Até logo

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Por Adriano Sarney

As regras eleitorais me afastam de escrever nesta coluna pelos próximos meses, sou pré-candidato à prefeito de São Luís. Durante 70 semanas foram publicados meus artigos neste espaço. Análises sobre economia, política, gestão e planejamento, mas também uma série de textos sobre o preconceito. Ganhei mais conhecimento escrevendo aqui, organizei ideias e até mesmo consolidei minha ideologia política.

Escrevi com a finalidade de expor a pluralidade de ideias e correntes de pensamentos que norteiam a vida da sociedade em geral. Mas sempre adaptei minhas analises para acompanhar novas realidades. Sou pragmático e acompanho o mundo em movimento.

O dever de um articulista é o de escrever com total liberdade e estímulo. Essas oportunidades me foram dadas pelo jornal O Estado do Maranhão. Mas minha gratidão maior pertence à vocês leitores. Obrigado às pessoas que acompanharam meus textos e os que enviaram sugestões e comentários. Foram feedbacks que ajudaram muito a coluna.

Quebro a rotina de escrever neste espaço todos os finais de semana para cumprir com a missão que me foi dada pela agremiação política na qual milito, o Partido Verde do Maranhão. Os filiados decidiram, por unanimidade, lançar minha pré-candidatura à prefeito de nossa capital. Aceitei por entender que São Luís, a cidade em que nasci e amo, precisa ser modernizada.

Nas minhas andanças nos bairros constato a ausência total do poder público. A capital do Maranhão foi aprisionada em uma visão administrativa que se nega a acompanhar o desenvolvimento da história. Nossos grandes empreendimentos se resumem a asfalto de má qualidade e praças, isso é muito revoltante! É preciso debater a cidade, nossas vocações, nossas potencialidades, que são muitas, atrair investimentos visando a geração de emprego e renda para finalmente termos a independência do empreguismo e a eficiência da máquina pública. Colocar em prática as melhores ideias do mundo com dinamismo e vontade de trabalhar. Não precisamos carregar conosco para sempre esse complexo de vira-lata, de que somos inferiores, que não conseguimos.

Eu poderia ter seguido a tradição que quase todos os parentes de políticos seguem no Maranhão e ter entrado na política cedo, aos 20 e poucos anos. Mas, fiz a opção pelos estudos. Fui convidado para assumir cargos estaduais e federais. Entretanto, sempre recusei, pois preferi estudar, me preparar. Não sou político profissional, sou administrador e economista, fiz carreira em empresas multinacionais e na iniciativa privada. Então, após concluir minha formação e ter êxito na minha carreira profissional, decidi somar com os meus conterrâneos, para cumprir a missão que me foi dada pela oportunidade que tive. Meu primeiro cargo público assumi pelo voto popular, quando meu grupo já tinha saído do governo. Dessa forma, comecei minha carreira política com o gratificante ofício de ser um político independente. Nunca negociei minha posição por moedas políticas.

Aceitei o desafio da pré-campanha e a legislação eleitoral me proíbe de dar continuidade à coluna. Ficarei com saudades deste espaço e do ritual sagrado de escrever todas as semanas. No entanto, as despedidas não são essencialmente definitivas. Elas podem não representar um “adeus”, mas talvez um “até logo”. Obrigado por tudo!

*Adriano Sarney é deputado estadual, economista com pós-graduação pela Université Paris (Sorbonne, França) e em gestão pela Universidade Harvard.

Foto: Agência Assembleia

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Uma escolha sem Sofia

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Por José Sarney

Estamos diante de uma ameaça sempre temida ao futuro da humanidade: as doenças desconhecidas. Ao longo da história dos seres vivos que habitaram o nosso planeta, milhões de espécies já desapareceram. Para citar o episódio mais fascinante, citemos os dinossauros, que em teoria foi provocada por um meteoro gigante que caiu no Golfo do México, transformando a atmosfera, devastando todo o planeta e levando de roldão quase toda a vida, extinguindo muitas espécies, inclusive as mais bem-sucedidas entre elas, as dos gigantessauros. Mas nada nos diz que não tenha sido uma doença dessas.

