Por Adriano Sarney
Nos sete artigos que escrevi sobre preconceito de gênero, raça, opção sexual, portador do vírus HIV e pessoa com deficiência, as soluções para combater esse mal eram sempre as mesmas: educar, conscientizar, falar sobre o assunto, romper com o silêncio. Escrever sobre esse assunto tão polêmico que envolve convicções fundamentadas em crenças, superstições e cismas construídas e transmitidas de geração em geração, é colocar o dedo na ferida da sociedade. Ainda mais por se tratar de algo velado, íntimo, pessoal e, certas vezes, coletivo quando externado abertamente na mesa de jantar de uma família ou em uma roda de amigos.
Aprendemos que o preconceito, por se tratar de uma crença individual, não é necessariamente discriminação. O preconceituoso só poderá ser acusado de discriminação caso exerça uma ação contra sua vítima – o agrida ou lhe negue uma oportunidade de emprego, por exemplo. Uma vez provada a discriminação, a legislação brasileira tem mecanismos para punir o agressor, como a Lei do Feminicídio, Lei Maria da Penha, Lei CAÓ (racismo), Lei 12.984/14 (pessoas portadoras de HIV) e a recente criminalização de atos homofóbicos aprovada pelo STF. Já o preconceito sem um ato concreto de discriminação é impossível ser provado, jamais saberemos o que se passa na cabeça de um indivíduo. Ele se manifesta de forma velada e é disseminado em casa, na escola, no trabalho, fora do alcance da vítima.
Como o preconceito está em todos os lugares, muitas vezes o preconceituoso é vítima do mesmo problema. Uma pessoa que tem um julgamento estereotipado contra homossexuais, negros e/ou mulheres, pode também sofrer com o preconceito de outros que o julgam simplesmente por ser gordo, nordestino e/ou desempregado. Essa contradição é recorrente sem ao menos as pessoas se tocarem de que todos sofrem com a mesma problemática; as cismas que viraram rotina no dia a dia da maioria. Essa é a dimensão do processo que encaramos. Mas, assim como as pessoas “aprendem” e se condicionam a fazer prejulgamentos, podem também aprender à deixa-los de mão.
É preciso desconstruir as ideias equivocadas nos vários tipos de preconceitos que estão arraigadas em nossa sociedade. A Constituição brasileira adota o princípio da dignidade humana, e afirma como objetivo fundamental, entre outros, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. No entanto, mais do que leis, é necessária educação para o reconhecimento das diferenças e conscientização sobre a igualdade das pessoas. Somos todos iguais. Falar sobre o assunto é a melhor forma de conscientizar e educar as pessoas sobre os malefícios do preconceito. A falta de diálogo e o estigma em falar do assunto nas famílias e nas escolas também é um risco para o aumento da disseminação de convicções racistas, machistas, homofóbicas, em suma, intolerantes.
O preconceito está entre nós, é rotineiro e difícil de combater. O primeiro passo é ter a consciência de que ele existe em diversas formas. Esse foi o intuito da série de artigos sobre o tema que finaliza com este texto. A semente foi plantada, agora, para aqueles que, assim como eu, consideram qualquer tipo de preconceito um mal a ser vencido, vamos incentivar a participação de todos no debate. É preciso falar sobre isso!
Foto: Kristiano Simas / Agência Assembleia
Parabéns pelos artigos. O preconceito ainda é encoberto no Brasil. As pessoas têm vergonha de se reconhecer como preconceituosas ou racistas. Porém, suas ações demonstram que elas veem no outro um estranho, que é perigoso em potencial. É necessário conscientizar a população de que o preconceito existe e deve acabar. Porque quando o problema não é reconhecido, ele não é tratado, ou é tratado com muita dificuldade.