Por Felipe Camarão
Nas últimas semanas, acompanhamos o regresso de estudantes às escolas em diferentes partes do mundo: África do Sul, França, Dinamarca, China, Portugal, Austrália, Coreia do Sul, Finlândia, Israel, Noruega e Nova Zelândia, só para citar alguns. Em todos, foram adotados protocolos rígidos, organização de espaços e estratégias como: distanciamento entre as cadeiras na sala de aula, o uso obrigatório de máscaras, lavagem das mãos a cada hora, aulas com horários reduzidos, rodízio de alunos e funcionários, aulas em ambientes externos, medição de temperatura, passagem por cabines de desinfecção, entre outras medidas.
Entretanto, em todas essas experiências, mesmos nos lugares onde a fase mais crítica da pandemia e indicadores epidemiológicos apontaram para a retomada e flexibilização do isolamento social, o que mais nos chama a atenção é o receio da comunidade escolar, dos pais, professores e funcionários com a segurança, neste momento que, efetivamente, requer de nós planejamento e parcimônia, uma vez que, além dos desafios sanitários, temos questões emocionais e psicológicas a serem trabalhadas nos ambientes educativos.
Em toda a história da humanidade, nunca se teve tanta pesquisa e exercício da ciência, debruçados sobre o estudo para combater um vírus ainda desconhecido pelo mundo. No campo da educação, destaco o trabalho primoroso do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (CEIPE/FGV) que, em articulação com organismos internacionais, vem disponibilizando materiais diversos que têm servido para fundamentar o plano de reabertura das escolas que estamos construindo para o Maranhão.
É claro que não podemos aplicar, em nossa rede de ensino, o modelo chinês ou dinamarquês de reabertura das escolas, por exemplo, face às particularidades regionais e diversidades de um estado extenso, territorialmente e plural, aspectos que precisam ser respeitados e considerados, em se tratando do Maranhão. Notadamente, como órgão responsável pela oferta do Ensino Médio e formulador de políticas públicas educacionais, temos estudantes em fase preparatória para admissão no Ensino Superior, porém o principal objetivo, agora, não é o conteúdo e, sim, a vida, a saúde e o bem-estar de todos, mas saliento que não podemos perder de vista nossa missão de educar e assegurar a aprendizagem dos estudantes.
Desde que as aulas presenciais foram suspensas, em março, iniciamos uma série de debates com diferentes entidades representativas, órgãos colegiados, líderes educacionais de todas as redes públicas e privada, no intuito de construirmos estratégias conjuntas, respeitando a autonomia de cada um, no sentido de mitigar e, ao mesmo tempo, enfrentar os impactos na educação, gerados pela pandemia. É por isso que a gestão educacional dialógica segue mais forte, em nosso Estado, neste momento, com uma série de escutas diárias, envolvendo o Ministério Público, Sindicato do Trabalhadores em Educação, Conselhos, Fórum Estadual de Educação, representantes das redes de ensino e autoridades sanitárias e da saúde, que estão resultando – sem gerundismo, mas em prática – na elaboração de três protocolos primordiais: sanitário, pedagógico e operacional, para adoção, nos ambientes educativos, incluindo a criação da Comissão de Prevenção de Agravos, em todas as instituições de ensino, que deverá ser composta por membros das comunidades escolares e de saúde locais, com foco no monitoramento e execução desses protocolos instituídos.
Como cristão e ávido leitor da Bíblia, sei que buscar e acatar conselhos são armas para vencer uma guerra, conforme destaca o provérbio 24.6: “Porque com conselhos prudentes tu podes fazer a guerra; e há vitória na multidão de conselheiros.” É por isso que o governo Flávio Dino tem tomado decisões a partir de avaliações periódicas, baseadas em evidências científicas e conselhos das autoridades sanitárias, com bom senso, consciência e segurança.
Mesmo sem data definida para a retomada das aulas presenciais nas escolas, é indicativo que voltemos no início do segundo semestre e, portanto, o Maranhão segue na construção de seu planejamento, pensando em vidas, em um recomeço acolhedor e de solidariedade, aspectos que são atinentes à função social do espaço escolar.
Como educadores, é hora de unirmos forças, sem pessimismo, mas de forma combativa e com fé, pensando em um regresso que preserve a vida e que cada um de nós exerça sua missão, constituída de responsabilidade social e referência para nossos estudantes.
A pandemia vai passar, mas deixará para a sociedade, para o ser humano e para a educação, em especial, um legado de ressignificação da escola, como um ambiente de solidariedade, sem deixar ninguém para trás, pelo contrário, que seja cada vez mais de inclusão e de valorização da dignidade humana. E que, assim, olhemos para o nosso regresso!
*Felipe Camarão é professor, secretário de Estado da Educação e membro da Academia Ludovicense de Letras e Sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão