Ministro do governo Dilma, participei de algumas reuniões onde o programa “Mais Médicos” era formulado, tomava corpo. Nunca perdi a oportunidade de falar como era difícil fazer política pública, principalmente saúde e educação, num estado ainda dominado pela pobreza extrema… Onde tudo exige um volume muito grande de recursos e dedicação total dos seus agentes.
Lembrava, aos outros ministros, minha própria experiência como político nos municípios mais pobres do Maranhão. Na total precariedade da oferta de uma saúde mínima, onde o hospital municipal tivesse, pelo menos, um aparelho de raios-X, uma incubadora, uma mesa de parto…
O médico, sempre apressado, com muitos plantões, atendia como podia, com o tempo que dispunha… O paciente ficava em segundo plano. Eu defendia o projeto, lutava pela sua viabilização porque sabia o quanto é importante o paciente conhecer o médico, ser por ele examinado, considerado.
Quando tomou a decisão de implantar o programa Mais Médicos, Dilma enfrentou a resistência barulhenta, inútil e agressiva de entidades sindicais do setor. As reclamações foram muitas, entre elas a de que os cubanos estariam tirando o lugar dos médicos brasileiros, os mesmo médicos que nunca haviam demonstrado interesse de trabalhar nos lugares ocupados pelos estrangeiros.
Você quer ir? Não! Agora, um estrangeiro ir no meu ligar é uma sacanagem! Aqui no Maranhão, onde a presença de médicos generalistas, de família, para morar nos povoados, seria um ganho, a Secretaria de Saúde, e o Conselho Regional de Medicina também torceram o nariz.
Diante das hostilidades, a presidente Dilma pediu a mim que, como maranhense, recebesse os médicos, os acompanhassem na sua ida para os municípios onde iriam trabalhar. Agora, o governo de Cuba cancela a participação de seus médicos no programa. Retaliou antes de ser retaliado, se precipitou.
O Maranhão pode agora perder mais de 450 médicos. Mas e agora? Como ficam os pacientes que eram atendidos pelos cubanos? Quem vai substituí-los?
Formar um médico no Brasil é um alto investimento, um enorme sacrifício para as famílias, que não concordam com a ida dos seus, para lugares distantes, sem possibilidade de uma visibilidade maior, de uma residência médica mais adequada, de um salário melhor.
Vai começar o maior papo furado, de Revalida diplomas, do reconhecimento do diploma de quem estuda no exterior… Um caminho burocrático longo e caro. Como resolver? Do jeito que for possível! ideias não faltam…
Pelo que aprendi ao longo da vida, no Brasil pobre nunca foi prioridade, infelizmente. Aqui, os bons médicos que moram nos municípios, vão continuar se elegendo prefeitos, com o reconhecimento da população e tudo vai continuar como era. Se tivesse na Câmara ia dar a maior canseira no Bolsonaro por conta deste assunto…
*Gastão Vieira é ex-ministro de Turismo do governo Dilma Rousseff e ex-deputado-federal