Por Joaquim Haickel
Os fatos causadores do título desta crônica e as consequências deles são o que, no frigir dos ovos, na maioria das vezes, definem nossos destinos. Tal enunciado precisa ser analisado com bastante prudência, até porque em muitos aspectos as análises dessas estratégias dependem de observações, opiniões, conclusões, que em alguns casos podem estar equivocadas, repletas de erros, estes advindos das mais diversas procedências ou simplesmente inseridas em contextos ideológicos.
Usemos uma metáfora para abordar esse assunto: quando o pequenino pastor de ovelhas hebreu, Davi, se propôs a enfrentar o gigante guerreiro filisteu, Golias, ele tinha uma estratégia clara. Tinha consciência de que não poderia se aproximar do gigante, pois seria esmagado por ele. Então, o esperto e ágil pastor lançou mão da funda que sempre usou para espantar os lobos que rondavam seu rebanho, para com ela tentar derrubar o gigante, que estratégica e corretamente não usava escudo, mas uma poderosa armadura de metal e sola. O gigante nunca pensou que um seixo rolado de beira de rio pudesse se transformar em um projétil capaz de atordoá-lo e derrubá-lo, possibilitando que um frágil pastor se apoderasse de sua imensa espada e com ela separasse sua cabeça do corpo.
Ambas as estratégias dos citados duelistas estavam corretas.
Um gigante não precisa de escudo, pois ele dá preferência ao combate corpo a corpo e nesse tipo de combate um escudo atrapalha. Se portasse um escudo a pedra da funda de Davi não teria derrubado Golias e a historia seria outra.
Um pastor, harpista, sem nenhuma experiência militar, só teria uma chance contra um gigante se conseguisse ficar bem longe dele. Mais ágil que Golias, Davi sabia que sua vida e o destino dos hebreus dependiam de sua perícia com a funda. Imagino que o pastor não derrubou o gigante logo no primeiro arremesso, mas em algum momento encaixou o tiro certeiro.
Essa passagem da história dos hebreus, em minha opinião é indispensável para entendermos os erros que podem advir das estratégias.
Nessa mesma passagem histórica há um fato escondido que pouca gente se apercebe. O comandante filisteu desafia o atormentado rei Saul a enviar o seu melhor guerreiro para enfrentar o gigante Golias. O lado que vencesse o combate escravizaria o seu oponente. Seria uma batalha de dois homens, que selaria o destino de dois povos. Ocorre que depois que Davi matou Golias, hebreus e filisteus se enfrentaram em uma carnificina insana. Os termos do duelo não foram respeitados e não o seriam de qualquer forma, qualquer que fosse o resultado preliminar.
Numa batalha bíblica ocorrida há 3 mil anos ou em uma eleição histórica que aconteceu há menos de 90 dias, as circunstâncias e as consequências das estratégias, certas ou equivocadas, são mais ou menos as mesmas.
Flávio Dino, então candidato do PCdoB ao governo do Maranhão, venceu uma eleição onde ele era o Davi e seu opositor o Golias. Não, isso não é lá a mais pura verdade! Até porque o Golias dessa história nem estava escalado para aquela batalha, mas foram essas as estratégias estabelecidas. De um lado o humilde pastor com sua funda e uma única pedra que vitimaria seu adversário. Do outro lado um Golias improvisado, substituindo um ungido, supostamente preparado, mas desistente.
A funda e a pedra desse Davi, em minha modesta opinião, foram a intensa ação midiática, a massificação de versões contestáveis de verdades incontestes. Falo da propaganda, em sua versão mais pura e cristalina, manipulada por um grupo competente e em um veículo novo, um tanto desconhecido e praticamente impossível de ser combatido. A internet!
Três mil anos atrás as chances de hebreus e filisteus saírem-se vencedores daquela batalha, travada nas proximidades da cidade filisteia de Gat, ao sul do atual Israel, eram mais ou menos as mesmas. Noventa dias atrás eram remotas as possibilidades do lado dominante da política maranhense vencer o lado adversário. Pouca gente tinha coragem de dizer isso. Tudo estava contra. Um general alquebrado, sem vontade de pelejar; um exército desmotivado, sem elã; um campeão improvisado, que jamais deveria ter aceitado tal missão. É bom que seja dito: ao contrário de Davi que foi voluntário para enfrentar Golias, Edinho foi escalado porque seu exercito não tinha um campeão para representá-lo, e qualquer um que o fosse, se as análises fossem feitas com bastante critério e seriedade, a resposta deveria ser aquela mesma de “Bota Pra Moer”, “arrumem um mais doido do que eu!…”
Mas o passado só pode ser analisado olhando-se para trás. Olhemos para frente. Estratégias equivocadas não param de ser praticadas.
Li um texto produzido pelo renomado jornalista Luís Carlos Azenha que dá conta de que Flávio Dino, o Davi dessa crônica, resolveu que enfrentará o Golias dela, o grupo Sarney, com a mesma funda que usou no duelo, na campanha. Lembre-se que depois de matar Golias, Davi se tornou um grande guerreiro e jamais a história registrou que ele tivesse voltado a usar a funda como arma. Vestiu-se com as melhores armaduras e empunhava as melhores espadas e as mais tenazes lanças.
Esse negócio de Flávio Dino querer usar a internet ou mesmo a rádio estatal do Maranhão para formar uma rede de emissoras comunitárias, é estratégia para tempos de guerra, não para tempos de paz, onde o trabalho deve ser a tônica, onde as ações e as obras devem ser explicadas e expostas à população, em seus mínimos detalhes.
Em minha opinião, o risco de se usar uma estratégia equivocada nesse setor pode custar muito caro ao futuro governo. Acabamos de ter um exemplo claríssimo disso. Falo da operação desastrosa da máquina de comunicação do governo Roseana, que foi usada como máquina de propaganda, distanciando-se completamente da comunicação que deveria ser participativa, com a comunidade, interagindo com as pessoas.
Se Flávio deseja ser o Davi dessa história, ele e seus companheiros precisam entender que o único jeito, é fazerem um bom governo, é apresentarem um bom trabalho. Se forem querer prolongar uma guerra que deveria ter acabado no dia 5 de outubro, com o resultado da eleição, ao invés de se aproximarem a cada dia de seu objetivo, vão é se distanciar dele.
Em termos de guerras de exércitos convencionais ou batalhas políticas, vencem-nas aqueles que cometem menos erros, e até aqui Flávio Dino e seus companheiros cometeram pouquíssimos equívocos, enquanto seus adversários especializaram-se nessa prática.
A partir de agora os lados estarão invertidos. Quem era oposição passará a ser governo e nele de pouco ou nada adiantará o uso de armas e estratégias de oposição. Isso não vai dar certo! Mas como dizia meu pai, brincando conosco… “amarra-se o burro à vontade do dono”…