Estamos oficialmente no Carnaval. Um evento que, para os mais atentos, transcende o status de uma simples festa. O reinado de Momo, quando é bem administrado, quando é fruto de uma política de cultura responsável e comprometida com o desenvolvimento da cidade, traz como consequência muitos benefícios como geração de emprego e renda, atração de investimentos em infraestrutura, fortalecimento do setor de turismo e, claro, felicidade para a população.
Este seria o cenário ideal. Entretanto, passei os últimos tempos pesquisando e avaliando a folia em nossa capital para chegar à conclusão insalubre de que, aos poucos, ele está sendo abandonado pela Prefeitura de São Luís.
Provavelmente São Luís viveu seu último Carnaval sob apoio intenso e participativo da Prefeitura de São Luís ainda em 2012. De lá para cá, com a eleição de Edivaldo Holanda Jr, o que se viu foi a decadência de uma de nossas maiores manifestações populares. Declínio causado pelo total desinteresse do prefeito.
Alguns dizem que sua escolha pelo abandono se dá por razões religiosas. Acredito que, pelo menos pessoalmente, o prefeito tem o direito de não gostar do Carnaval. No entanto, como homem público ele não poderia eximir a Prefeitura de suas obrigações.
Aliás, a falta de empenho da Prefeitura em patrocinar o Carnaval contrasta com gastos milionários. Eu e minha equipe tentamos na última semana saber quanto gasta a Prefeitura no Carnaval. Para nossa surpresa descobrimos que são consumidos mais de R$ 4 milhões, de uma previsão de R$ 15 milhões anuais, pela Secretaria de Cultura no período carnavalesco.
Infelizmente não se tem como saber se esse dinheiro está sendo gasto na festa ou abastecendo contas de interesses diversos, pois o Portal da Transparência da Prefeitura de São Luís é ineficiente.
Trocando em miúdos: Ao cidadão não é permitido saber onde estão sendo gastos os recursos públicos. Não podemos saber com clareza os gastos com aluguel de estrutura de palco, luz e som. Nem tampouco quanto cada brincadeira está recebendo e muito menos quanto é designado ao custeio de eventos. Talvez esse seja o maior despautério administrativo de São Luís em toda sua história. Pretendo acionar o Ministério Público para que esse descalabro seja investigado.
Voltando ao Carnaval. A festa não pode ser penalizada pela ineficiência de nossos gestores. Ele não apenas poderia, mas deveria ser prioridade no calendário da Prefeitura de São Luís. É preciso ter em mente que uma festa bem organizada, limpa e segura é obrigação do poder público para com os moradores de São Luís
Proporcionar uma festa democrática e atrativa é questão de obrigação. E isso poderia ser feito descentralizando os blocos de rua. Com o crescimento de São Luís, a ideia de manter um único circuito está ultrapassada. A folia deve ser incentivada não em apenas um bairro, mas nos quatro cantos da cidade.
Resgatar o glamour dos festejos tradicionais no Centro Histórico com mais investimentos para as manifestações culturais e, principalmente, a discussão de uma política municipal de cultura com todos os segmentos da sociedade também se faz necessário.
A próxima gestão deve repensar o Carnaval, estabelecendo diálogo aberto e franco com todas as manifestações, incluindo, o Conselho Municipal de Cultura, avançando para um modelo sócio economicamente sustentável.
Prefeitura e Carnaval devem combinar, não destoar.
*Adriano Sarney é deputado estadual, economista com pós-graduação pela Université Paris (Sorbone, França) e em Gestão pela Universidade Harvard.