Explica Felipão…
Explicar o inexplicável. Luiz Felipe Scolari foi para a entrevista coletiva após a histórica goleada sofrida pela seleção brasileira com essa missão. Na conversa com os jornalistas, Felipão assumiu a culpa pelas escolhas e pela derrota por 7 a 1 para a Alemanha, em jogo válido pelas semifinais da Copa do Mundo, mas afirmou que a vida não acaba após o time canarinho perder a chance de disputar a final da competição no Maracanã, no Rio de Janeiro.
– Vamos ter uma sequência de vida normal porque a vida não acaba com essa derrota. Vamos trabalhar no vestiário, na Granja Comary, para pensarmos no próximo jogo – disse o treinador, que vai precisar levantar o astral do grupo para a decisão do terceiro lugar, no próximo sábado, em Brasília, com o perdedor do duelo entre Holanda e Argentina.
O treinador comentou ainda o clima no vestiário após a derrota para a Alemanha.
– Horrível. Claro que o clima não era bom. Não tenho nada para neste momento, nessas primeiras horas. Temos que mudar o nosso comportamento. Mudar o ambiente. Vamos seguir fazendo o nosso trabalho, sabendo que a história continua.
Felipão afirmou também que é o culpado pelo desempenho da equipe na Copa do Mundo. Foram três vitórias, dois empates e uma derrota.
– Quem é o responsável pelas escolhas? Sou eu. A responsabilidade pelo resultado catastrófico é minha. Eu fui o responsável.
O treinador deixou uma mensagem para o povo brasileiro, mas não crê que o futebol do país tenha que ser alterado pelo resultado desta terça-feira. Segundo o treinador, a goleada alemã foi fruto de uma pane em sua equipe.
– A minha mensagem aos torcedores e ao povo é que tentamos fazer aquilo que tínhamos para fazer. Fizemos o que era o nosso melhor. Perdemos para uma grande equipe, que teve a qualidade de, em seis minutos, definir o jogo com três ou quatro gols. Deu uma pane depois do primeiro gol. Eles se aproveitaram de uma maneira que não tínhamos como reagir. Peço desculpas pelo resultado negativo.
PRINCIPAIS TRECHOS DA COLETIVA DE FELIPÃO
FUTEBOL BRASILEIRO REVISTO
– Não concordo. O México teve qualidade e nós empatamos. Empatamos com o Chile. A Colômbia era uma das equipes comentadas como revelação e nós ganhamos. O que aconteceu neste jogo foi diferente. Até o primeiro gol, o jogo era idêntico, e nós éramos melhores do que a Alemanha. A Alemanha fez o gol num escanteio e houve um descontrole. Acontece. Depois de estar perdendo por 5 a 0, você precisa arriscar. Tivemos algumas chances e não aconteceu. Perdemos para uma grande seleção. Foram cinco lances e eles fizeram cinco gols.
DÍVIDA COM O POVO BRASILEIRO
– Minha dívida? Não tenho dívida. Fiz o meu trabalho como sempre faço em qualquer lugar. Fiz aquilo que eu achei que era o mais correto e o melhor. Da forma como trabalhamos, nós tivemos apenas uma derrota. De um ano e meio para cá, essa foi a terceira derrota. Foi horrível pelo resultado, 7 a 1. Não é dívida e nem crédito. Em 2002, nós ganhamos. Agora, nós perdemos. Só não podemos esquecer que teremos um jogo no sábado. Ainda não encerramos a nossa participação.
MUDANÇA NO FUTEBOL BRASILEIRO
– Por quê? Por que perdemos um jogo hoje? Essa equipe terá doze, treze jogadores na próxima Copa, em 2018. É um caminho que está sendo feito. Essa equipe da Alemanha jogou o Mundial de 2010. Disputou a Eurocopa de 2008 e está aí agora. Dos jogadores que estão aí, no mínimo, uns doze estarão em 2018. É a pior derrota do mundo, mas é um caminho que temos que aprender com isso tudo. Foi um branco que deu no time. Tentamos organizar para fechar um pouco mais. Foi uma pressão da Alemanha e deu tudo certo. E deu errado naquele momento para a nossa equipe. Quando estamos em pane, não adianta trocar um ou dois num determinado momento.
