90: saudades e esperanças

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Meus olhos se abriram para o mundo às 7,30 horas de uma cinza manhã de abril, de 1930, depois de noite de um parto sofrido — minha mãe primípara, quase uma menina de 18 anos —, numa casa de chão batido, de 55 metros quadrados, na ainda pequena, quase uma vila, Pinheiro, onde tínhamos chegado há trinta dias, terra cercada dos mais belos campos do mundo, de capins verdes e flores amarelas formando um tapete no meio das águas do Pericumã, saídas do seu leito pelo mundão das chuvas do inverno.

Na casa a parteira famosa da terra, a velha negra Mundica de Salu, minha avó Dona, meu avô Adriano, meu pai, e uma menina, Emília, que mais tarde seria minha ama, chamada por mim carinhosamente de Debum.

Deus me deu uma família abençoada, que só me cercou de amor, com os avós que me acalentaram, irmãos, e depois a bondade de permitir constituir o meu ramo, na beleza de uma extraordinária mulher, filhos adoráveis, netos, bisnetos e, para completar minha felicidade, excelentes amigos e parentes.

A felicidade da infância, quando descobrimos o mundo, as pessoas, o apego e o amor da mãe, do pai, dos avós, a mão inocente dos irmãos nas cantigas de roda. Descobrir as cores, o vento, a chuva e pouco a pouco os pássaros que pousavam nos fios do telegrafo a única comunicação com o mundo.

Divido a felicidade desses anos com a minha querida terra de São Bento, onde fui gerado e passei a residir depois dos quatro anos. Ali aprendi a ler e escrever, e encontrei o melhor amigo de minha vida: o livro. Tão grande essa ligação que escrevi sobre tudo.

A política veio depois. Aconteceu. Napoleão dizia que a literatura era uma vocação, a política um destino. As duas me fizeram a vida, junto com o espírito de liderança. Nunca pensei viver 90 anos, num Maranhão que, em 1965, tinha uma expectativa de vida de 29 anos. Tive todos os perigos das doenças que levavam as crianças para o céu — 80% dos que nasciam. Só malária, quatro, além de todas as outras. Fiz a peregrinação pelo interior com meu pai, perseguido e sofrido modesto Promotor Público. Foram Icatu, Caxias, Codó, Coroatá, Balsas. Conheci a luz elétrica aos 12 anos, quando vim fazer o exame de admissão para os Maristas. Morei no pensionato da boníssima Dona Rosilda Penha, na rua de São Pantaleão, na Madre Deus, em frente à Fábrica Santa Amélia, num pequeno quarto alugado, na casa da operária Dona Sérgia, de Dona Guidinha, dos irmãos Candido e Pedro Costa, gente generosa e boa.

Fui contínuo da Polícia Civil, trabalhei no Tribunal de Contas e no Tribunal de Justiça. Tornei-me jornalista profissional ganhando um concurso de reportagem de O Imparcial, onde comecei minha carreira política e literária.

A santidade de minha mãe foi uma ligação que marcou minha vida e até hoje me marca como uma saudade que não passa. Com ela converso e me aconselho todos os dias. Santa Dona Kiola.

Agradeço também a Deus fazer de mim um homem simples — o poder não me modificou em nada —, sem seduções materiais. Dar-me a absoluta impossibilidade de ter ódio, ter fé e atender o único pedido que Ele me fez: perdoar os inimigos. E eu perdoei a todos, eu que uma vez ouvi do Presidente Castelo Branco: “Dr. Sarney, o Senhor é muito bem servido de inimigos.”

Nunca passei por cima de ninguém. Ouvi na minha velhice, já fora do poder, no aeroporto de São Paulo, o elogio que mais me confortou, de um homem dizendo para sua mulher: “O Sarney é um homem bom.”

Deus me deu 90 anos de vida, tantos cargos, fez de mim o político mais longevo da nossa História, 64 anos, receber as maiores condecorações, no grau mais alto, como a Légion d’Honneur e o Grande Colar do Mérito Nacional, me fez membro, hoje decano, da Academia Brasileira de Letras. Escrevi 122 livros, com 173 edições, alguns deles traduzidos em doze línguas. Ele me deu até a graça de uma pequena vaidade. Vaidade de sair de tão longe, das casinhas de Pinheiro e São Bento, e percorrer esse caminho. Graças ao povo do Maranhão, minha paixão, e ao generoso povo do Amapá pela confiança com que sempre me amaram e me elegeram, e que passei amar com todo carinho.

90 Anos! Não tenho saudades da infância, juventude, maturidade. Sinto, como dizia o Padre Vieira, saudades do futuro.

Coluna do Sarney

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Sarney diz que sentimento é de gratidão aos 90 anos

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O ex-presidente da República José Sarney, foi entrevistado nesta sexta-feira (24, no Ponto Final com Jorge Aragão e falou sobre a passagem dos seus 90 anos de vida.

Sarney destacou a morte do morte do jornalista Roberto Fernandes e afirmou que assim que retornar a São Luís visitará o túmulo do ex-apresentado do Ponto Final por 20 anos e que morreu na última terça-feira (21), após complicações da Covid-19.

“Olha, eu agradeço a você, as suas palavras e a sua gentileza, bem como a todos os seus ouvintes. Eu quero fazer a minha primeira manifestação, dizer o quanto eu lamentei, o quanto eu senti, o quanto o Maranhão perdeu, o quanto o jornalismo maranhense perdeu com a morte do Roberto Fernandes. Eu quero dizer que quando voltar a São Luís, uma das primeiras coisas que eu farei é visitar o seu túmulo. Meus pêsames a toda classe do jornalismo maranhense, da mídia impressa e da mídia eletrônica”, disse.

