Polícia vai ouvir Cutrim

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O chefe da Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), Augusto Barros Neto, garantiu, ontem, que o inquérito sobre o assassinato do jornalista Décio Sá não será encaminhado à Justiça sem que o deputado estadual Raimundo Cutrim (PSD) preste depoimento formal à Polícia Civil do Maranhão.

O caso, segundo já sinalizou a comissão investigadora, deve ser concluído até sexta-feira (10), e o depoimento do parlamentar se faz necessário por causa de seu nome ter sido citado diversas vezes pelo executor do crime como suposto principal mandante da morte de Décio Sá, executado por denunciar esquemas de agiotagem no estado.

“Não vamos encerrar o inquérito sem ouvir o deputado estadual Raimundo Cutrim. Não há essa possibilidade. Já fizemos contato com o Poder Judiciário, por meio da juíza Ariane Castro Pinheiro, que acompanha o caso, e é titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri, pelo fato de o parlamentar dispor de foro privilegiado. Estamos verificando a melhor maneira de tomarmos o seu depoimento de maneira formal, e dentro da legalidade. O objetivo é saber qual colaboração o deputado vai dar aos trabalhos de investigação, já que ele é citado por diversas vezes no bojo do inquérito, e fora dele”, afirmou o superintendente da Seic.

Raimundo Cutrim passou a figurar nas investigações sobre o assassinato do repórter da Editoria de Política de O Estado depois que seu nome foi citado pelo pistoleiro paraense Jhonatan de Sousa Silva, de 24 anos – assassino confesso do jornalista.

Em seu depoimento, tomado no dia 9 de junho, o executor de Décio Sá, por três vezes, denuncia o parlamentar de ter mandado matar o jornalista, com base em diálogo com um dos intermediadores do crime, o empresário José Raimundo Sales Chaves Júnior, o Júnior Bolinha, preso pela polícia. “Ele alegou que o jornalista tinha de morrer por conta da língua dele, pois falava muito, e prejudicava muita gente”, disse.

Empresário – A segunda citação do nome do deputado estadual, durante as investigações, veio à tona no dia 29 de junho, quando parte do depoimento do empresário Gláucio Alencar Pontes Carvalho, apontado como líder da rede de agiotagem que ofereceu R$ 100 mil pela morte de Décio Sá, “vazou” na internet.

Em um dos trechos de seu depoimento, o agiota revela aos delegados da comissão investigadora que, em uma das últimas reuniões que teve com o colega empresário, presenciou quando Júnior Bolinha disse que era amigo do deputado Raimundo Cutrim. Nesse ínterim, o parlamentar se defendeu, usando a tribuna da Assembleia Legislativa.

Sua defesa, porém, também ganhou repercussão no momento em que o deputado estadual resolveu lançar ofensas ao secretário de Segurança Pública, Aluísio Mendes, o chamando de moleque travestido de secretário, e o acusando de ter forjado o depoimento do assassino, ao classificar o executor de papagaio ensaiado.

Antes de seu discurso áspero, Cutrim – que ocupou o cargo de secretário de Segurança por duas vezes – concedeu entrevista à imprensa local, e se disse espantado com a notícia. “Quem conhece a minha vida e o meu trabalho, não só no Maranhão, mas em outros estados, sabe que eu sempre combati a criminalidade”, disse o deputado estadual.

Banga – A mais recente denúncia de suposta ligação de Raimundo Cutrim com a rede de agiotagem que financiou a morte de Décio Sá foi feita sexta-feira (3) pelo ex-prefeito do município de Serrano do Maranhão, Vagno Pereira, o Banga, preso pela Polícia Federal, em março de 2010, durante a Operação Rapina V, suspeito de sacar indevidamente recursos públicos federais e depositá-los em contas de terceiros.

Ao participar (por telefone) do Programa Ponto Final (Rádio Mirante AM), o ex-gestor municipal afirmou que sua prisão foi uma espécie de armação elaborada pela rede de agiotas, que cobrava uma dívida de R$ 200 mil à Prefeitura.

“Gláucio me convidou para almoçar, e nesse encontro disse que eu tinha que pagar a dívida, pois havia financiado a campanha eleitoral do ex-prefeito Leocádio Rodrigues. Eu disse a ele que não tinha como pagar um débito que não era meu. Ele disse que tinha 20 folhas de cheques no carro, e que era só eu assinar, mas eu não aceitei”, narrou o ex-gestor.

Banga disse, ainda, que, depois disso, foi preso pela Polícia Federal (PF), afastado do cargo, e quem assumiu foi o presidente da Câmara de Vereadores, Hermínio Pereira, filho do ex-prefeito Leocádio.

“Foi tudo uma armação para que Hermininho assumisse e pagasse a dívida do pai. O advogado de Hermininho é Ronaldo Ribeiro, o mesmo do delegado federal que comandou a operação; e o candidato aliado dele é o deputado Raimundo Cutrim”, ressaltou o ex-prefeito.

O chefe da Operação Rapina V, a quem se referiu Banga, foi o delegado Pedro Meireles, ouvido semana passada pela comissão de delegados, que agora intensifica as investigações secundárias à morte de Décio Sá, cujo foco são os crimes de agiotagem, envolvendo prefeitos maranhenses.

Sobre as denúncias do ex-prefeito do município de Serrano do Maranhão, o superintendente da Seic também foi categórico. “O ex-prefeito Banga também será chamado para prestar esclarecimentos sobre suas declarações na imprensa. Ele mesmo já se colocou à disposição, e nessa segunda fase das investigações [agiotagem] sua contribuição será fundamental”, concluiu Barros.

O Estado

3 comentários para "Polícia vai ouvir Cutrim"


  1. Francisco

    VOCÊ SABE DIZER SE O OUTRO DEPUTADO QUE TEVE O NOME CITADO COM AGIOTAGEM TAMBÉM VAI SER CHAMADO PARA PRESTAR DEPOIMENTO?

    • Zeca Soares

      Não sei dizer não Francisco. Também estou aguardando o posicionamento da polícia.

  2. Ricardo

    Isto será muito importante para que todos os fatos sejam esclarecidos e que não se julgue as pesoas com antecedência. É importante agora que a polícia divulgue os números de prefeitos que tiveram cheques com os agiotas na operação do caso Décio Sá.

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