Flávio Dino reconhece relevância de Sarney no Senado
Nenhum maranhense, muito menos o ex-deputado federal Flávio Dino (PC do B), empossado nesta quarta-feira como presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), poderia prever tamanha ironia do destino. Opositor ferrenho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), nas disputas regionais, Dino está bem mais cauteloso ao falar da família que ele tanto criticou.
Na campanha eleitoral de 2010 – quando perdeu a disputa ao governo do Maranhão para Roseana Sarney (PMDB) –, Dino falava em “herança maldita” na política estadual. Agora, já admite a relevância de Sarney frente ao Senado. A mudança de postura parece estar diretamente ligada ao cargo: a partir desta quarta-feira o ex-deputado passa a ser subordinado ao ministro do Turismo, Pedro Novais. Esse, por sua vez, deve a Sarney sua vaga na Esplanada dos Ministérios.
O novo presidente da Embratur diz que as divergências regionais continuarão – até porque ele não descarta disputar a prefeitura de São Luís (MA) em 2012, ou novamente ao governo do Maranhão, em 2014. O comando da Embratur pode servir de trampolim para a disputa ao governo, que ocorre no mesmo ano da Copa do Mundo de 2014. A Embratur está entre os órgãos que atuarão diretamente nas questões relativas ao turismo durante os jogos.
Flávio Dino falou ao site de VEJA logo após tomar posse. Pareceu constrangido ao comentar sua relação com aqueles que há poucos dias eram considerados inimigos. Já sobre a Embratur, conversou com desenvoltura: os números relativos ao órgão estavam na ponta de língua do novo presidente. Dino também falou sobre o papel da Embratur na Copa do Mundo de 2014. Às vésperas de sua posse, ele já tinha se reunido com o ministro do Esporte, Orlando Silva, e do Turismo, Pedro Novais, para tratar do assunto.
Como será sua relação com o ministro Pedro Novais, seu adversário político no estado? No plano nacional, nós integramos o mesmo campo político, que apoia o governo da presidente Dilma. Essa aliança nacional é determinante para que eu transmita a certeza de que nós teremos uma relação cordial, produtiva, eficiente e alinhada com os grandes objetivos estabelecidos pela presidente.
Mas o ministro é ligado a Sarney, seu grande opositor. O presidente Sarney exerce um relevantíssimo papel no Congresso Nacional, isso é indiscutível. Evidentemente que ele próprio, como ex-presidente, deve compreender as decisões da presidente Dilma, que considerou pertinente minha presença na Embratur. As decisões dela devem ser cumpridas e respeitadas por todos.
E como ficam as disputas locais? As diferenças regionais estão mantidas, até porque elas fazem parte do jogo político. Nós não alteramos em nada nosso posicionamento na política regional. Nacionalmente o espirito é de compreensão de que fazemos parte do mesmo projeto. A boa política não nega as diferenças. Pelo contrário, as compreende como legítimas e as administra. As diferenças estão no plano regional: há tempo, espaço e modo de decidi-las lá na politica regional – o que, evidentemente, não contamina o nosso trabalho conjunto nacionalmente.
Como o senhor avalia o fato de Dilma ter apoiado Roseana Sarney em detrimento da sua candidatura ao governo do Maranhão? Não há ressentimentos, foi uma avaliação política nacional. Tanto que minha relação política com a Dilma continua a mesma relação de confiança e de fraternidade. O PC do B é um partido da base, integra o campo político que ajudou a conduzir os êxitos do governo Lula. Integramos o governo da presidente Dilma, não há nenhum desconforto em relação a isso. Nosso partido compreende a importância da heterogeneidade, da amplitude da base política que sustenta o nosso governo.
O senhor pretende ser candidato à prefeitura de São Luís no ano que vem? Por uma decisao partidária, deixamos o debate para 2012. Não posso cravar que serei candidato, como também não posso cravar que não serei. Nesse debate, eu tenho uma “vontade”, mas ninguém é candidato a uma eleição majoritária porque quer ser, é preciso ter uma movimento político amplo. Em 2014, minha candidatura ao governo do Maranhão já é um objetivo colocado partidariamente.
Qual sua avaliação sobre a disputa entre Henrique Meirelles e Márcio Fortes no comando da Autoridade Pública Olímpica (APO)? São dois executivos de grandes qualidades, ambos testados, seja em atividades de mercado, seja em atividades públicas. Tenho certeza que esse desenho institucional, ainda em curso, de construção da APO vai chegar a um bom resultado, a uma divisão de papeis. Não há nenhum homem ou nenhuma mulher que dê conta da tarefa de realizar o maior evento esportivo do planeta. É importante ter tranquilidade, sem ansiedade. Ainda há tempo, o Brasil está dentro do cronograma para a realização do evento.
Qual seu objetivo à frente da Embratur? A palavra é avançar, porque temos um patamar já bastante bom, que conseguiu consolidar o Brasil como um dos dez principais destinos turísticos no seguimento de eventos. Temos hoje mais de 5 milhões de turistas estrangeiros, conseguimos trazer para a economia brasileira mais de 6 bilhões de dólares no ano passado. E temos uma imensa janela de oportunidades à nossa frente, representada por uma sequência de eventos, como os Jogos Mundiais Militares na próxima semana. Depois teremos Rio+20 em 2012, Copa das Confederações em 2013, Copa do Mundo em 2014, Copa América em 2015 e Olimpíadas em 2016.
E qual será o papel da Embratur na Copa do Mundo de 2014? A expectativa é de receber 600.000 turistas estrangeiros durante o evento. Nossa grande missão é fazer com os que os turistas voltem e, com isso, a gente atinja as nossas metas de dobrar o número de turistas e triplicar o número de divisas oriundas da atividade de turismo após os eventos esportivos.
Revista Veja