O goleiro Pato Abbondanzieri, do Getafe, sabe bem o que é a tradição do Boca Juniors na Libertadores: com o time, conquistou três vezes o principal campeonato das Américas (2000, 2001 e 2003). Por isso, nem pensa duas vezes em apontar a equipe argentina como favorita no confronto com o Fluminense na semifinal.
Pato vai mais além. Para ele, enquanto o Boca é uma potência no torneio, o Tricolor carioca ainda está engatinhando. O goleiro afirma que só o São Paulo teria chances de vencer o clube de Riquelme atualmente:
– O Fluminense não tem tradição – diz, nesta entrevista em Madri, às vezes falando como se ainda jogasse no Boca.
Confira o papo com Abbondanzieri sobre a classificação do Boca para a semifinal e o confronto entre brasileiros e argentinos na Libertadores:
GLOBOESPORTE.COM: O que explica os resultados do Boca, como este último contra o Atlas (3 a 0), fora de casa?
ABBONDANZIERI: Fácil. O Boca atingiu um grau de experiência na América do Sul que nenhuma outra equipe tem. A pressão era do Atlas, e não do Boca, por mais contraditório que possa parecer. Os jogadores do Boca sabiam que fariam os gols. Já os jogadores do Atlas não sabiam como lidar com a vantagem de dois empates (0 a 0, 1 a 1). É uma questão de mentalidade.
GLOBOESPORTE.COM: Isso é trabalhado no vestiário, na concentração…
ABBONDANZIERI: Não é algo dito, mas é sentido. Só os títulos para montar uma equipe assim. Às vezes a gente se olha e transmite calma, queremos dizer “tranqüilos, vamos jogar”. Isso quando não são jogos contra os times brasileiros. Aí tudo muda.
GLOBOESPORTE.COM: Será? O Boca tem um excelente retrospecto contra brasileiros na Libertadores.
ABBONDANZIERI: (pausa) A ver… Como te explico? Nós, argentinos e brasileiros, empatamos em vontade e técnica. O que faz a diferença é o peso específico que tem o Boca. Administramos melhor os resultados, em casa e fora. O que queria dizer é que a preparação para uma partida contra um time brasileiro é diferente. Entram questões de orgulho, motivação. É como se fosse um jogo entre as duas seleções, entende?
GLOBOESPORTE.COM: Não, porque os brasileiros também se motivam para enfrentá-los.
ABBONDANZIERI: (risos) É difícil mesmo de explicar, mas é muito gostoso viver tudo isso. Eu gosto do estilo dos brasileiros. O instinto de vocês é atacar, sempre, já o Boca respeita a tática de jogo em cada instante da partida. Atacamos, sem perder a formação defensiva de vista. Veja a partida contra o Cruzeiro.
GLOBOESPORTE.COM: Quem é o favorito para ganhar a Libertadores?
ABBONDANZIERI: Boca. O único que poderia ganhar do Boca era o São Paulo. O Fluminense não tem tradição. Acho que já chegou longe, e a partir de agora vai faltar o que Boca e São Paulo têm, que é a tal experiência.