Por Anderson Lindoso
Conhecer a nossa cultura é uma forma de conhecer a nós mesmos. A nossa história, costumes, linguagens, tradição. Assim nos conectamos mais facilmente a outras culturas, aprendemos a preservar o antigo e a construir o novo.
O São João do Maranhão, maior festa popular do estado, nos diferencia e nos une culturalmente. Este ano, infelizmente, não teremos a celebração nos arraiais a céu aberto. Um ano atípico causado pela pandemia do Covid-19. É necessário evitar aglomeração e nos adaptar à nova realidade.
Mas nada impede que possamos nos reunir em torno da memória, do conhecimento, do que há por trás dessa festa tão extraordinária que é o São João do Maranhão, e que muitas vezes nos passa desapercebido quando estamos nos divertindo.
Com saberes passados de geração em geração as festas juninas foram se adaptando à cultura de cada região. Mas é bom saber que bem antes de celebrar os santos católicos elas marcavam em vários pontos da Europa o ciclo das estações e a proximidade das colheitas, quando se acendiam fogueiras pedindo tempos de fartura. “Toda a Europa conheceu essa tradição de acender fogueiras nos lugares altos e mesmo nas planícies, as danças ao redor do fogo, os saltos sobre as chamas, todas as alegrias do convívio e dos anúncios de meses abundantes” (Câmara Cascudo – Dicionário de Folclore Brasileiro).
Uma curiosidade é que inicialmente os festejos no Brasil comemoravam apenas São João. Tradição herdada dos portugueses a festa foi incorporando os outros santos juninos São Pedro e Santo Antônio, e no Maranhão celebramos também São Marçal marcando o encerramento do festejo.
No Maranhão a festa junina é singular. É um dos lugares onde se tem a figura do ‘boi’ como elemento central. É o nosso Bumba meu boi tão rico em múltiplas expressões, ritmos, sotaques e uma narrativa que celebra o ciclo da vida. O boi nasce, é batizado, morre e ressuscita. Sua história atravessou o tempo, se valorizou e hoje é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. “Os grupos de Bumba-meu-boi constituem um vasto e complexo conjunto de características em suas expressões artísticas, estéticas e simbólicas. O folguedo se desenvolve sob inúmeras variantes, apresentando diversos ritmos, danças, instrumentos, músicas, personagens, dramas e indumentárias” (Dossiê Bumba Meu Boi).
Sobre o Bumba meu boi tem muito mais a se falar, que é festejado não só no período junino mas ao longo do ano, dos cinco sotaques (zabumba, matraca, orquestra, baixada e costa-de-mão), do artesanato, do sincretismo religioso, e por ai vai.
Mas o São João do Maranhão é marcado por muitos sons, cores, cheiros, dança, tudo fazendo parte de uma extraordinária alegria e devoção. Outras brincadeiras tradicionais também marcam a festa. Tambor de Crioula, Cacuriá, danças do coco, lelê, caroço, dança portuguesa, quadrilhas e tantas que mostram a riqueza da nossa diversidade.
Durante o mês de junho vou falar um pouco sobre nossa cultura e tradições, nos próximos artigos. Aguardem para juntos reverenciarmos essa grande festa do Maranhão.
*Anderson Lindoso é advogado e secretário de Cultura do Maranhão