Apagando a memória
Por Edilázio Júnior
O traumático e lamentável episódio do encerramento das atividades da Fundação da Memória Republicana Brasileira, me fez refletir a respeito postura, talvez até insensata, do governador do Maranhão Flávio Dino.
A Fundação, criada pela Lei nº 9.479, de 21 de outubro de 2011, encerrou oficialmente ontem as suas atividades, após vários servidores que exerciam cargos de confiança e desempenhavam funções de manutenção das oficinas, reforço escolar e coordenação das demais ações educativas e culturais da entidade, terem sido exonerados pelo governador, que parece agir com foro de perseguição e com falta de senso humanitário.
Flávio poderia ter agido de bom senso e pelo menos substituído os funcionários exonerados da Fundação, para que fosse possível e viável o funcionamento de um dos pontos de maior visitação turística de São Luís. Mas, ao contrário, ele apenas inviabilizou a manutenção da entidade.
Ao forçar o fechamento do Convento das Mercês, Flávio Dino não atingiu apenas – talvez como quisera -, a figura do ex-presidente da República José Sarney, que doou todo o acervo histórico, museológico, bibliográfico e audiovisual que integra a estrutura do prédio, mas acabou atingindo milhares de famílias atendidas por atividades de cunho educacional e cultural da entidade. Dino também fere a própria história republicana do país, que ele tanto diz defender.
Ele a fere, a partir do momento que inviabiliza, em outras palavras, impede que cidadãos de todo o mundo, sejam nossos conterrâneos ou turistas que chegam diariamente ao Maranhão, visitem e tenham acesso ao acervo da memória política contemporânea do Brasil, exposto no Convento das Mercês, com mais de 40 mil itens disponíveis. São aproximadamente 5 mil peças museológicas, da arte sacra, esculturas, gravuras e trajes oficiais, medalhas, condecorações e presentes dados ao ex-presidente da República, fotografias, material audiovisual, mais de 25 mil textos, livros raros e cópias de documentos presidenciais, que Flávio Dino tenta simplesmente jogar no esquecimento, e com um ato de insensatez, priva o cidadão de apreciar e de conhecer tanta riqueza cultural e histórica.
Quando o eleitor maranhense elegeu Flávio Dino, não vislumbrou colocar no comando do Executivo um governador que quisesse tão somente personificar o Governo, que tentasse agir somente com furor de vingança, de perseguição aos seus adversários políticos.
O maranhense elegeu Flávio Dino, com a esperança de que haveria melhor qualidade de vida, que seriam lançados programas de impacto social, de que haveria a tão explorada por ele ‘mudança na administração pública’. Mas em 16 dias de governo o que se observa é pequenez;
Um ser inteligente e oriundo da tão honrosa magistratura, deveria reconhecer o valor histórico, cultural e arquitetônico do Convento das Mercês, que começou a ser construído em 1654 e hoje, com 5.800 m² de área construída, é um dos espaços de maior valor histórico da República.
Flávio Dino, que tanto criticou seus antecessores no Poder Executivo, deveria se despojar da toga de juiz e enxergar que além dos adversários políticos, há milhares de famílias assistidas por programas e ações desenvolvidas diariamente pela Fundação.
O Convento das Mercês, considerado um dos sete Tesouros de São Luís – tamanha é sua importância histórica e cultural, promovia – até o inesperado, traumático e absurdo fechamento -, atividades que alcançavam escolas públicas, crianças e adolescentes da comunidade Desterro e adjacências como: a Mostra à Mercê das Artes, Projeto Reforço Escolar, Concurso de Redações, Cursos de Análise de Obras Literárias do Vestibular da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), cursos profissionalizantes, Projeto Férias com Artes, além da mostra Mulheres em Destaque, que homenageava importantes figuras femininas da sociedade maranhense, o Ciclo de Palestras sobre a Literatura Maranhense, o Seminário Literário e a Primavera dos Museus, que desenvolvia atividades educacionais. Sem contar na vistosa, brilhante e harmoniosa Banda do Bom Menino, que por muito tempo foi conduzida pelo Convento das Mercês, mas que agora está sob a administração de outra entidade. A banda, vale lembrar, nasceu ali.
São valores culturais e educacionais imensuráveis à população de São Luís, do Maranhão, do Brasil e do mundo. São valores históricos que a humanidade respeita e reivindica para si.
Portanto governador, faça o que deve ser feito. Devolva as condições necessárias para que volte ao funcionamento esse tão belo e rico espaço da Memória Republicana. A eleição já acabou…
* Edilázio Júnior é deputado estadual