Encontrei este texto no Facebook do Nivandro Costa Vale. Muito legal e gostaria de dividir com vocês.
Por Nivandro Costa Vale
Alguma coisa está acontecendo quando um cara rockn’roll amanhece querendo ouvir Nana Caymmi. e Roberto Carlos!
Final de expediente, ouvindo aqui esse monumental artista, que antes de virar presente de natal de senhoras de meia idade carentes, já foi o nosso rei do pop. O álbum é de 1969 e o artista é Roberto Carlos.
Roberto é o nosso Beatle. Foi ele quem formatou a nossa musica pop e antecipou tudo que seria feito por outras gerações. Esqueça esse cara que desde que começou a chutar lata e a fazer músicas temáticas sobre tipos diferentes de mulheres (gordinha, magrinha, professora) desmereceu o seu passado brilhante.
Nesse álbum Roberto está num de seus melhores e mais vigorosos momento. Ainda há resquicios da jovem guarda na simplicidade de canções como “Aceito seu coração”, ”Nada Tenho A Perder”, ”Do Outro Lado da Cidade” ou na singeleza de “Quero você perto de mim”, ou “Não Adianta”, com o infaltável teclado de Lafayete. Lembro dos começos de tarde com minha mãe voltando para o almoço e me fazendo ouvir com ela Roberto Carlos Especiaaaaaal!
É aí que Roberto nos pega: o cara tem canções que simplesmente fazem parte do nosso inconsciente coletivo. Você ouve o belíssimo instrumental de “o Diamante Cor De Rosa”, e se dá conta de que a vida toda você ouviu aquilo em algum momento, mas nem sabia que era dele. Ele simplesmente fez parte de sua vida o tempo todo e você nem se dava conta.
E agora vamos ao que mais interessa. Funk. Roberto já tinha cansado da imagem de “Namoradinho do Brasil”. Reencontrou o velho amigo de banda (Tim Maia) na gringa, que mostrou pra ele uns sons suingadíssimos, tipo James Brown e Ray Charles, e uma ervas não-medicinais. isso tudo somado, piraram o cabeção do Rei.
Ele voltou, começou a deixar o cabelo crescer e encaracolar, desapontou os puristas de plantão, começou a injetar soul e suingue em seu som e aqui começou a parir ou gravar uma sessão dos melhores funks feitos a te hoje no Brasil. Gravou “Nada vai Me Convencer’ e, principalmente, com a colaboração do síndico, gravou o petardo “Não Vou Ficar”, além de outros que viriam.Começou aqui o seu namoro com o funk e o soul que posteriormente renderia grandes canções.
O Roberto que fazia música romântica antes de isso vir a ser associado com deposito de sacarose, conciliando dramaticidade poesia e popularidade sem perder a medida, está muito presente aqui também, cravando definitivamente no cancioneiro brasileiro, canções inesquecíveis, fortes em poesia,beleza e popularidade, como “As Curvas Da Estrada De Santos” e uma perfeição de canção chamada “Sua Estupidez”.
Então, na próxima vez que você for fazer chacota dele, lembre que ele tem uma das melhores e mais relevantes carreiras no Brasil, deixou obras de inquestionável valor, e talento, além de ser o artista popular mais influente em tudo que se fez depois dele, principalmente no rock e pop nacional. E foi determinante para que tivéssemos música pop com identidade própria aqui no Brasil. Esqueça esse cara que namora cantoras bregas, faz alisamento japonês e é especial do fim de ano da Vênus platinada. Foque no artista. No compositor inspirado, no artista inquieto e atento com o novo que já foi um dia,na voz e interpretação única, original.
Tenha certeza: o cara não é chamado de Rei por acaso.
Esse álbum com suas orquestrações semi-perfeitas, com flautas, cordas, sopros, pianos econômicos, com sua poesia às vezes dramática, simples, sofisticada, é a prova cabal disso e é certamente um dos melhores álbuns já feitos no Brasil.
E que atire a primeira pedra aquele que nunca ouviu ou cantou uma canção de Roberto.
Um dia cheio de beleza , como 1969, do tempo em que Roberto era o Rei.