ESCALAÇÃO ERRADA
– Não me arrependo. Não é assunto para conversar agora. Foi um resultado. Vou me arrepender do quê? Tivemos oportunidades. Imaginava que com a volta do Oscar, do Hulk e do Bernard, nós tivéssemos como fechar o meio de campo. Até a hora do primeiro gol, tudo estava organizado. Após o gol, o nosso time ficou desorganizado e ficamos em pânico. As coisas foram acontecendo para eles e dando errado para nós. A escolha é o técnico quem faz e ele precisa arcar com as consequências.
PRESSÃO PELO TÍTULO
– Eles sabiam desde o início que jogando em casa era nossa obrigação chegar à final, se campeão. Não era pressão nenhuma sobre eles. Eles fizeram o que estava ao alcance. Chegando ao quinto jogo, sexto jogo, em condição de chegar à final. Não tem arrependimento. Deu errado. Dez minutos de jogo, hoje. Não adianta ficar buscando alguma situação, que não é a realidade. Deu errado por dez minutos. A equipe da Alemanha foi fantástica. Não vai acontecer para a Alemanha e para nós nunca mais.
AUSÊNCIA DE NEYMAR
– Poderia acontecer com o Neymar em campo. Ele não poderia defender aquelas jogadas trabalhadas. Não tem porque imaginar que com o Neymar seria diferente. Levaríamos o gol porque ele é um atacante e tem uma função diferente.
LADO EMOCIONAL
– Não vamos arranjar uma desculpa sobre Neymar, sobre emoção, sobre o hino. O que aconteceu foi que a Alemanha em determinado momento impôs um ritmo maravilhoso, conseguiu em dois ou três lances os gols para definir o jogo. Além de influenciar positivamente a Alemanha, que já é boa, influenciou negativamente o meu time. Não tem nada a ver com hino, com Neymar, com mão no ombro…
GOLEADA HISTÓRICA
– Quando levamos o terceiro, o quarto e o quinto gols… 5 a 0, no primeiro tempo, é quase impossível de virar ainda mais diante de uma equipe como a Alemanha. Tínhamos que causar dano ao time deles. No segundo tempo, nós tivemos duas ou três chances, poderíamos ter feito os gols. Quando estávamos mais perto, não fizemos o gol, e eles marcaram mais um. O emocional vai embora.
LIÇÕES PARA O BRASIL
– A lição é sentar com o grupo, olhar de novo, analisar novamente o que aconteceu. Trabalhar com eles porque muito deles estarão nas próximas convocações da Seleção e poderão estar no Mundial. Temos que mostrar que foi um jogo atípico. Que a qualidade da Alemanha é boa, mas que não é uma situação normal. Temos que saber como vamos assimilar essa derrota. É uma derrota que é a pior do Brasil. Até em amistosos. Aconteceu. A vida deles vai continuar, a minha vai continuar e vamos buscar o melhor para a nossa vida. Vamos examinar os detalhes e ver o que podemos mudar.
PIOR DERROTA DA CARREIRA
– Provavelmente tenha sido a pior. Já perdi outros jogos. Quando se perde de um, de quatro ou de cinco é sempre igual porque fica o sentimento de não ter conseguido mudar o panorama do jogo. Se pensar na minha vida como técnico, como jogador, foi o pior dia da minha vida. Mas continua a vida. Vou ser lembrado por ter perdido por 7 a 1. Mas era um risco que eu sabia que eu corria. Os riscos que nós assumirmos, nós temos que assimilar e seguir em frente a nossa vida. É o que eu vou fazer.
Foto: Reuters
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