Por Alexandre Vale
Não havia me manifestado antes porque diante da dor e da perda irreparáveis é necessário o silêncio reverente. O absurdo do instante em que a realidade se impõe de forma lancinante pela constatação de que a ausência física de um ser precioso será definitiva requer tempo para sua aceitação.
Ainda agora hesito em tornar público o intenso impacto que sua morte me causou. Menos pela insegurança de admitir certos sentimentos, hoje vistos como sinal de fragilidade, que pela habitual torpeza; quando o que mais se precisa é de compaixão e de solidariedade. Mas estou disposto a correr esse risco, inspirado na coragem e na dignidade que sempre estiveram presentes em suas atitudes.
Dizer que perdi um amigo seria desonesto. Não tinha com você a intimidade e a cumplicidade indispensáveis para qualificar nossa relação de amizade. Seu amigo, por exemplo, era o Zeca Soares, pessoa de nosso mútuo convívio, por mais que os caminhos da vida tenham me afastado um pouco de Zeca também.
Mas posso dizer e quero que todos saibam, que perdi alguém por quem tinha um profundo respeito; uma admiração incondicional e desinteressada; no qual encontrei uma referência de conduta profissional técnica e eticamente irretocáveis; cujas ações traduziam generosidade apenas menor que o imenso bom-humor e alegria com que você nos inundava com a sua presença sempre desejada.
Sei que as tintas com as quais pinto a imagem que de você trarei na memória têm a marca das minhas imperfeições perceptivas. Mas longe de mim idealizá-lo, mitificá-lo, criar um ícone ou erigir uma fênix em meio à tragédia que nos alcançou de forma brutal e inesperada. Jamais! Isto seria vil e indigno.
A exemplo da sentença de Ortega y Gasset, você foi você e suas circunstâncias, num diário e permanente diálogo: nem sempre fácil, nem sempre simples, talvez árduo, quem sabe até angustiante, mas que ao final o tornaram a pessoa na qual todos reconhecemos um maravilhoso ser humano.
Você partiu. Por enquanto fica em nós a dor da ausência e o nobre silêncio com o qual cada um de nós dá a essa dor o seu significado. É necessário que isso aconteça para que a presente angústia se processe.
Contudo, insisto em lembrar que você cultivava e celebrava os valores da vida: nessa e em outras dimensões. Diante desse fato que era o cerne de sua essência, o melhor a fazer talvez seja conseguir manifestar em atitudes concretas por nossos semelhantes o mesmo amor pela vida com o qual você marcou a sua existência. Quem sabe assim conseguiremos honrar a sua memória.
*Alexandre Antonio Vieira Vale é auditor de Controle Externo do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão e especialista em Gestão Pública.