O gênero “homo” foi o mais bem-sucedido entre os mamíferos, embora seja recente, três milhões de anos, o que é nada no tempo cósmico.

Já venceu várias pandemias, resistindo a todos e, há setenta mil anos, se tornou sapiens sapiens esse a quem Deus escolheu dando-lhe consciência e fala. E ainda lhe deu capacidade de dominar o saber das coisas, defender-se delas e, através da ciência, poder salvar-nos.

Estamos diante de um desafio inédito. O coronavírus não tem remédio, não tem vacina e pegou a humanidade de surpresa. É um vírus que se transmite numa velocidade que nenhum outro, de pessoa a pessoa, quase nada sabemos sobre ele e somente agora todo o saber científico do mundo se mobiliza para cercá-lo e encontrar um meio de enfrentá-lo.

Nenhum país do mundo estava preparado para esse desafio, os hospitais jamais pensaram necessitar dos equipamentos que demanda na quantidade de infectados. Só temos uma maneira de tentar evitá-lo: o confinamento. Esse procedimento gera muitas consequências de natureza social, econômica e pessoal. Não podemos avaliar suas consequências e amplitude.

Pelo lado humano estamos todos submetidos a um stress muito grande. Testemunhamos as tragédias pessoais das vítimas – pais, esposos, filhos, avós – e participamos de sua emoção com nossas lágrimas.

Dentre essas tragédias que todos vivemos a mais heróica é a dos que estão nas linhas de frentes, como médicos, enfermeiros e todos que trabalham para salvar vidas e aliviar o sofrimento dos doentes.

A parte psicológica é a mais atingida. Li hoje a história de renomado anestesista, dr. Alexandre Teruya. Acostumado ao risco da intubação dos pacientes, ele confessa que teve medo quando teve que colocar a sonda na traqueia do primeiro paciente com a Covid-19. Tendo passado aos filhos a necessidade do ritual de descontaminação, a volta para casa não era mais o alívio, mas a exacerbação do risco. A solução foi se mudar para o hospital.

A escolha de Sofia, expressão que retrata a necessidade de escolher uma de alternativas insuportáveis – no romance original, escolher um dos filhos para salvar ou ter os dois mortos pelos nazistas – tornou-se já um desafio real para os profissionais da saúde. Por isso devemos a eles nossa gratidão e nosso apoio.

O terrível dessa virose é que a única coisa que podemos fazer é ficar em casa.

*Coluna do Sarney/O Estado

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Está quem manda

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Por José Sarney

Nos meus primeiros meses como Presidente da República, tive que aprender a rotina das solenidades militares, sempre muito bem organizadas, com fórmulas estabelecidas há décadas e impecável respeito a horário e cerimonial. Justamente neste aprendizado, cometi uma das maiores gafes ao ser recebido no Corpo de Fuzileiros Navais de Brasília, no Dia da Marinha.

Diante da tropa formada estava o Ministro da Marinha, Almirante Henrique Saboia, um dos melhores homens públicos que conheci, grande profissional, mas sobretudo personalidade de honradez, cultura e sensatez. Devo-lhe grande ajuda de conselhos, recomendações e solidariedade.

Quando cheguei, ele, com grande garbo, deu a ordem a sua tropa, conforme os costumes navais, seguida pelo toque dos apitos dos marinheiros, e abriu a solenidade, anunciando: —”Está quem Manda!”

Eu, novato em ser o Comandante em Chefe das Forças Armadas, entendi a saudação do Almirante Saboia como “Está queimando.” Abandonei a postura solene de Comandante para me voltar, à procura de onde vinha o fogo. Fui socorrido por meu ajudante de ordens, Major Heitor, a explicar-me que não havia fogo e sim a saudação naval. Até hoje conto com vergonha minha gafe aos almirantes amigos.

Essa foi a exclamação que me veio à cabeça quando recebi a trágica notícia do que acontece na Amazônia, lembrando-me daquele tempo. Desta vez está queimando mesmo, e muito, e escandalosa e catastroficamente fora de controle a nossa Amazônia.

