquaritinga e Sãocarlense, entre outros. Quando o Juninho voltou para ser o presidente aqui, soube que eu estava sem emprego e me chamou. Somos muito amigos.
O carinho é recíproco. Agora na função de dirigente, Juninho não se esquece dos momentos que viveu com Robertão no início de carreira, antes de brilhar como meia do São Paulo e da Seleção Brasileira.
– Ele é muito bom profissional e uma ótima pessoa. Todo mundo o respeita muito, e lá na área dele só ele manda – disse o presidente, aos risos.
Robertão não se intimida com o tamanho dos outros companheiros de clube. Se um jogador deixa algo fora do lugar, ele dá bronca. E nem o mandatário do time escapa de uma cornetada.
– Ô, Juninho! Aqui na minha área é muito calor! Preciso de dois ventiladores aqui!
Por Por Julyana Travaglia, Globoesporte.com