O futebol do empirismo
Por Juraci Filho
Cronista esportivo e diretor da Rádio Timbira
No mundo todo, há décadas, a modalidade esportiva futebol, se tornou um produto comercial, capaz de movimentar cifras milionárias em torno do “planeta bola”. Mas infelizmente no Maranhão parece que vivemos na era da paleontologia, pois não há nenhuma preocupação em bem explorar as marcas de clubes e principalmente o target (público-alvo) do nosso futebol que já demonstrou ser fantástico.
O futebol maranhense pereceu, vítima de uma série de fatores, como: decadência anunciada, inércia da entidade mater, conivência acentuada dos clubes, falta de alternância no comando administrativo e até parte da imprensa ficou sem oxigenação. Os métodos obsoletos dessa modalidade estão se perpetuando aqui, no entanto todos aqueles que militam nesse esporte julgam-se “poderosos”, “insuperáveis”, e até se duvidarem “cientistas da bola”, não é por aí; como jornalista esportivo já tive a oportunidade de presenciar várias reuniões do conselho técnico, órgão normativo e deliberativo da F.M.F para elaborar regulamentos, tabelas e fórmulas de disputa dos campeonatos regionais, na maioria das vezes, vi muita brincadeira e pouca discussão centrada e abalizada sobre o futebol, resultado: ninguém ler o regulamento, por conseguinte, no meio das disputas muitas celeumas são criadas.
Enquanto isso, o futebol maranhense que já esteve na 1ª Divisão, e que no final da década de 90 tínhamos o Sampaio Corrêa e o Moto Club na série B, ou seja, 2ª Divisão, o “Papão do Norte” ascendeu primeiro, mas também caiu primeiro e a “Bolívia Querida” que havia conquistado um título inédito, campeão da série C invicto, desabou da segunda para a terceira divisão, fruto de administrações que não lograram êxito. No momento a realidade é dura e difícil, porque estamos numa 4ª Divisão sem saber quando iremos sair dela, em algumas oportunidades, no rádio, cheguei a dizer, quando ainda estávamos na série C, o seguinte: olha, a série C é a “porta de entrada do inferno” e a série D é “o inferno completo”, Foi um aviso!
Os clubes e até a imprensa reclamam da falta de patrocínio da iniciativa privada, porquê quase que semanalmente observamos empresas que nasceram aqui e se expandiram pelo Brasil e o mundo, patrocinar o Madureira – RJ, ABC de Natal, etc. Mas como grandes marcas vão associar seus produtos a marcas desgastadas? Essa é uma reflexão que precisa ser feita, quando uma empresa associa seu produto/serviço a um time de futebol, o mínimo que se quer é a boa visibilidade do clube, quanto mais competições ele vier a disputar e se possível ganhá-las, é melhor o feedback para quem está investindo.
No caso daqui, qual é o time que está evoluindo? Qual é o clube que tem visibilidade nacional? É triste dizer isso, porém é a pura e insofismável realidade do nosso futebol. Daí a resposta para a maioria das portas que se fecham quando vão buscar patrocínios; vocês sabiam que durante alguns anos, a Alumar comprou 500 ingressos em todas as rodadas do campeonato maranhense e pagou adiantado? Não sabiam?… Pois é a Alumar, fui informado, que pediu para não divulgar de jeito nenhum.
É preciso dizer que indubitavelmente em qualquer atividade da vida, a alternância de poder, faz bem: a democracia, a conjuntura administrativa e principalmente ao esporte. O Sr. Carlos Alberto Ferreira vai completar duas décadas e meia a frente desse combalido futebol, sem ter apresentado um projeto desenvolvimentista se quer, nesse tempo todo…
Além desses aspectos, impressiona-me o surgimento de novos dirigentes que poderiam levar uma nova concepção ao futebol maranhense, gente mais disposta, com a mente arejada e moderna, no entanto, eles infelizmente acabam não transformando o meio, mas sim se adaptando ao mesmo. É notório que eles (dirigentes) podem até não comungar com a inércia da Federação Maranhense de Futebol, mas não fazem absolutamente nada para renovar as idéias.
A imprensa esportiva tem uma relação intrínseca com os dirigentes de clubes, por que penso assim? porquê a imprensa atravessa uma crise financeira muito forte, em virtude do futebol maranhense não viver uma fase boa, e nesse contexto é necessário e importante dizer que os dirigentes de clubes são abnegados também, pois metem “a mão no bolso” para bancar elencos, logística e outras coisas mais que a modalidade precisa. Trata-se de uma relação perniciosa, porque esses dois instrumentos de propagação e desenvolvimento do futebol passam a defender interesses próprios e não uma causa comum: o esporte.
A imprensa, não cabe só a função de divulgar, como também é inadmissível que haja um super-clássico: Sampaio x Moto, num domingo, e na segunda-feira se comece um programa esportivo, falando da federação…
Na verdade temos uma imprensa dividida e desunida, o que traduz a perda de força política, como antigamente tinha. Cada emissora de rádio, por exemplo, “atira para uma direção, e acaba acertando o próprio pé”, aí entendo que não estamos dando uma parcela boa de contribuição para que saíamos desse ostracismo; parte dessa imprensa se perdeu no tempo e no espaço, e portanto, necessita de uma boa e oportuna reciclagem. Sobre os dirigentes, o achismo impera nas hostes clubisticas, onde “todo mundo sabe tudo”, todos têm Phd em futebol, e a história do futebol gonçalvino coleciona dirigentes que entraram com força e dinheiro, muito por sinal, e fecharam suas empresas até entrando em colapso.
Esse relato acima serve para mostrar uma dissertação não de um ser que tem verdade absoluta, mas sim explicitar, de forma singela, o quanto o empirismo atrapalha o futebol timbira. Em pleno século 21 não se pode conceber o trabalho seja de uma federação, clubes ou até mesmo a imprensa com achismo, precisamos dar ao futebol um tratamento cientifico.
Alguém sabe dizer se a federação ou clubes já pesquisaram por quê a torcida envelheceu nos estádio? Por que o público nos jogos do camp. Maranhense tem média de 700 torcedores? Em uma cidade de 1 milhão de habitantes, quantos gostam de futebol maranhense? Quantos freqüentam os estádios? Por que não se ver crianças, adolescentes e jovens, em grande escala, nos estádios daqui? E por quê nossos filhos e/ou sobrinhos não vestem as camisas de Moto, Sampaio, MAC, Iape, Imperatriz etc.?
A Federação anunciou três competições para 2011, alguém pesquisou junto à torcida maranhense, se o torcedor quer o campeonato estadual no primeiro ou segundo semestre?
Alguém sabe dizer por quê no futebol do maranhão, as chamadas datas sazonais, ou seja, comemorativas como: dia das mães, dia dos pais, dia da crianças, 21 de abril e 15 de novembro etc.. Não são exploradas no calendário do futebol?
Eu vou tentar responder: não existe no esporte maranhense e principalmente no futebol, o trabalho de marketing, que os dirigentes acham uma enorme besteira ou luxo…
Qualquer empresa que vai se instalar em uma determinada cidade, faz uma pesquisa de campo, quantificação de público-alvo para saber a tendência do mercado consumidor, isso é cientificidade, trabalho profissional, coisa que os nossos dirigentes teimam em desconsiderar. Na hora que os “cartolas” do nosso combalido futebol, entenderem que devem dar ao esporte um tratamento profissional/cientifico/sério e esquecer o amadorismo em suas rotineiras atitudes, vamos melhorar e melhorar muito esses índices cruéis e inconcebíveis dessa modalidade tão popular e apaixonante em nosso estado.