Por Roberto Rocha
Soube agora que o governador Flávio Dino mandou soltar um ou dois de seus pistoleiros dos teclados, também chamados de blogueiros, para atacar meu saudoso Pai, com o objetivo de me arrastar para o esgoto da Lava Jato onde ele está atolado até o pescoço.
Meu Pai não está mais aqui para se defender, como, graças à Deus, está o Pai do governador Flávio Dino, que eu jamais agredirei, muito menos através de terceiros desqualificados.
Por isso, aqui vai minha resposta, já que não sou covarde para dizer o que quero através de fantoches de aluguel.
Meu Pai foi candidato ao governo do estado do Maranhão no início da década de 80, portanto muito distante dos dias e das leis atuais.
Naquela época ninguém era acusado do que Flávio Dino está sendo acusado hoje.
Segundo seu próprio irmão, o Procurador da República Nicolau Dino, que se declara completamente diferente dele, caixa dois atualmente é crime de corrupção.
Portanto, cabe a Flávio Dino provar que não é mais um desses corruptos que o Brasil descobre pelo esgotos da Lava Jato.
Padre Vieira, em São Luís do Maranhão, no sermão em homenagem à festa de Santo Antônio, em 1654, indagava: “O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção?”
Segundo Frei Beto, havia duas causas principais: a contradição de quem deveria salgar e a incredulidade do povo diante de tantos atos que não correspondiam às palavras.
O corrupto caracteriza-se por não se admitir como tal. Esperto, age movido pela ambição de dinheiro. Não é propriamente um ladrão. Antes, trata-se de um requintado chantagista, desses de conversa frouxa, sorriso amável, salamaleques gentis.
O corrupto não se expõe; extorque. Considera a comissão um direito; a porcentagem, pagamento por seus serviços; o desvio, forma de apropriar-se do que lhe pertence. Bobos são aqueles que fazem tráfico de influência sem tirar proveito.
Há muitos tipos de corruptos.
O corrupto oficial é aquele que se vale de uma função pública, como deputado federal por exemplo, para tirar proveitos a si, à família e aos amigos. Troca a placa do carro, embarca a mulher com passagem cuesteada pelo erário, faz gastos e obriga o contribuinte a pagar. Considera natural o superfaturamento, a ausência de licitação, a concorrência com cartas marcadas.
A lógica do corrupto é corrupta: “Se não faço, outro leva vantagem em meu lugar”. Seu único temor é ser apanhado em flagrante delito. Não se envergonha de se olhar no espelho, apenas teme ver seu nome estampado nos jornais. Confiante, jamais imagina o filho a indagar-lhe: “Papai, é verdade que você é corrupto?”
O corrupto não sente nenhum escrúpulo em receber caixas de uísque no Natal, caixas de cervejas Heineken, presentes caros de fornecedores ou andar de carona em jatinhos de empreiteiras, como a Odebrecht. Afrouxam-lhe com agrados e, assim, ele afrouxa a burocracia que retém as verbas públicas.
Há o corrupto privado. Nunca menciona quantias, tão somente insinua, cauteloso, como se convencido de que cada uma de suas palavras estão sendo registradas por um gravador. Assim, ele se torna o rei da metáfora, da retórica, do gogó. Nunca é direto. Fala em circunlóquios, seguro de que o interlocutor saberá ler nas entrelinhas. Parece um professor!
O corrupto franciscano pratica o toma lá, dá cá. Seu lema é “quem não chora, não mama”. Não ostenta riquezas, não viaja ao exterior, faz-se de pobretão para melhor encobrir a maracutaia. É o primeiro a indignar-se quando o assunto é a corrupção que grassa pelo país. É um fingido, dissimulado.
O corrupto nostálgico orgulha-se do pai escritor, da mãe funcionária pública, de sua origem humilde como professor, mas está intimamente convencido de que, tivesse antes a oportunidade de meter a mão na cumbuca, já teria dito: “manda quem pode, ‘odebrecht quem tem juízo”.
O corrupto não sorri, agrada; não cumprimenta, estende a mão; não elogia, incensa; não possui valores, apenas saldo bancário. De tal modo se corrompe que nem mais percebe que é um corrupto. Julga-se um negocista bem sucedido.
Melífluo, o corrupto é cheio de dedos, encosta-se nos honestos para se lhe aproveitar a sombra, trata os subalternos com uma dureza que o faz parecer o mais íntegro dos seres humanos. Aliás, o corrupto acredita piamente que todos o consideram de uma lisura capaz de causar inveja em madre Teresa de Calcutá.
Por fim, tem o corrupto moderno, digital, esquerdista caviar, que reúne todas as características anteriores. Julga-se dotado de uma inteligência que o livra do mundo dos ingênuos e o torna mais arguto, gatuno e esperto do que o comum dos mortais.
*Roberto Rocha é senador