Ao completar 90 anos, José Sarney disse que o sentimento é de gratidão.

“Em primeiro lugar, estou com o sentimento maior de gratidão. Gratidão a Deus que me deu a graça da vida através do meu pai e de minha mãe, à terra onde pude abrir os olhos para o mundo o nosso querido Maranhão e ao Brasil, esse país tão extraordinário e um povo tão bom que eu pertenço, amo e que tive a oportunidade de ajudar na minha vida”.

Sarney disse esperar que Deus pelas mãos dos cientistas encontre o caminho para sairmos da pandemia que estamos vivendo no mundo inteiro.

“Eu lamento o momento que nós atravessamos que realmente é um momento muito difícil e que como eu sou um homem de fé, acredito em Deus, acho que nós vamos sair rapidamente dessa situação para comemorar a vida, porque essa pandemia, ela não ameaça a natureza, não ameaça outra coisa se não o bem mais precioso que Deus colocou na face da terra, que é o homem, a nossa vida, e nós devemos nesse momento esperar que Deus pelas mãos dos cientistas, imediatamente, encontre o caminho para sairmos dessa dificuldade e ao mesmo tempo, quero me solidarizar com todos aqueles familiares que perderam seus entes queridos, já levados por essa pandemia”, afirmou.

Sarney fez um agradecimento ao povo do Maranhão pelas oportunidades e disse que sempre procurou transformar essas oportunidades em ajuda aos maranhenses e brasileiros.

Eu quero agradecer a você e a todos os seus ouvintes, te desejar felicidades também, a todos eles, às suas famílias e que realmente nós ultrapassemos esse momento. E quero, nesses 90 anos, uma vez mais, agradecer ao povo do Maranhão que sempre me cercou de carinho, de amizade, de respeito, de consideração e me deu muitas oportunidades na vida, oportunidades essas, que eu procurei transformar em ajuda ao povo maranhense, ao povo
brasileiro. Muito obrigado a você e a todos os seus ouvintes”, afirmou.

Foto: Reprodução

Ouça a entrevista aqui

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José Sarney celebra 90 anos de vida

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(O texto abaixo foi escrito em 2010, como saudação a José Sarney, em nome da Academia Maranhense de Letras, por delegação de seu presidente, Milson Coutinho. Era a comemoração do octogésimo aniversário natalício de Sarney e dos 58 anos de seu ingresso na Casa de que é ele hoje o Decano. Já agora, na celebração dos 90 anos do Homenageado, parece justo reconhecer que o tempo chancelou mais e maiores razões aos argumentos que o autor apresentava naquela ocasião).

Peço licença ao Maranhão para falar do mais ilustre de seus filhos. Peço licença ao Brasil para falar daquele que tem sido a catálise viva de nossa convivência democrática. Peço licença ao mundo para falar de um predestinado.

“Predestinado – se devo ser claro desde o início – é aquele que, podendo ser primeiro ou último como qualquer mortal, não foi feito jamais para ser segundo.

Não se sabe como nasce um predestinado, assim como se ignora a origem do mundo. O predestinado irrompe das forças do universo, como o trovão, o tufão, o vulcão. É um fenômeno da natureza, antes de ser uma figura da História. A História, no entanto, lhe pertence desde o momento primordial, como um objeto caseiro, um jogo de estimação, um livro de páginas abertas, no qual ele há de escrever o próprio nome tão grande quanto prescrito pelos deuses invisíveis.

O predestinado chega antes, instala-se para ficar, fica para permanecer. O tear do tempo é a sua casa, e os fios das horas lhe descem pelas mãos sem que ele mostre sequer a ponta dos dedos. Manobrando as rédeas do presente, alimenta-se de pão venturo, feito o Guesa sousandradino. Com frequência, sucede de estar onde não está, e muitas vezes o vemos onde ele não se encontra. Ele tem o dom da ubiquidade, como os profetas bíblicos. A sua ontologia é ser transtemporal. Vê-lo em sua passagem é um recado de sobreaviso, pois, como na Receita de Vinicius, se fecharmos os olhos, ele não estará mais presente.

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Noventa anos de glórias do Sampaio

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sampaioA torcida do Sampaio tem motivos de sobra para comemorar os 90 anos de glórias do clube que tem o apelido de Mais Querido do Maranhão. Hoje é dia de festa e todo boliviano tem que festejar a data de hoje como mais uma grande conquista.

O time vive um dos melhores momento da sua história. É o atual campeão brasileiro da Série D e volta a disputar a Série C cheio de esperança no acesso à eleite do futebol brasileiro que é a Série B.

O Sampaio é franco favorito à conquista do título de tetracampeão maranhense e ainda terá pela frente mais uma participação na Copa do Brasil.

Numa data como a de hoje é sempre importante lembrar as grandes conquistas do Sampaio, mas prefiro destacar o desafio que o Mais Querido tem no ano em que completa 90 anos: o acesso à Série B.

Mais do que tudo, este será o maior presente para a torcida Tricolor celebrar um feito dessa importância neste ano histórico. Este é o grande sonho da grande torcida boliviana. Um sonho que não é impossível, afinal o Sampaio é um time grande e precisa pensar como tal.

Salve o Tricolor! Salve o Sampaio!!!

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