Especial: O Maranhão na ‘Rota das Emoções’

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De noite, da calmaria em um barco no Rio Preguiças, a única luz que se vê é a da Lua. De dia, é o céu azul que ilumina as águas. Mas ele fica vermelho quando tem revoada de guará no Delta do Parnaíba. E muda para laranja no pôr do sol atrás da Pedra Furada, no Parque Nacional de Jericoacoara.

Momentos únicos de comunhão com a natureza são a maior aposta da Rota das Emoções, roteiro turístico que passa por três estados limítrofes no Nordeste brasileiro: Maranhão, Piauí e Ceará. O chamariz são as promessas de sol, esportes de aventura (para quem quiser) e claro, as belezas naturais dos Lençóis, no Maranhão; do Delta do Parnaíba, no Piauí; e de Jericoacoara, no Ceará. Mas não é só.

A rota criada em 2005 por Sebrae, empresários e governos locais se expande. Inclui hoje ao menos 14 municípios, em uns 500 quilômetros de uma ponta à outra. O turista pode fazer o roteiro completo ou escolher partes do caminho — agências de turismo organizam os pacotes. Para aproveitar, a recomendação é reservar ao menos oito dias para a viagem. Algumas agências sugerem até 15 dias. O custo gira em torno de R$ 3 mil por pessoa, para oito dias, fora passagens de chegada a uma ponta e volta de outra. Não é uma viagem barata. Mas é acessível, com diferentes tipos de pacotes, hotéis e restaurantes pelo caminho. E vistas que só existem no Brasil.

Uma dica: embora não faltem atrativos na região o ano todo, a partir de junho geralmente as lagoas estão mais cheias, e o tempo, mais aberto, fora da temporada de chuvas.

Como os estados são vizinhos, os deslocamentos entre eles na Rota das Emoções costumam ser por terra, e esse é um charme do roteiro. Atravessar as fronteiras olhando pela janela do carro mergulha o turista na cultura local. Ajuda a se conectar melhor com a paisagem, ver o povo, provar os sabores, sentir as semelhanças de um lugar para outro — e as diferenças também. Haja emoção.

O Maranhão é o início da Rota das Emoções. Ou o fim, para quem começa no Ceará. Não há ordem definida. Mas muita gente prefere seguir da esquerda para a direita no alto do nosso mapa. Assim, o roteiro pode começar no Maranhão, cruzar o litoral piauiense, terminando no Ceará. Fica a gosto do turista…

O ponto de partida mais usual é Barreirinhas, nos Lençóis Maranhenses. Se houver tempo, na verdade vale começar a viagem desde São Luís, a capital. Um passeio pelo Centro Histórico para ver os azulejos que decoram as fachadas dos casarões e um almoço com peixe e arroz de cuxá — uma comida típica da região com folha de vinagreira, camarão seco, gengibre, farinha de mandioca seca e pimenta-de-cheiro — são imperdíveis.

Barreirinhas fica a cerca de quatro horas de carro de São Luís. É a base mais conhecida para entrada no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e seus 155 mil hectares de dunas de areia branca. A cidade não para de crescer e concentra várias opções de hotéis e pousadas. As cidades de Santo Amaro, Paulino Neves e Tutoia, mais rústicas e na mesma região dos Lençóis, também fazem parte da Rota das Emoções.

Os destaques são as lagoas, que aparecem como oásis nesse deserto brasileiro. As águas azuis cristalinas, alimentadas pelas chuvas e por lençóis freáticos, fazem a alegria dos turistas depois de uma longa caminhada de sobe e desce pelas dunas. Carros particulares não entram no parque. Apenas caminhonetes 4×4, as chamadas jardineiras, conseguem encarar o trajeto. Ainda assim, só em pontos determinados do parque, que é considerado unidade de conservação federal.

Em Barreirinhas, um dos passeios mais procurados é o circuito da Lagoa Azul, que inclui paradas em outras lagoas no caminho: Lagoa da Preguiça, Lagoa da Esmeralda, Lagoa Azul e a Lagoa do Peixe (passeio em média a R$ 80 por pessoa). Vale ficar para o pôr do sol. No fim da tarde, a luz e o vento fazem a areia parecer fumaça levantando da duna. Mas é miragem: o pé pisa no chão fresquinho.

Para quem busca algo mais rústico, a viagem continua para Atins, uma vila de ruas de areia fofa, sinal oscilante de wi-fi de dia e estrelas abundantes à noite. A vila faz parte do município de Barreirinhas e fica a umas três horas de lancha voadeira — com algumas paradas — pelas águas tranquilas do Rio Preguiças.

A ida a Atins já é um passeio. A vegetação é abundante nas margens do rio. No caminho há muitas árvores de buriti, bastante usadas no artesanato local e no revestimento de tetos e construções, pela força de suas fibras. Também se veem igarapés, mangue e animais como garças e maçaricos.

A primeira parada é no povoado de Vassouras, com suas dunas e água de coco na região de Pequenos Lençóis. Cuidado com os macacos, sempre atentos — e ágeis! — a algum turista desavisado que traz comida na bolsa.

Mais adiante está o vilarejo de pescadores de Mandacaru. O atrativo é o farol de onde se avistam dunas, a mata e a foz do Preguiças, num bonito encontro do rio com o mar. A subida de 160 degraus compensa. Há lojas de artesanato e, no cais, vendem-se peixes e a tradicional garrafada, feita com álcool e ervas.

Cuidado para não abusar, porque o barco ainda segue até o Caburé, um braço de dunas com uma praia extensa e passeios de quadriciclo (a diária do veículo sai a R$ 380). Aproveite para almoçar camarão na Cabana do Peixe, que pertence a uma gaúcha que se apaixonou por um maranhense — e nunca mais saiu do Maranhão.

O passeio completo de lancha até Atins custa cerca de R$ 100 por pessoa. A chegada já antecipa a simplicidade: não há cais ao atracar o barco. Há poucas casas, hotéis, quase nada de tecnologia. O melhor transporte é um 4×4 ou um quadriciclo mesmo.

Mas as obras são cada vez mais constantes na paisagem, e a oferta de restaurantes e hospedagem, muitos liderados por estrangeiros, só cresce. O sucesso, ironicamente, pode ameaçar o ar intocado que dá fama a Atins.

A vila tem outra entrada para o Parque Nacional dos Lençóis. De novo a vista se encanta com as lagoas azuis. São várias, cravejadas como diamantes na areia. E as dunas nunca são iguais: o vento move uns 20 metros de areia por ano. A paisagem de um ano não se repete no ano seguinte. Para o pôr do sol, uma dica é a Lagoa do Gavião. Com sorte, no fim da tarde ainda é possível ver o animal que dá nome ao lugar. Carcarás, ou gaviões-de-queimada, passam por ali.

Na volta do parque, quando a fome bater, vale uma parada no restaurante Canto de Atins, do Antônio. Os pratos de camarão e peixe grelhados, a R$ 80 cada, são os destaques.

Na volta para a vila de Atins, de barriga cheia, esqueça o sacolejo da caminhonete e olhe para cima. Pode ter chuva de estrelas.

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