Quando caiu o muro de Berlim, com o fim da utopia socialista, nasceu a ideologia do Meio Ambiente. O Brasil foi colocado no banco dos réus sob a alegação de que destruía a Amazônia, pulmão do mundo — por produzir uma sobra de oxigênio, o que não é verdadeiro, o papel pertence às algas marinhas. A Amazônia é fundamental para a humanidade porque é a maior floresta úmida, tem a maior diversidade e faz, aí sim, a regulação do clima mundial.

Minha reação, eu que sou ambientalista, amante da Natureza, humanista, foi contestar o que não era verdadeiro como teoria, reconhecer que desde a Colônia o Brasil tinha descuidado de enfrentar o problema do Meio Ambiente e trabalhar. Criei o “Programa Nossa Natureza” — com a ajuda dos ministros Bayma Denis e João Alves —, o Ibama e toda uma estrutura nacional de órgãos e institutos de natureza científica e tecnológica, a começar pelo monitoramento das queimadas. Fomos o primeiro país no mundo a dedicar ao Meio Ambiente um capítulo da Constituição, trabalho dos deputados Feldman e Sarney Filho.

Respondi à comunidade internacional reivindicando para o Brasil a Conferência Mundial do Meio Ambiente, com os embaixadores Paulo Tarso, Ricúpero e Seixas Corrêa pedindo apoio para a candidatura do Rio de Janeiro. A Conferência Rio-92 foi um sucesso e cumpriu sua finalidade. Assim saímos do banco dos réus.

Agora, devemos fazer uma mobilização nacional contra o fogo. Começar pelos municípios, com brigadas de voluntários, chamar os Estados à colação e fazer um grande mutirão nacional.

Vamos dar uma resposta correta. Nada de retórica, tudo de trabalho.

Como eu entendi o que disse o Ministro Saboia: “Está queimando!”

Coluna do Sarney

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Vá para Marabá!

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Por Adriano Sarney

O Maranhão acaba de perder uma siderúrgica da Vale em parceria com os Chineses para o Pará. Perdeu por falta de representação política forte a nível nacional e por incompetência do governo estadual.

O investimento será de R$ 1,5 bilhão e gerará 15 mil empregos em Marabá. Vou lançar o slogan: “Atenção maranhenses, querem emprego já? Vá para Marabá!” Nada como fatos reais para superar fake news, pós-verdades, argumentum ad hominem e outras técnicas utilizadas pelos comunistas para justificar a inércia de um estado que não cria empregos, não atrai grandes empreendimentos e aumenta, segundo o IBGE, o número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza.

Para o projeto comunista tudo vale a pena para se manter no poder e a culpa é sempre do passado. Mas o Maranhão, antes do PCdoB, já tinha ferrovias, portos e grandes indústrias como a Vale, Alumar, Eneva e Suzano. Até mesmo a vinda do porto da WTorre foi articulada no governo retrasado, mas ainda encontra-se no papel. Não é fácil atrair empreendimentos desse porte, é necessário força política nacional para não perder a batalha para outros governos estaduais; todos querem gerar emprego, renda e receita para seu estado.

Aliado a articulação, um governo que queira atrair um grande projeto, precisa ter um ótimo pacote de incentivos e dar agilidade na concessão de licenças. Nada desses pré-requisitos acima o “governo da mudança” consegue entregar.

Quando o Maranhão tinha uma forte representação política à nível nacional, conseguiu, com muito esforço, que o minério de ferro fosse escoado pelo nosso porto e isso gerou um enorme desgaste com o Pará na época. O estado vizinho queria comandar toda a cadeia do produto – extração, escoamento e beneficiamento. O maior medo dos paraenses era do Maranhão ficar com a etapa de beneficiamento do mineral (a parte da siderurgia), já que estudos comprovam que é mais viável a siderúrgica localizar-se próxima do porto.

Acontece que a eficiência e a articulação política do recém-eleito governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), convenceu a Vale e os Chineses para ficar em seu estado, na cidade de Marabá, bem no limite com o Maranhão. E o pior é que aqui não ouvimos falar de um esforço sequer do governador ou dos senadores para reverter essa situação. Talvez estejam muito ocupados, fazendo oposição ao governo federal.

