Morreu, na madrugada desta sexta-feira (26), o aposentado Raimundo Borges no Hospital Socorrão 2, em São Luís. Ele era morador da cidade de Pinheiro e dependia do tratamento de hemodiálise na capital do Maranhão, distante 341 quilômetros de onde ele vivia. Desde 2017 Raimundo falava que estava cansado do sofrimento pra conseguir se tratar. Veja a reportagem de Alex Barbosa.
“Você não descansa nada e no dia seguinte já tem que voltar novamente. É uma maratona mesmo, mas a gente tem que lutar pela vida”, afirmou o aposentado no ano passado.
Durante três anos, Raimundo e outros pacientes faziam uma jornada até uma clínica em São Luís para fazer hemodiálise três vezes por semana. A viagem de Pinheiro até a capital dura até dez horas por dia dentro de uma van.
O trajeto inclui um viagem de ferry boat de quase uma hora e meia, em que a van tem que ficar desligada e os pacientes sem ar-condicionado no interior do veículo. Como resultado, os pacientes chegam à clínica exaustos. As longas viagens também contribuíram para que Raimundo ficasse cada vez mais debilitado.
Segundo o nefrologista Alex do Vale, o tratamento de hemodiálise deveria dar mais qualidade de vida para pacientes renais crônicos enquanto aguardam transplante de rim. Mas após as sessões – que duram três horas em uma máquina – os pacientes deveriam manter pelo menos algumas horas de repouso.
“É essencial isso para ter adequação dos níveis de pressão, batimento cardíaco… então o paciente que não tem esse tempo de repouso e já tem uma maratona para viagens de deslocamento longo, ele vai ter uma perda na qualidade do tratamento e uma diminuição da expectativa de vida”, explicou o médico.
Em Pinheiro deveria ter uma clínica de hemodiálise funcionando desde 2015, mas as obras estão a passos lentos, assim como as outras clínicas que também já deveriam ter sido inauguradas em outras seis cidades do Maranhão.
Em 2014, sete milhões e meio de reais foram liberados para essas obras. Em Chapadinha, localizado a 247 Km de São Luís, as obras não começaram, apesar dos quase dois milhões e meio de reais liberados.
O problema das longas viagens enfrentadas pelos pacientes que precisam fazer hemodiálise no Maranhão vem sendo acompanhado desde agosto de 2016, quando o Jornal Nacional apresentou a matéria sobre a realidade dos pacientes que acordavam às 4h da manhã e viajavam 500 quilômetros de Chapadinha até São Luís para conseguir fazer o tratamento, três vezes por semana.
Na época, o Governo do Maranhão anunciou, sem informar prazo para conclusão das obras, que construiria uma unidade de hemodiálise na cidade e em mais cinco municípios. Até hoje o centro não ficou pronto.
Um mês depois, o Jornal Nacional mostrou que, em 2014, quase R$ 1 milhão foram liberados para a obra do centro de hemodiálise de Chapadinha, mas no local haviam apenas alguns materiais de construção desgastando com o tempo.
Em maio de 2017, mesmo com uma portaria do Ministério da Saúde que determinava a implantação de centros de hemodiálise no estado, o Ministério Público do Maranhão acionou a Justiça para cobrar agilidade na entrega dos centros. Já em Janeiro deste ano, o JMTV mostrou famílias que tiveram que se mudar para São Luís para fazer o tratamento, mesmo sem condições financeiras.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que realizou convênios com um município do Piauí e com uma empresa privada para atender pacientes e passou a gerenciar centros de hemodiálise no interior do Maranhão. Veja a nota na íntegra.
“A Secretaria de Estado da Saúde (SES) lamenta as mortes e reitera o compromisso com os pacientes do Maranhão, por meio da ampliação da oferta do serviço de hemodiálise. A SES esclarece que, entre 2015 e 2017, realizou convênios com o município de Floriano (Piauí) e empresa privada para atendimento aos pacientes da região de Açailândia, além disso implementou o terceiro turno do setor de hemodiálise do Hospital Carlos Macieira, em São Luís, e passou a gerenciar os centros de hemodiálise de Caxias e Bacabal. Sobre os novos centros, a Secretaria informa que o contrato com a empresa responsável pela obra é anterior à atual gestão, cuja execução do projeto depende, exclusivamente, de material e de mão de obra importados do Rio Grande do Sul.
A Secretaria comunica que o atraso das obras se deve, principalmente, à inadequação do serviço realizado pela empresa às regulamentações da Anvisa. A Secretaria comunica que, após nova reunião com a empresa no mês de dezembro de 2017, os novos centros passam por readequação.
Por fim, a SES informa que apesar da falta de avanços na descentralização dos serviços de hemodiálise no Maranhão, entre 2012 e 2014, a atual gestão tem adotado todas as medidas legais para garantir a entrega de novas unidades em diferentes regiões do estado, que fortalecerão a rede de atendimento formada, atualmente, por 12 centros localizados na capital e em outras seis cidades do interior do Maranhão”