Uma geração que ainda não soltou com vontade o grito de campeão. Eles nasceram logo após a época mais vitoriosa do Vasco, cresceram vendo o time do coração acumulando maus resultados e passando pela fase mais difícil da história. Mas estão perto de explodir de alegria, de comemorar o primeiro título de expressão. Quem vê o tamanho deles não imagina a paixão que está por trás dessas feições infantis. Crianças de sete a 11 anos que se emocionam ao entrar na sala de troféus do Vasco e passear por momentos que, finalmente, estão perto de presenciar.
A empolgação da garotada com a possibilidade da conquista do título inédito da Copa do Brasil e a volta para a Taça Libertadores depois de dez anos está estampada nos rostos, nos sorrisos. Os pequenos torcedores trazem os nomes dos jogadores na ponta da língua e mostram saber mais sobre o Vasco do que muitos marmanjos por aí.
O comportamento das crianças, considerado exagerado na opinião de algumas mães, mostra que a fascinação pelo futebol não tem idade. Julia Ramos, de oito anos, é a prova: aos seis, chorou quando conheceu a sala de troféus do Vasco. Uma emoção difícil de entender para alguém tão jovem.
– Eu passei mal quando entrei lá, até chorei. A sala é muito grande, eu não imaginava que era assim. Fiquei muito feliz – conta a pequena vascaína.
Julia, que é e filha de um rubro-negro, confessa que também caiu no choro na derrota para o Flamengo na final da Taça Rio, segundo turno do Campeonato Carioca de 2011, mas promete descontar todo o sofrimento na próxima quarta-feira:
– Vou zoar meu pai e esfregar o título na cara dos meus amigos.
Jairo Rocha e Lucas Fonseca, de 11 e 9 anos, respectivamente, queriam viajar e ir ao segundo jogo contra o Coritiba, no Paraná. Mas não convenceram os pais. Vão ficar, então, com os olhos na televisão. Eles mostram conhecer bem a história do clube. Lucas lamenta o pênalti perdido por Edmundo na final contra o Corinthians no Mundial de Clubes da FIFA em 2000, no Maracanã, ano em que não tinha nem nascido:
– Até hoje eu não acredito quando vejo aquela imagem
Ídolos do passado ainda não são tão lembrados pelos pequenos torcedores. Além de Edmundo, eles lembram de Romário e de um outro jogador que está pertinho de voltar. O nome de Juninho Pernambucano foi citado pelas crianças mostrando que a expectativa em torno de sua estreia é grande. Já os destaques do time atual saem com facilidade… Felipe, Bernardo, Fernando Prass, Diego Souza, Alecsandro, Eder Luis, Dedé…
– Só Dedé para o Messi – fala, sem medo, Lucas Fonseca.
Tentar convencê-los a mudar de time parece ser uma tarefa árdua. Yan Berruezo, de 10 anos, leva a mãe, torcedora do Fluminense, aos jogos do Vasco. Julia diz que o pai fez o que pode, prometeu dar presentes, mas o sangue vascaíno foi mais forte. Toda a família da mãe da pequena cruz-maltina torce pelo Time da Colina, inclusive a prima Marcella Ramos de oito anos. Marcella é filha de uma tricolor, o que não evitou que ela e a irmã mais velha começassem a catequizar a caçula:
– As duas já fantasiam a irmã de sete meses com roupas do Vasco – conta a mãe, Marília.
Ao serem perguntados se estão nervosos com a partida contra o Coritiba, a resposta é imediata e vem em coro, como se tivesse sido ensaiada:
– Sim! – gritam eufóricos.
Mas a certeza do título é tão grande ou maior do que o nervosismo.
– Mesmo sendo tarde vou assistir ao jogo até o final e vou ver o Vasco ser campeão – confia Kaio Vicente, de sete anos.
As comemorações para a conquista do título já estão planejadas. Os 12 torcedores pretendem ir à escola vestindo a camisa do Vasco por baixo do uniforme na quinta-feira. Lucas Souza, de 10 anos, já comprou a faixa de campeão. Matheus de Almeida, também de 10 anos, quer soltar fogos ao lado do pai, e Lucas Fonseca promete fazer muito barulho no ouvido dos flamenguistas, uma rivalidade, aliás, que é aprendida desde cedo!
Se os jogadores do Vasco dependerem da confiança e da energia desses pequenos torcedores para conquistarem a Copa do Brasil, a taça já está garantida em São Januário. Mais uma vez, o time da Colina vai fazer a Julia chorar. Só que com muita felicidade.
Reportagem: Luma Dantas / Foto: André Durão / Globoesporte.com