PMs viram execução
Um vídeo que mostra policiais militares testemunhando a execução do mecânico Irialdo Batalha, de 34 anos, em Vitória do Mearim, no Maranhão, se tornou “viral” nesta sexta-feira (29). Nas imagens, a vítima aparece desacordada, caída no chão, com marcas de sangue no braço esquerdo e na cabeça. Curiosos ao redor falam que ele “ainda está vivo” e “está respirando”. Uma pessoa vestida com calça camuflada e coturno se aproxima, mexe no rosto da vítima com o pé, abaixa a mão direita segurando uma arma preta e dispara dois tiros no rosto do homem.
O vídeo revela que o executor veste uma camisa com manga cinza. Um segundo vídeo, que também circula nas redes sociais, mostra o mecânico já morto carregado por dois homens vestidos com calça camuflada, camisa cinza e colete à prova de balas. Ele é colocado em uma viatura da Polícia Militar.
O primo da vítima, Leonel Batalha, confirmou ao G1 que a família já identificou o rapaz e vai enterrá-lo na manhã deste sábado (30), no Cemitério Municipal de Arari (MA). Segundo ele, Irialdo teria saído de casa na tarde de quinta-feira (28), na garupa de uma motocicleta conduzida pelo amigo Diego Ferreira Geane Fernandes, para assistir a um jogo de futebol em Vitória do Mearim, a 30 km de Arari.
Na entrada da cidade, em frente ao restaurante Boi na Brasa, havia uma blitz com três policiais. “O meu primo estava na garupa e ele [Diego] comprou a moto e ainda não estava emplacada. O que estava conduzindo o veículo acabou se desesperando e freou, ultrapassando a barreira e eles dispararam. Um tiro pegou no pé do que tava conduzindo o outro pegou no meu primo, que caiu no chão, ficou inconsciente. O tiro foi na região lombar e ele também quebrou a cabeça”, explica.
Diego está internado no Hospital Municipal de Matões (MA). Leonel conta que ele e a namorada da vítima foram os únicos familiares que assistiram os vídeos da execução. Segundo ele, ver as imagens foi como “se tivesse recebido uma flecha no coração”.
“Nós queremos justiça. Colocaram a foto do meu primo morto dizendo que dois assaltantes foram mortos porque estavam roubando em Vitória. Nós não somos ricos, somos criados com a educação de nunca mexer no que é alheio e eu boto minha mão no fogo pela integridade dele. O dever da polícia é prestar o socorro, levar para o hospital, sendo ela o que for. Meu primo não era o assaltante que eles tavam falando. Se puxarem a ficha criminal dele, não tem nada, não consta nada. Era um homem de bem”, protesta.
Diego está internado no Hospital Municipal de Matões (MA). Leonel conta que ele e a namorada da vítima foram os únicos familiares que assistiram os vídeos da execução. Segundo ele, ver as imagens foi como “se tivesse recebido uma flecha no coração”.
“Nós queremos justiça. Colocaram a foto do meu primo morto dizendo que dois assaltantes foram mortos porque estavam roubando em Vitória. Nós não somos ricos, somos criados com a educação de nunca mexer no que é alheio e eu boto minha mão no fogo pela integridade dele. O dever da polícia é prestar o socorro, levar para o hospital, sendo ela o que for. Meu primo não era o assaltante que eles tavam falando. Se puxarem a ficha criminal dele, não tem nada, não consta nada. Era um homem de bem”, protesta.
Secretaria desmente vídeo
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA) afirma que Irialdo seria suspeito de assaltar um comércio, que houve troca de tiros com a polícia e que o executor foi identificado como o vigilante Luiz Carlos e seria funcionário da Prefeitura de Vitória do Mearim.
O órgão estadual também afirma que o suposto vigilante agiu por conta própria e teria se evadido do local após executar Irialdo, mas as imagens mostram que o homem que atira carrega o corpo ajudado por um PM. O autor dos disparos vai embora na viatura da polícia.
Leia a íntegra da nota da secretaria abaixo:
A respeito do assassinato do homem suspeito de praticar assalto, na tarde desta quinta-feira (28) no município de Vitória do Mearim, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Segurança Pública, esclarece que:
1 – O principal suspeito de cometer o crime é o vigilante identificado por Luiz Carlos, funcionário do município de Vitória do Mearim, que, após perseguição policial a dois suspeitos de realizarem assalto a comércio, se aproximou e executou o homem com dois tiros;
2 – Durante a operação policial, houve troca de tiros entre assaltantes e policiais e um dos suspeitos foi baleado, caiu da moto e bateu a cabeça. Neste momento, conforme vídeo e relato de testemunhas, o vigilante se aproximou do local e disparou contra o suspeito de praticar assalto, sem a presença dos policiais militares, que estavam em perseguição ao outro indivíduo efetuando a prisão;
3 – A Polícia Militar realiza diligências para prender o vigilante suspeito de execução, que se evadiu do local. A polícia também determinou a imediata apresentação dos policiais militares, que atenderam a ocorrência ao Comando Geral da Polícia Militar para apurar as circunstâncias em que ocorreu toda a operação e adotar as providências legais que o caso requer.
O G1 tentou contato por telefone com a prefeita Dóris Pearce (PV), mas ninguém atendeu as ligações.
Direitos humanos
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seção Maranhão (OAB-MA) Luís Antônio Pedrosa disse, em entrevista do G1, que os policiais que houve uma naturalização do crime dentro um cenário de “justiça social”, já que a execução foi praticada na frente de populares.
“Foi retratada, na verdade, uma execução de uma pessoa que estava sob custódia da polícia. E essa pessoa que executa o crime aparece juntamente com outros integrantes das forças de segurança do Estado, com uma viatura de apoio, perfeitamente identificada. Estamos diante de um cenário de um crime praticado por agentes das forças de segurança do Estado Maranhão em condições que os igualam a criminosos”, declarou.