Não foi apenas a falta de interesse e de força política que fez o Maranhão perder a siderúrgica para o Pará, foi também o desmonte de nossa política de atração de empresas. Uma das primeiras medidas do atual governo foi acabar com o programa ProMaranhao de incentivo a novos investimentos que atraiu dezenas de projetos para o estado. No seu lugar colocou um programa que até hoje, quase 5 anos de governo, ainda não atraiu nenhum empreendimento significativo.

O atual governo também cancelou os recursos que já tinham sido destinados para a continuidade das obras dos distritos industriais no interior do Maranhão. A siderúrgica de Marabá ficará no distrito industrial da cidade. Lá tem distrito industrial para facilitar as licenças e incentivos para novos projetos.

qui no Maranhão, foi previsto recurso do BNDES no âmbito do programa Viva Maranhão para a conclusão dos distritos industriais de cidades médias. Porém, o dinheiro foi desviado para fazer asfalto de péssima qualidade durante o período eleitoral. O asfalto, em sua grande maioria, já não existe mais, foi embora como os empregos que foram para Marabá.

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O horror via internet

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Por José Sarney

Os dois atentados desta semana trágica têm uma advertência: a internet, como toda tecnologia, pode ser usada pelo bem ou pelo mal, para o bem ou para o mal. Assim, temos que ficar atentos aos desafios de evitar, ou frear, essa face.

O caso mais emblemático foi o duplo atentado terrorista da Nova Zelândia. Lá o assassino atingiu duas mesquitas. Preso pela polícia, disse esta monstruosidade: “Não era preciso mirar, eu tinha alvos à vontade.”

Antes de chegar à mesquita de Al Noor, em plena hora das preces, quando cerca de 400 pessoas rezavam, ele parou, olhou para a câmara que o filmava e citou o nome de PewDiePee — um cômico que nada tem a ver com o terror, até há pouco tempo o mais acessado youtuber, pedindo que subscrevessem seu site. Um truque para que a transmissão do crime ao vivo, via Facebook, fosse assistida por mais pessoas.

Dali ele partiu para a primeira etapa do atentado, atirando a esmo entre os fiéis e matando 41 pessoas — um dos muitos feridos morreu depois num hospital. Frio, voltou ao carro e dirigiu até outra mesquita, onde mais sete morreram.

Enquanto isso, na internet, ocorria uma caça de gato e rato: a corrida entre os serviços do Facebook para fechar os links e as reproduções dos atos e sua reação em cadeia, como numa bomba nuclear, logo continuada em outros aplicativos. Mas o papel da internet no atentado não se limitou à exposição. Um manifesto do terror vinculou sua inspiração aos cultos da extrema-direita, citando o nome dos principais sacerdotes dessa religião, já antiga, mas agora renovada, da morte cega.

O assassino usou cinco armas, de pistolas a rifle automático. A Primeira-Ministra da Nova Zelândia foi enfática: as leis sobre armas do país vão se tornar mais rígidas, para aumentar a segurança. A nação do Pacífico é muito pacífica, e os 49 mortos desta trágica sexta-feira bateram, num só dia, seu total anual de homicídios.

Se o número de mortos lá foi maior, a nossa tragédia de Suzano nos fere mais o coração. Esses dois rapazes que também se prepararam frequentando páginas de doutrinação não agiram contra o “inimigo” do outro lado, mas contra os mais próximos de si. O tio que queria que um deles estudasse, os professores que representavam a educação, os colegas de bairro e escola.

Na internet treinaram nos vídeo-games e compraram parte, ao menos, de suas armas. Nós, também, temos que denunciar a facilidade do acesso às armas de fogo, responsável por nos colocar no terrível destaque mundial de país com mais homicídios do mundo.

E, aqui no Maranhão, temos que mudar com urgência nossa política de segurança. Não é possível que nossos números mensais sejam equivalentes ao total anual de mortos da Nova Zelândia.

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Carnaval, sempre carnaval

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Por José Sarney

Eu, que estou em pleno vigor da juventude – e todos os dias os jornais, ao citar meu nome, revelam aos leitores esta minha fraqueza -, fico todo irritado quando ouço essa história de “bom era no meu tempo”, “ah! que saudades do meu tempo” e outros lamentos saudosistas.

