Sebastian Vettel chegou a Abu Dhabi sem nenhuma intimidade com o topo da tabela da Fórmula 1. O alemão da RBR não liderou a temporada em momento algum e entrou na última prova do ano como azarão para conquistar o título. Foi apresentado à liderança na hora certa, disse “muito prazer” e levantou uma taça que parecia improvável. Vettel largou na pole neste domingo, não olhou mais no retrovisor e empurrou a enrascada para quem vinha atrás. Ainda era preciso secar Fernando Alonso, que só precisava chegar em quarto para ser tri. Parecia pouco, mas não era. O alemão de 23 anos viu o espanhol cruzar em sétimo e, eufórico, tornou-se o piloto mais jovem a erguer um troféu da categoria.
Dono de 10 pole positions no campeonato de 2010, Vettel nunca precisou tanto confirmar a rapidez da sua RBR. No circuito da Yas Marina, só abriu mão do primeiro lugar por alguns instantes, quando parou nos boxes. E contou com a sorte de ver Alonso engarrafado lá atrás.
Lewis Hamilton, da McLaren, cruzou em segundo, mas suas chances de título eram remotas demais para buscar o milagre. Campeão em 2009 e sem chances em Abu Dhabi, Jenson Button foi o terceiro, seguido pelos intrusos Nico Rosberg, da Mercedes, Robert Kubica, da Renault, e seu companheiro Vitaly Petrov. Alonso terminou em sétimo, à frente de Mark Webber, que em nenhum momento deu esperanças de ganhar o título. Resta ao australiano de 34 anos ver o companheiro, 11 anos mais jovem e queridinho da equipe, levantando o troféu.
O triunfo de Vettel coroa um ano perfeito para a RBR, que já tinha conquistado o Mundial de Construtores por antecipação em Interlagos. Um prêmio à escuderia que em nenhum momento fez jogo de equipe e liberou seus pilotos para a disputa interna na pista. A Ferrari, mesmo com a polêmica troca de posições no GP da Alemanha, bate na trave com o vice-campeonato de Alonso, quatro pontos atrás do alemão.
O espanhol ainda saiu da temporada pelas portas dos fundos. Ainda na pista, após a bandeirada, reclamou com Petrov por não ter lhe dado passagem. Saiu do carro vaiado, enquanto o russo era aplaudidíssimo por ter segurado o piloto da Ferrari na maior parte da prova. Fernando foi o único a não cumprimentar Vettel após a corrida, e a escuderia italiana sumiu da festa do pódio, que geralmente tem representantes de todos os times: não havia macacões vermelhos.
O alemão não estava nem aí para o chororô da Ferrari. Choro genuíno foi o seu, feito criança, pelo rádio. Ainda ao volante, agradeceu à RBR. No pódio, com os cabelos rebeldes bagunçados, ergueu os braços, levou as mãos ao rosto duas vezes e encheu os olhos d’água. Tomou um banho de champanhe de Button e Hamilton, os dois campeões anteriores. Está passada a faixa. A Fórmula 1 tem um novo campeão. Novíssimo. O mais novo de todos os tempos.
A corrida já começou tensa. Vettel manteve a ponta, seguido por Hamilton, mas Alonso perdeu a terceira posição para Button. E os holofotes, enfim, se voltaram para Michael Schumacher. Não do jeito que o alemão gostaria, claro. Com um discreto nono lugar na classificação da temporada, o alemão só atraiu a atenção quando sua Mercedes rodou na primeira volta e parou no meio da pista, virada na contramão. O italiano Vitantonio Liuzzi não conseguiu desviar e escalou o carro de Schumi. Safety car na pista durante cinco voltas.
Na hora da relargada, o cenário era de limite para Alonso. O espanhol precisava resistir aos ataques de Webber e segurar a quinta posição, para que o título não caísse no colo de Vettel. Ainda havia 50 voltas pela frente, mas o piloto da Ferrari começava a ver o tricampeonato escapando.
Enquanto o alemão da RBR mantinha a ponta, Alonso estava em 11º na metade da corrida – posição fictícia, já que vários rivais ainda precisariam passar pelos boxes. Mas o espanhol se via preso atrás de Petrov e Rosberg, e aí não havia ficção alguma, porque os dois também já tinham parado. Era preciso ultrapassá-los para encostar a mão na taça.
Quando Vettel fez sua parada, Button assumiu a liderança. Era apenas um alento para o campeão de 2009, que cumpria tabela nos Emirados Árabes e ainda seria obrigado a fazer o pit stop. Foi o que aconteceu na 40ª volta, quando o piloto da RBR retomou seu posto de líder, voando a caminho do título. No retrovisor, ele via Alonso em oitavo, ainda com Petrov e Rosberg no meio do caminho.
Robert Kubica parou na 47ª volta e retornou na frente de Alonso, complicando ainda mais a vida do bicampeão. Àquela altura era preciso ganhar três posições na base do acelerador, sem pit stops. O título caminhava em alta velocidade para o colo de Vettel, que só precisava trazer o carro até a bandeirada final. Foi o que aconteceu.
A Fórmula 1 conheceu seu mais jovem campeão, roubando por cinco meses o posto que era de Lewis Hamilton e já tinha sido de Fernando Alonso. Prêmio para quem foi rápido durante todo o ano, apesar de só ter conhecido a liderança na última corrida. Quando importava.
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