Sucedeu ao Ministro do Trabalho e Previdência Social do regime de exceção o que assevera o corrente adágio: o poder não muda o homem, apenas revela o seu caráter. Quando lhe pareceu conveniente, o Coronel Jarbas Passarinho trocou a retidão moral que aparentava possuir pelo cinismo mais desabrido e subscreveu o AI 5, que endureceu a ditadura militar, no governo do General Costa e Silva, em 1968, dizendo: “Às favas, Senhor Presidente, os escrúpulos de consciência”.
O eleitor desonesto, ao vender o voto, também manda às favas seus mais íntimos escrúpulos. “Que se dane a retidão moral”, pensa ele, ao exigir vantagem indevida de candidato. E depois, repetindo a cena “do sujo contra o mal lavado”, clama nas praças contra a classe política: “corja de ladrões”!
É assim, que entre nós, um perigoso sentimento de nojo começa a tomar conta da política. Logo da política, que deve ser a mais digna, a mais elevada e a mais pura de todas as atividades humanas, porque destinada à realização do bem de todos nós. Dela disse Platão: “o princípio que de entrada estabelecemos quando fundamos uma cidade é a justiça”; sobre ela Aristóteles afirmou: “o governo, entre todos os ofícios, é o mais importante” e Weffort assegura que se “o mundo da política não leva ao céu, certamente a sua ausência é o pior dos infernos”.
No dizer de Bloch “da ignorância do passado nasce a incompreensão do presente”. Então, vamos às raízes da nossa formação sociocultural para compreender as causas da corrupção que assola o Brasil.
A moral protestante dos imigrantes que fundaram as Treze Colônias de povoamento da América do Norte se estendia à esfera pública e pautava-se por uma conduta impecável, sem deslizes ou ambiguidades. Puritanos (como eram chamados os calvinistas na Inglaterra), fugitivos das guerras religiosas em seu país, aqueles colonos recusavam a prática da usura, não se locupletavam com o alheio, acreditavam no valor do trabalho, adotavam um comportamento regrado, eram legalistas e desprezavam a ambição desmedida. Eles fundaram os Estados Unidos da América e ainda hoje são celebrados como os pais da nação. As gerações futuras os honraram com um pomposo distintivo: “Os pais peregrinos”.
Na colônia de exploração do Brasil, diversamente, a dissolução privada deu origem à corrupção pública. Aqui prevaleceu uma duplicidade moral que se traduz em conduta conhecida: o brasileiro suborna servidor do Estado; paga sem nota fiscal para obter desconto; desrespeita a fila; transita pela contramão; sonega impostos; lança lixo na rua; adquire produtos contrabandeados; pede atestado médico para justificar falta injustificada; dirige embriagado; oferece propinas para obter vantagem indevida… E quando flagrado em prática condenável, em vez de cobrir-se de vergonha, justifica e regula o próprio ato pela média da conduta social, dizendo: “Ora, todo mundo faz assim”!
Mas quem foram, afinal, os fundadores do Brasil?
Desde os primórdios da colonização, os portugueses que aqui se estabeleceram não trabalhavam com as próprias mãos, mas usavam o braço escravo; vieram à cata da fortuna fácil e do prazer desregrado. Não por acaso, fizeram o mais conveniente uso daquilo que escrevera Pero de Magalhães Gândavo, em seu Tratado das Terras do Brasil, sobre o paraíso d’Além Mar: “uma terra sem fé, sem lei e sem rei”. Assim, aviltavam o trabalho manual, enalteciam seus privilégios de aristocracia açucareira, eram violentos, acomodados e dados a toda sorte de facilidades.
Aquela elite fez aqui fortuna de “sangue”. Não se dobrava ao império da lei e, quando necessário, subornava servidores da estrutura do Estado português, aqui instalada, (inclusive juízes), seus compatriotas. Essa reiterada prática deu origem ao perverso “jeitinho brasileiro”, vergonhosa maneira de sempre se dar bem à sombra do Estado e ao largo da lei.
Deformados padrões éticos produziram também a chaga do patrimonialismo: confusão entre o interesse público e o privado; na verdade, um sistema corrupto no qual, setores privilegiados se apropriavam das terras, do ouro e dos recursos públicos. A essa danosa prática deu-se o nome de “ordenha do Estado”. O Estado era o equivalente a uma vaca leiteira, em cujas tetas, insaciável, mamava a elite portuguesa.
Fruto amargo do patrimonialismo foi ainda o dualismo social, que segmentou a população brasileira em “gente distinta” (os poucos privilegiados), de um lado; e do outro, “a gente reles”, sem “eira” nem “beira” (a maioria da população). Numa sociedade assim dividida, os privilegiados tudo podem, pairam acima da lei, dos valores e da ordem social, enquanto aos demais são reservados os rigores da lei e o desprezo do Estado.
Esse modelo de sociedade, permeado pela dissolução moral, se estendeu por cinco séculos. Consolidou no Brasil uma sociedade de tradições éticas frouxas, cuja permissividade apenas se alastrou da vida privada para o sistema eleitoral e deste, para as instituições públicas.
Nesse terreno pantanoso vicejou a corrupção que se estende até os nossos dias. As consequências de tão perverso modelo se expressam por meio do subdesenvolvimento humano (baixos indicadores de renda, educação e expectativa de vida) e pela degradação moral de homens e instituições.
Uma lástima! Pois, não fora a chaga da permissividade (que anualmente consome fabulosas somas de recursos) e o Brasil poderia estar, hoje, em franca marcha para a prosperidade.
Romper esse brutal círculo vicioso, fruto de práticas culturais seculares, exige dotar a vida privada de rigorosos imperativos éticos. Exige da família, cultivar a sólida convicção de que só a honradez poderá erguer uma sociedade fundada na prosperidade, ancorada no trabalho honesto e assentada sobre a probidade do homem e das instituições.
* Oduvaldo Cruz é professor universitário e pré-candidato a vereador de São Luís
Enquanto os rigorosos pais peregrinos fundaram os Estados Unidos da América, os portugueses que fundaram o Brasil estão na raiz da dissolução moral do nosso país. Nossa sociedade, herdeiras de tão perversa tradição não se dispõe ao sacrifício em nome da pátria, mas busca sempre extrair vantagens da relação entre o público e o privado. Belo artigo, pelo qual parabenizo o professor Oduvaldo Cruz.
Só ‘Sapi encias’. Esses peregrinos fundamentalistas, racistas e traiçoeiros, que roubaram metade do território mexicano. Extinguiram nações indíginas e praticam o apartaidh racial.
Quero dizer que me orgulho do sangue e de toda tradição portuguesa. Te amo Portugal, que teus detratores recebam o castigo merecido. Santa Pátria de Nossa Senhora de Fátima.
Foi meu professor e eu o aprovado como pré-candidato para a camara municipal! Precisamos de nomes sem vicios, de boa conduta e que pense no coletivo!!
E o texto é uma aula de historia para matar saudades da sala de aula