José Sarney celebra 90 anos de vida
(O texto abaixo foi escrito em 2010, como saudação a José Sarney, em nome da Academia Maranhense de Letras, por delegação de seu presidente, Milson Coutinho. Era a comemoração do octogésimo aniversário natalício de Sarney e dos 58 anos de seu ingresso na Casa de que é ele hoje o Decano. Já agora, na celebração dos 90 anos do Homenageado, parece justo reconhecer que o tempo chancelou mais e maiores razões aos argumentos que o autor apresentava naquela ocasião).
Peço licença ao Maranhão para falar do mais ilustre de seus filhos. Peço licença ao Brasil para falar daquele que tem sido a catálise viva de nossa convivência democrática. Peço licença ao mundo para falar de um predestinado.
“Predestinado – se devo ser claro desde o início – é aquele que, podendo ser primeiro ou último como qualquer mortal, não foi feito jamais para ser segundo.
Não se sabe como nasce um predestinado, assim como se ignora a origem do mundo. O predestinado irrompe das forças do universo, como o trovão, o tufão, o vulcão. É um fenômeno da natureza, antes de ser uma figura da História. A História, no entanto, lhe pertence desde o momento primordial, como um objeto caseiro, um jogo de estimação, um livro de páginas abertas, no qual ele há de escrever o próprio nome tão grande quanto prescrito pelos deuses invisíveis.
O predestinado chega antes, instala-se para ficar, fica para permanecer. O tear do tempo é a sua casa, e os fios das horas lhe descem pelas mãos sem que ele mostre sequer a ponta dos dedos. Manobrando as rédeas do presente, alimenta-se de pão venturo, feito o Guesa sousandradino. Com frequência, sucede de estar onde não está, e muitas vezes o vemos onde ele não se encontra. Ele tem o dom da ubiquidade, como os profetas bíblicos. A sua ontologia é ser transtemporal. Vê-lo em sua passagem é um recado de sobreaviso, pois, como na Receita de Vinicius, se fecharmos os olhos, ele não estará mais presente.
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