Decretada a pena de morte do Carnaval de Passarela
A decisão das Escolas de Samba e dos Blocos Tradicionais de São Luís em não desfilar na passarela do samba é uma atitude burra e impensada, pois a razão de existir de uma agremiação carnavalesca é o desfile no período carnavalesco. Sem essa ação a entidade que se diz carnavalesca pode mudar de foco, pois de carnaval não há razão que justifique sua existência.
Independente dessa vertente é lamentável também, que no ano em que os Blocos Tradicionais devam ser considerados Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil pelo Ministério da Cultura (o processo para reconhecimento foi aberto em outubro do ano passado), eles deixam de desfilar na passarela do samba, numa grave atitude de desprestígio para si próprio e para o público que admira essa manifestação cultural, que é única no cenário cultural brasileiro, dando a capital do Maranhão um status privilegiado.
Escolas de Samba, Blocos Tradicionais, Blocos Organizados, Turmas de Samba, Alegorias de Rua, Tribos de Índio, Blocos Afros ou qualquer outra manifestação cultural não é palanque político e não podem ser manifestações que fiquem a mercês de grupo ou grupelhos que se utilizam da cultura popular para tirar benefícios próprios e deixam essas manifestações num plano inferior de prioridade. Isso acontece, principalmente pela ganância de alguns produtores culturais, que se dizem “liderem” de movimentos culturais e que tiveram seus interesses financeiros contrariados.
A crise ou as crises que possam abalar a produção dos diversos grupos que compõem os ciclos carnavalescos ludovicense num momento de dificuldades administrativas e financeiras deveriam ser bandeiras de luta e resistência para que seus seguidores não deixassem que essas manifestações morressem. Pelo contrário, é nessa hora, que os seus militantes, inspirados na criatividade, que o próprio carnaval requer, se espelhassem na fantasia carnavalesca e abstraíssem focos de resistências e motivos de superações para que o desejo do povo continuasse vivo, efervescente e atuante no meio comunitário, enraizando-se cada vez mais no imaginário popular. Esse tipo de ação deixaria longe a possibilidade de enfraquecimento da cultura carnavalesca e a manifestação momesca não seria ameaçada pela escuridão.
Lamentável a falta de compreensão e interesse daqueles que se dizem “lideres” dos segmentos envolvidos com esse ciclo cultural. Agora é o momento de resistência e superação dos verdadeiros amantes do carnaval para mostrar aos que detém o poder de decidir sobre políticas públicas, e/ou outorgar subvenções financeiras, para auxiliar na produção desses grupos. Agora é à hora de mostrarmos que as dificuldades podem ser superadas, pois o desejo popular sempre será maior que a ganância dos sugadores das manifestações culturais da ação popular.
Se o quadro do desmonte da infratestrutura carnavalesca se concretizar, estamos penalizando não somente os simpatizantes das diversas manifestações culturais do carnaval maranhense, mas a própria cidade que já tem um currículo de desconforto administrativo em diversas áreas, que inclui proibição de banho nas principais praias da capital, assédios de trombadinhas no centro histórico, má conservação de seu patrimônio arquitetônico e cultural, mobilidade precária de suas avenidas e ruas, entre outros, que prejudicam não somente nossa imagem de cidade patrimônio cultural da humanidade, mas o da própria hospitalidade maranhense, jogando no lixo qualquer ação que tente programar uma política turística para nossa região, tentando transpô-la num destino de potencial cobertura.
Ainda a tempo de se voltar atrás e dar a volta por cima, basta que todos tenham um pouco de lucidez e bom senso, caso contrário, estamos decretando a morte do nosso carnaval de passarela em São Luís.
* Euclides Moreira Neto é ex-presidente da Fundação Municipal de Cultura (Func), professor-mestre do Curso de Comunicação Social da UFMA, jornalista, produtor cultural e carnavalesco.