Uma das coisas que eu mais gosto é observar as pessoas, suas ações e reações, e sempre que posso, gosto também de conversar com elas, interagir.
Tenho feito isso desde que me lembro. No início fazia por curiosidade, depois vi que fazendo isso escondia um pouco a minha timidez, mais tarde descobri que fazer isso alargava meus horizontes, me dava um conhecimento não só sobre aquelas pessoas, mas sobre todas e principalmente sobre mim. Nelas eu me via, me espelhava, com isso poderia controlar-me de forma mais isenta e satisfatória nos cenários da vida.
Recentemente pude conhecer algumas pessoas fascinantes. Conhecê-las me deixou emocionado.
Fui assistir ao jogo Brasil e Colômbia pelas oitavas de final da Copa do Mundo, em Fortaleza. No avião, um dos melhores lugares para se conhecer pessoas – na Inglaterra vitoriana era nos trens – conheci a pequenina Maria Luiza, de cinco anos. Um azougue. A linda criança não parava um só segundo. Longe de me incomodar eu me vi nela, como eu era quando criança. Vi minha filha Laila a quem às vezes procurava em seu corpinho um interruptor para desligá-la por alguns minutos. Vi meu sobrinho Nagib Neto e tantas outras pessoas com a mesma característica.
Puxei papo com Malu e lembrei que esse seria o nome que Nilminha queria colocar em sua primeira filha. Perguntei quantos anos tinha, onde ela estudava e ao lado de sua mãe ela era totalmente desembaraçada. Só demonstrou sua idade quando ensaiou um choro por querer ir sentar-se junto de sua avó que estava algumas cadeiras à frente.
Na saída da aeronave passamos não só pela avó de Malu, mas também por sua bisavó, dona Teresa, que me cumprimentou e disse que seu falecido marido havia trabalhado com meu pai na Assembleia Legislativa.
Da mesma forma que Malu, dona Teresa, mesmo aos 83 anos demonstrou uma energia invejável. Comentou sobre os meus artigos, disse que os lê todo domingo, que gosta muito da forma coloquial e simples com que abordo os temas, que os lendo ela se sente como se estivesse batendo um papo comigo.
Nossa conversa congestionou a saída da aeronave. Ela me abraçou e se foi com sua família.
Vi-me refletido naquelas duas pessoas. Um projetinho energético de mulher e uma mulher-árvore, que já deu frutos e sombra, mas que mantém sua energia intacta.
Já em Fortaleza conheci um garçom chamado Maciel. Nada de muito especial havia nele, mas uma coisa me chamou a atenção. Ele parecia ter uma devoção verdadeira pelo seu ofício. Com certeza ele não estava ali só pelo salário e pelas gorjetas. Ele parecia gostar do que estava fazendo. Vi-me nele também, pois um de meus lemas é “fazer o que se gosta e gostar do que se faz”.
No voo de volta sentei-me ao lado de um jovem cearense que carregava um enorme livro onde estava escrito em letras garrafais a palavra concurso.
Não demorou para que o metido aqui perguntasse o nome dele, onde ele iria fazer o concurso e para que era.
Euclides era seu nome e ele estava indo para Belém prestar concurso para juiz. Imediatamente perguntei que idade ele tinha, ao que respondeu-me 25.
Tal qual Zeca Diabo, contei até 10 antes de expor a ele minha opinião sobre tal absurdo. Um jovem advogado, com pelo menos três anos de registro na OAB e de prática efetiva da advocacia poder ser juiz de direito em qualquer comarca deste país. Não falei nada pra ele, não queria tirar dele a concentração e o foco dos estudos finais das provas que seriam no dia seguinte.
Mas com você eu posso comentar. Por que motivo a lei obriga um candidato a senador ou a governador ter no mínimo 35 anos e permite que um juiz, que vai decidir o destino jurídico dos cidadãos possa ter menos que isso?
Mas este é um tema bastante polêmico, tratemos dele em outra oportunidade.
Ao voltar pra casa peguei um táxi no aeroporto. Automaticamente comecei a conversar com o motorista, uma das duas categorias que em minha opinião são os melhores termômetros da nossa sociedade – a outra é a dos garçons.
Não vou declinar o nome verdadeiro do jovem motorista, pois o assunto é de foro íntimo e ele não me autorizou a comentar nossa conversa. Vou chamá-lo de Maike.
Primeiro busquei saber se ele me conhecia. Fiz isso para que a consulta que iria lhe fazer fosse totalmente isenta.
Com apenas 23 anos Maike não sabia quem eu era, nunca havia me visto mais magro. Podia crivar-lhe de questionamentos.
Depois do preâmbulo de praxe, perguntei em quem ele havia votado para presidente. Dilma. Vai repetir o voto? Não. Vai votar em quem? Vou justificar minha ausência ou votar em branco.Por quê? São todos iguais!
Desconversei um pouco, falei de outras coisas, e voltei à pesquisa.
Quem são os candidatos a governador? Silêncio. Quem você acha que vai ganhar? Não sei, não! Vai votar em quem? Flávio Dino. Quatro anos atrás você votou em quem pra deputado? Nem lembro… E pra governador? Flávio Dino. E pra prefeito, votou em quem? Edivaldo. Você está satisfeito com ele? Nunca!… Sua administração é um desastre! Votaria nele novamente? Jamais!
Pelo retrovisor vi a expressão de espanto no rosto do motorista. Expressão resultante de sua própria afirmação. Calei em respeito ao pensamento que visivelmente ele elaborava em sua cabeça.
Depois de alguns instantes, Maike, em um tom quase cerimonioso disse: “Eu votei antes no Flávio Dino e disse que votarei nele agora novamente, mais por revolta que por convicção. Pensando melhor, já que os que se dizem representar a mudança não mudaram nada na prefeitura de São Luís, não sei mais em quem votar… Tinha esperança que votando neles as coisas poderiam melhorar, mas fez foi piorar doutor!…”
Desci em casa, paguei a corrida e Maike se foi. Não sei ao certo em quem ele vai votar, mas sei que ele sabe pensar. Faça ele o que fizer, o fará com consciência.
PS: Esse texto foi escrito antes da decisão do terceiro lugar da Copa contra a Holanda. Espero que a Seleção Brasileira tenha se reabilitado.
Fiquei mais decepcionado do que triste com nossa derrota para a Alemanha. A forma como o time jogou reflete o vexatório placar. Mas futebol é apenas um esporte e como tal deve ser encarado. A vida é mais, é maior e continua depois dos jogos. Bola pra frente!