Bom mesmo é o tempo de hoje. O tempo bom do meu tempo era o tempo daquele tempo, que não conhecia o tempo futuro. O Padre Vieira, lembrando o que diria 250 anos depois T. S. Eliot, o grande e sempre louvado poeta, falou que “se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, porque o presente é o futuro do passado, e o mesmo presente é o passado do futuro”.

Carnaval então é momento dessas baboseiras, os velhos reclamando das escolas de samba, feéricas, deslumbrantes, despejando alegria pela Avenida, comparando-as com as batalhas de confete e o entrudo, que era a imbecil brincadeira de um sujar o outro. Outros reclamam do cheiro de urina dos foliões apertados pelas latas de cerveja, contrapondo ao cheiro bom do Rodó – a marca de lança perfume mais popular e representativa dos antigos carnavais.

Li que um baiano do Campo Grande, em Salvador, onde a folia é a mais densa daquelas bandas, disse que já estava esperando o cheiro do “descarrego carnavalesco” e passaria esses dias limpando as calçadas e tapando o nariz. Bobagem e hipocrisia porque ele é um privilegiado, não precisa sair de casa para ouvir a bela Ivete Sangalo e os trios elétricos, herança de Dodô e Osmar.

Ora aqueles tempos dos carnavais antigos! Não se via esse desfile puro e esplendoroso das mulatas, loiras, morenas sem vestidos, seios à mostra, além das partes que têm vida própria, pululam e que são vistas quando passam popozudas. Tudo belo, a frente e o atrás. Bendito carnaval do presente, quando ninguém tem de temer nada nesse jogo de Adão e Eva, porque o nosso Ministério da Saúde continua distribuindo camisinhas, com direito a lubrificantes e antissépticos.

Ora bolas para o passado, com aquelas fantasias cafonas, cheias de babados, chapéus de crepom colorido e colares havaianos que, suados, manchavam as roupas. E o mais difícil: homens para um lado e mulheres para outro, só olhares e desejos. Quando muito um aperto de mão acochado e um sarrafo leve de corpo com corpo.

Que diferença louca entre blocos antigos, de canções nostálgicas, e a beleza de Alcione, no seu gingado maranhense, cantando as músicas do Bulcão, do Zé Pereira e do saudoso Nonato Buzar. “Maranhão, meu tesouro, meu torrão”, cantava o Humberto do Maracanã.

Na verdade o cheiro dos suores do passado e o esplendor dos biquínis de hoje são saudades que não morrem. Como são boas! Noutros carnavais e neste carnaval.

Plagiando o Chagas, do Boi da Maioba, vamos “meu povo, guarnecer nosso belo e alegre Carnaval, de novo!”.

Foto: Divulgação/Setur

*Coluna do Sarney

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Entre trancos e barrancos

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Por José Sarney

Alexis de Tocqueville, em sua clássica e famosa obra, “A Democracia Americana”, que já caminha para dois séculos de sua primeira edição (1835), fez a apologia do regime praticado nos Estados Unidos, único no mundo com suas características, até então, e disse de suas grandes e inovadoras virtudes. Tão boas que essas instituições se espalharam no mundo inteiro, inclusive no Brasil, onde a República, sob a inspiração de Rui Barbosa, moldou a Constituição de 1891 com o domínio das ideias civilistas dos direitos individuais e do poder político, síntese de todos os poderes.

Mas Tocqueville fez uma ressalva sobre o modelo americano: a instituição da reeleição. Em duas páginas ele explica porque era um erro e porque a condenava. O Presidente já assumia pensando na sua reeleição e fazia o diabo para alcançá-la — assim ferindo os ideais democráticos.

Eu, quando passou a reeleição no Brasil, era senador e fui contra, preferindo estender o mandato de 4 anos para 6, mas não introduzir a reeleição. Mesmo tendo a época uma filha Governadora, assumi essa atitude tendo na cabeça o livro de Tocqueville e concordando com ele com suas ressalvas.

