Internacional inicia caminhada pelo bi mundial
O rei, traído, tomou uma decisão: a cada noite, desposaria uma noiva e a mataria na manhã seguinte, para ter a certeza de jamais voltar a levar uma bola nas costas. Sherazade, esperta que era, resolveu contar historinhas para ele: como eram interessantes, ela ia se mantendo viva, porque aguçava a curiosidade do homem para o dia seguinte. A lenda das “Mil e uma noites”, clássico da cultura árabe, não fala no Sport Club Internacional. Mas se lá por 2005 Sherazade inventasse de dizer que o Colorado poderia ser bicampeão do mundo até o fim da década, seria morta: o rei acharia inverossímil demais. E cometeria uma tremenda injustiça, porque o time gaúcho, nesta terça-feira, 14 de dezembro, vai a campo para começar a reconquistar o planeta. E em terras árabes.
Às 14h (horário de Brasília), o Inter duela com o Mazembe, da República Democrática do Congo, pelas semifinais do Mundial de Clubes da Fifa. O time do Beira-Rio é o único no planeta que pode ser bicampeão mundial no novo formato do torneio, com a tutela da entidade máxima do futebol. Se vencer a partida no estádio Mohammed bin Zayed, em Abu Dhabi, terá que encarar seu xará mais badalado, o Inter de Milão, ou os sul-coreanos do Seongwan na decisão. Eles duelam um dia depois.
É o início da concretização de um sonho que nem mil e uma noites poderiam prever. Mais experiente, mais campeão e mais famoso do que há quatro anos, o Inter se sente pronto para ficar ainda maior. Celso Roth passou quatro meses comandando os campeões da Libertadores especificamente para isso. Recheado com o talento de D’Alessandro, a frieza de Kleber, a experiência de Tinga, a estrela de Rafael Sobis, a garra de Guiñazu, a liderança de Bolívar e o faro de gol de Alecsandro, o Colorado luta para superar o nervosismo da estreia.
O GLOBOESPORTE.COM transmite ao vivo a partida, que ainda terá acompanhamento em Tempo Real. O jogo também será exibido pela TV Globo e pelo SporTV.
O que era para treinar, o Inter treinou; as orientações que deveriam ser dadas, Celso Roth deu: falta só a bola rolar, resta só a prática do jogo, o calor da disputa, o duelo de 90 minutos que valem todo o ouro dos Emirados, todo o petróleo do Oriente Médio. Os quatro meses de preparação do Colorado para o Mundial serão colocados em teste nesta terça-feira.
A confiança é grande. O Inter chegou a Abu Dhabi convicto de que se preparou da melhor maneira possível. Agora, espera colher os frutos.
– A expectativa sobre o campeonato é mundial. Sabemos a responsabilidade que temos. Representamos um continente com tradição enorme no futebol e um país que é dito por todos como o país do futebol. (…) O jogo é eliminatório. Não tem como deixar para depois. Não tem chance depois do jogo. Temos que entrar 100% atentos. Não tem depois – disse o técnico Celso Roth.
A única possível dúvida no Inter está no esquema tático. A tendência é de que seja o 4-4-2, com Rafael Sobis ao lado de Alecsandro no ataque, mesmo que o 4-5-1 tenha sido até mais trabalhado. Atue com a estratégia que for, o Colorado só quer saber de manter as chuteiras no chão. Duelar com um oponente bem menos famoso não é garantia de nada, alertam os atletas vermelhos.
– O futebol, a cada dia, mostra mais que está igualado. Temos que ter a consciência de que vai ser duro, vai ser complicado. Favoritismo não vence jogo nenhum – disse o atacante Rafael Sobis.
Em 2006, o Inter sofreu para vencer o Al-Ahly, do Egito, em seu primeiro jogo. Índio, o único titular daquele time remanescente em 2010, usa a situação como exemplo.
– A dificuldade vai existir esse ano também. O Mazembe tem uma equipe que merece todo nosso respeito. Se está no Mundial, tem toda condição, mas estamos cientes disso. Precisamos explorar o que temos de bom, que é o toque de bola – afirmou o zagueiro.
Tout Puissant Mazembe. Ou, traduzindo, o todo poderoso Mazembe. Em sua segunda participação seguida em um Mundial de Clubes, o time da República Democrática do Congo fez história ao superar o Pachuca por 1 a 0 e garantir presença nas semifinais. Os africanos mostraram um time veloz e viril, que até abusa das faltas.
Sunzu, expulso contra o Pachuca, não enfrenta o Inter. O técnico senegalês Lamine N’Diaye faz mistério sobre o substituto e até fecha treinos. Kasongo, muito elogiado por Roth, deve entrar em um time que confia em passagem à final.
– No futebol, nada é impossível – avisou Mbenza Bedi, o autor do gol que colocou os africanos no caminho do Inter nas semifinais.