Isto É Dinheiro
Apesar das belezas naturais e do apelo tropical, o Brasil ainda não aprendeu a se beneficiar do turismo. Em 2011, o setor movimentou o equivalente a 3,9% do PIB, ou R$ 161 bilhões. Pouco, na opinião do ministro do Turismo, Gastão Vieira, que acredita ser possível dobrar essas cifras. Faltava, segundo ele, incluir a atividade nas prioridades da agenda do governo. Isso começa a acontecer com a destinação das verbas do ministério para projetos alinhados a uma política nacional de turismo. “Conseguimos entrar na pauta econômica do governo”, diz o ministro.
Há um ano, o sr. assumiu o ministério, em meio a denúncias de desvios de verbas para eventos. Há risco de que esse tipo de desvios volte a ocorrer?
Risco, sempre há. Antes, havia verba para festas de São João, de padroeira de cidade, de Réveillon, entre outras, nas quais o dinheiro público era usado para pagar as atrações. Isso gerou descontrole. O artista cantava para o pequeno público por R$ 20 mil e, quando era com verba do mtinistério, o cachê era de R$ 100 mil. Diminuímos drasticamente os contratos para eventos.
Há mais controle hoje?
Criamos um sistema de monitoramento das verbas que nos permite acompanhar, em tempo real, emenda por emenda, Estado por Estado, município por município. Nós sabemos em que estágio está uma obra e quanto dinheiro ela recebeu.
Mas as verbas do ministério caíram muito nos últimos tempos, não?
O próprio ministério orienta os parlamentares a destinar suas emendas. Se antes o ministério era prisioneiro da demanda, hoje ele é o senhor da oferta. Estamos caminhando para aplicar o recurso público no que é prioridade, dentro de uma política nacional de turismo. Essa conversa chega bem ao ouvido da presidenta Dilma. Nós conseguimos realmente entrar na pauta econômica do governo.
Como isso é colocado em prática?
Estamos montando o que vamos denominar de PAC do Turismo. Identificamos que centros de eventos são fundamentais para consolidarmos o turismo de negócios. Pedimos recursos para obras importantes, como estradas, aeroportos regionais e píeres de atracação para cruzeiros. Também demos prioridade para saneamento básico. Atualmente são 11 mil obras em andamento em todo o Brasil, no valor de R$ 3,7 bilhões, com recursos do ministério.
Apesar de todo o potencial do turismo no Brasil, o setor ainda movimenta menos de 4% do PIB. Como isso pode aumentar?
O turismo vai além das atividades classificadas como turísticas. Tome o exemplo das locadoras de carros. Elas compram 445 mil veículos novos por ano: 45% desse total é locado para viagens, tanto de turismo de lazer, quanto de negócios. Mas podemos crescer mais e chegar a 7% do PIB.
O que falta para o Brasil atrair mais turistas estrangeiros?
Estamos fazendo estudos para entender por que o turista acha o Brasil o melhor destino turístico do mundo, mas não toma a decisão de vir para cá. Talvez seja um erro de estratégia nosso.
Como resolver o problema de o Brasil ser um destino caro?
Estamos conversando com o Ministério da Fazenda. Demos o primeiro passo com a desoneração da folha de pagamento da hotelaria e das companhias aéreas. Mas muito do custo do setor é ICMS e isso depende dos governos estaduais. Quando um governador vem aqui para pedir apoio para uma obra, nós colocamos a pauta de desoneração do ICMS.
E há uma disposição deles para isso?
Isso é uma costura que demora, mas a receptividade é ótima. Antes eles vinham ao ministério e nunca traziam seus secretários de Turismo. Isso mostrava que o setor figurava como uma política de governo, mas a grande maioria começa a perceber o turismo como um setor da economia. É emprego que se cria mais rápido, o mais barato e a maneira mais eficiente de se fazer inclusão social.
“Imagina na Copa!” se tornou um bordão nacional. O Brasil corre o risco de sofrer um apagão estrutural durante a Copa do Mundo?
O período de alta estação no Brasil é janeiro, quando recebemos 700 mil turistas estrangeiros. Para a Copa, vamos receber 300 mil em junho e 350 mil em julho. Vai haver uma troca, porque muitos deixarão de vir para o Brasil nessa época, para fugir da Copa. Não vai faltar quarto de hotel.
Qual é o grande objetivo para depois dos eventos?
Consolidar o Brasil como um grande destino turístico mundial. Poucos países tiveram a oportunidade de sediar tantos eventos em tão pouco tempo. Tivemos a Rio+20 e teremos a Copa das Confederações e o encontro da juventude católica, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016. Esse é o verdadeiro legado para o turismo brasileiro.