Por Adriano Sarney
A cultura é a essência de um povo. Preservá-la é uma missão para pessoas responsáveis; aqueles que colocam os valores culturais acima de seus interesses pessoais. Os blocos tradicionais de São Luís nasceram no carnaval de 1920, depois de exatos 100 anos, seus resistentes foliões não aguentam mais tanto desprezo da prefeitura de nossa capital. Para preservar uma das manifestações mais legítimas de nossa cidade, resolvi me unir à iniciativa da Academia dos Blocos Tradicionais e da Associação de Blocos Carnavalescos. Criamos este ano um circuito alternativo no bairro do Monte Castelo cujo objetivo é valorizar verdadeiramente as raízes sem curvamo-nos à plágios do Carnaval de outros estados. Queremos ser “reconhecidos pela resistência de não abrirmos mão da nossa tradição”.
Este ano, a maioria dos blocos tradicionais resolveu não participar do circuito oficial da prefeitura após tomar conhecimento da alteração da escolha dos jurados, do escasso apoio financeiro e do histórico atraso no cumprimento dos compromissos após o carnaval. Segundo os brincantes, o processo antes em vigor era mais democrático, pois quem escolhiam os jurados eram os grupos participantes e suas entidades representativas. Eles tinham o poder de organizar os critérios, a seleção dos jurados e impugnar pessoas suspeitas. Com as mudanças, um instituto administrará todo o processo de escolha da agremiação campeã do Carnaval pelo grupo A. Os vinte blocos que rejeitaram desfilar na passarela da prefeitura e que vão se apresentar no sábado no circuito alternativo do Monte Castelo consideram que esse novo modelo pode favorecer a escolha do vencedor.
Os blocos resistentes questionam, também, o apoio financeiro que a prefeitura disponibilizou para cada grupo desfilar na Passarela do Samba. Segundo seus organizadores, o valor cobre apenas 15% dos custos de uma agremiação. E o que é pior, esse montante seria dividido em 03 parcelas, com pagamentos feitos após o período do Carnaval. Pela experiência de muitos deles, o atraso no cumprimento das parcelas em aberto após os desfiles é recorrente, o que aumenta ainda mais as complicações financeiras encaradas por esses grupos há anos.
Junto com os brincantes, a população e os comerciantes, decidimos apoiar os blocos tradicionais que tiveram a coragem de protestar ao não aceitarem desfilar no circuito oficial da prefeitura. O suporte financeiro insuficiente, e ainda em parcelas humilhantes, e a alteração no processo de seleção dos campeões foram a gota d’água. Preferimos junto com a sociedade civil organizada buscar uma alternativa à estrutura da máquina, mesmo sem os recursos suficientes, para mostrar que nossa cultura não pode ser tratada como uma política pública secundária ou utilizada para atender interesses pessoais ou políticos.
Cultura deve ser prioridade em qualquer governo, de qualquer bandeira ou ideologia, pois ela pertence a cada um de nós independente das nossas diferenças.