Por José Sarney
Celebramos no dia 1º de julho o 25 anos do real, a moeda criada pelo bem-sucedido plano para baixar a inflação brasileira a níveis que permitem aos agentes econômicos a previsibilidade orçamentária, pilar da economia de mercado.
Quando, em 1985, assumi a presidência da República, herdei uma forte inflação, provocada, em grande parte, pela combinação de preços do petróleo, descontrole da dívida externa e conjuntura das taxas internacionais Libor e prime rate — que se mantiveram muito altas no meu governo, chegando a 9,3 e 10,9 (naqueles anos, descontada a inflação, as taxas chegaram a ser negativas para o mundo industrial).
A solução do FMI era a recessão econômica, que tinha um preço social impagável, a refletir-se, sobretudo, no nível de emprego. Nada se compara à angústia de quem não pode suprir as necessidades de sua família e, tendo disposição para trabalhar, não encontra oportunidade — e volto a lembrar o drama dos 42 milhões de trabalhadores que hoje ou estão procurando emprego sem encontrar ou desistiram de procurar ou trabalham no mercado informal sem qualquer garantia e, impossibilitados de contribuir para a Previdência, veem o anúncio de sua falência.
Não aceitei este caminho. Com João Sayad, resolvemos examinar o caminho heterodoxo de Israel. Para lá enviamos Pérsio Arida, e ele, com André Lara Resende e Francisco Lopes, formulou o esboço do que seria o Plano Cruzado.
Quando me expuseram o plano, disseram ter dúvidas que algum presidente tivesse coragem de decretar congelamento de preços. Eu tive a coragem de adotar todo o Plano Cruzado, inclusive os ajustes salariais que pensavam necessários para enfrentar o lado recessivo do plano.
O plano introduziu no País a participação da sociedade na vida pública, que começou com os “fiscais do Sarney”. O crescimento econômico foi de 119% naqueles cinco anos, só igualado no governo Lula. A inflação, que só atingiu o pico depois do meu governo, era compensada pela correção monetária, de modo que, para os assalariados, o efeito inflacionário era muito menor. O desemprego atingiu a menor taxa de nossa História, e os trabalhadores tiveram, finalmente, acesso à sociedade de consumo.
A mesma equipe fez o Plano Cruzado e o Plano Real, valendo-se da experiência do primeiro para acertar no segundo. A coragem de fazer o Plano Cruzado, primeira experiência de solução heterodoxa da inflação, permitiu o Real. Parabéns a Fernando Henrique, a cuja persistência deve-se o sucesso do Plano Real, e a Itamar, que o viabilizou.
Devemos ressaltar ainda dois homens decisivos: Rubens Ricúpero, mártir do Real, atingido por afirmação óbvia e menor de que não devemos divulgar nossos males, e Bill Clinton, amigo de FHC, que num momento de crise de 98 ajudou injetando 70 bilhões de dólares em nosso País.
Já lhes falei da recomendação do provérbio chinês de que, se você vai beber água num poço, deve pensar em quem abriu o poço.
Ao comemorarmos os 25 anos do Real, tão importante para o País, lembremos o Plano Cruzado.
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