Só tenho motivos para não me arrepender de minha posição. Veja-se a eleição de domingo próximo, dia 7, que será realizada sob uma nova lei eleitoral, péssima, que até se dá ao luxo de dar quantos centímetros deve ter um cartaz, e introduziu o financiamento público exclusivo. O sonho do legislador e dos Ministros do TSE era baratear as eleições, sendo menor o período eleitoral e evitar que o dinheiro e o governo trucidassem a liberdade democrática. Para lembrar Shakespeare, “Sonho de uma Noite de Verão”.

Nunca vi, em meus 64 anos de política, nenhuma eleição como esta, em que o governo não tivesse nenhum pudor em violar a vontade do povo, com o medo, a perseguição, o terror, o dinheiro e a utilização da máquina estatal. O dinheiro, segundo nos falam, corre altíssimo, em números assombrosos. Para a corrupção, de que fizeram tanto alarde, ninguém ligou. A política judicializou-se e a Justiça politizou-se.

O Brasil está dividido, com ódio e perda total da autoestima. É assim, aos trancos e barrancos, que caminha a democracia, que já foi, no sonho de Péricles e de Jefferson, o caminho para a cidadania e a busca da felicidade.

Para mim, continuo certo de que, com a Constituição de 88 e leis eleitorais como a atual, o país está e ficará cada vez mais INGOVERNÁVEL.

Coluna do Sarney

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Eleição entre o bem e o Bal

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Estamos numa eleição atípica

Sem som e sem trio-elétricos nas ruas, sem muros pintados, sem outdoors, sem camisetas, cartazes só dentro de casa e muitas outras restrições. Também no rádio e na televisão os programas eleitorais foram reduzidos a 35 dias, com uma limitação danada ao que falam os candidatos.

A coisa está de tal modo restrita que até artigos assinados, com as ideias do autor — o que pensa, o que reflete, aquelas ideias que deviam ser protegidas pelo princípio da liberdade de expressão e de opinião (“é livre a manifestação do pensamento”, diz o inciso IV do artigo 5º da Constituição) — são motivo para a Justiça Eleitoral ser acionada. Assim judicializa-se completamente a política, de maneira que a Justiça, por sua vez, fica seduzida a politizar-se.

O certo é que a nova lei não aprofunda a democracia nem valoriza o debate, mas tutela as eleições. Será isto um bem ou um mal? Conheci um fanhinho na feira da rua Bolívar, quando eu era deputado federal e morava nessa rua do Rio, que chamava de Bal o mal.

A lei eleitoral é muito estranha e a única coisa que pesa são as pesquisas, feitas de encomenda e, às vezes, por empresas constituídas somente para efeito publicitário e de propaganda. Basta ver que, aqui no Maranhão, o IBOPE, o maior e mais antigo instituto de pesquisa do Brasil, referência internacional, foi impugnado no TRE, com um pedido para não divulgar os seus resultados, porque uma outra pesquisa, de barriga de aluguel, dava números astronômicos e divergentes.

Mais tarde se descobriu o porquê. Os números eram astronômicos porque a estatística da pesquisa era feita por uma senhora que já estava no céu: depois de um ano na UTI de um hospital, falecera.

Mas isso já não escandaliza ninguém. Depois desse negócio de fake news a mentira passou a ser moeda corrente e é até elegante mentir, pois se faz isso com nome estrangeiro e bonito. O Washington Post de hoje publica um gráfico do receio das fake news, em que o Brasil aparece como campeão do mundo, com 85% de preocupação: parece que eles têm visto os programas do PC do B.

Vejo um programa de um candidato que tem as responsabilidades de governar dizer que ele fez isso e mais aquilo, e tanto fez que até o leão da Receita Federal se descobriu que são os dois leões do Palácio dos Leões.

Já se sabe que foram eles, e não ele, que fizeram falir e fechar as pequenas quitandas e lojas do Maranhão. Foram eles, os leões, que comeram as motocicletas e os carros tomados dos pobres.

Mas as barrigas que encheram não foram as deles, pobres barrigas de bronze.

Enfim, a luta que vemos é entre o bem e o Bal.

Coluna do Sarney

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