Páginas da Vida, novela da TV Globo, vem trazendo para a ficção um problema pouco explorado por mulheres e adolescentes: a bulimia. Na trama, Giselle, personagem da atriz Pérola Faria, é uma adolescente que convive com a bulimia desde criança, devido a grande pressão psicológica imposta pela mãe que exige que ela seja magra para se tornar uma grande bailarina.
Como nas cenas da novela, a pessoa que sofre desse distúrbio alimentar tem uma conduta caracterizada por episódios repetidos de comer compulsivo, seguidos pela culpa que gera o ato da purgação (vômito auto-induzido ou ingestão de laxantes e/ou diuréticos). Esse é um dos distúrbios alimentares mais graves, e causa sérias conseqüências nutricionais. Considero a iniciativa da novela importante, pois a bulimia, bem como a anorexia, são assuntos velados entre as mulheres, alerta o presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, o médico nutrólogo, Dr. Durval Ribas Filho.
Mulheres, o público-alvo
A bulimia afeta predominantemente o público feminino. Dados apresentados no Simpósio de Tratamento dos Distúrbios da Conduta Alimentar, em meados de setembro, durante o X Congresso Brasileiro de Nutrologia, revelaram que em média apenas 5% dos casos de bulimia são em garotos.
O bulímico apresenta uma grande preocupação em relação à forma e ao peso corpóreo, é uma doença diretamente relacionada com o conceito de padrão de beleza da sociedade moderna, é por isso que o público prevalecente é o de mulheres na fase da adolescência. As atletas também são alvo nas estatísticas, com um agravante: geralmente não percebem a doença. Por serem atletas, minimizam as conseqüências da doença por acharem que com elas, não haverá repercussão para a saúde. Porém, na verdade, na ânsia de trabalhar o corpo na busca de resultados perfeitos, incorporam características típicas de quem sofre de distúrbio alimentar e dificilmente aceitam esse diagnóstico, destaca Dr. Carlos Alberto Werutsky, diretor da ABRAN, e palestrante do tema no evento.
A magreza nas passarelas
A atual ditadura da beleza impõe que bonito é ser magro. No mundo da moda, os estilistas buscam meninas e mulheres cada vez mais jovens, altas e magras para desfilar as coleções das mais famosas grifes do mundo. Referência para boa parte das adolescentes, as modelos optam por todas as alternativas para se adequar ao padrão esquelético que as passarelas exigem, e muitas vezes ficam doentes.
Por serem consideradas maus exemplos para os jovens, a Espanha foi o primeiro país a vetar a participação de modelos que seguem o estilo anoréxico com o Índice de Massa Corporal (IMC) menor que 18 dos desfiles da semana de moda mais tradicional do país, a Pasarela Cibeles. Se proibir é a melhor alternativa no caso dessas moças não podemos garantir, porém a preocupação espanhola é conveniente visto que a bulimia é uma doença grave, tem índice de mortalidade de 0,5%, e pode provocar outros males como doenças gastro-intestinais, esofagite de refluxo e perda dos dentes, ressalta Dr. Ribas Filho.
Como tratar a bulimia
Várias medidas podem ser tomadas, para a reversão desse quadro. Hoje em dia é tão natural o jovem fazer dietas, ir à academia, evitar ao máximo as calorias, que reconhecer uma pessoa que sofre de transtorno alimentar é o primeiro e mais difícil passo. O bulímico disfarça muito bem. É preciso que os familiares fiquem atentos, pois essas pessoas chegam a ingerir de 2 a 2 mil e quinhentas calorias por dia, para saciar o desejo compulsivo de comer, e continuam com o peso habitual. Depois quando bate o sentimento de culpa, sofrem, se sentem muito mal e querem se livrar de tudo que ingeriram, explica.
As principais conseqüências geradas pela bulimia são a perda de muitos nutrientes, sobretudo do potássio, e a depressão causada pelo grande sofrimento psicológico. Portanto, a cura dessa enfermidade depende essencialmente de duas modalidades de terapia, a psicoterapia e o tratamento medicamentoso.
A psicoterapia, geralmente realizada por um terapeuta com experiência em distúrbios alimentares, mostra-se, geralmente, muito eficaz. Um medicamento antidepressivo, freqüentemente, pode ser útil no controle da bulimia nervosa, mesmo quando o paciente não apresenta depressão evidente. Durante o tratamento, uma dieta balanceada é fundamental para a reeducação desse paciente que deverá seguir novos hábitos alimentares.
Sobre a ABRAN
A ABRAN Associação Brasileira de Nutrologia é uma entidade médica científica, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina. Fundada em 1973, dedica-se ao estudo de nutrientes dos alimentos, decisivos no diagnóstico, na prevenção e no tratamento da maior parte das doenças que afetam o ser humano, as enfermidades nutricionais. Reúne 3.200 associados, médicos nutrólogos, cientistas, pesquisadores e profissionais na área de nutrição, que atuam no desenvolvimento e atualização científica em prol do bem estar nutricional, físico, social e mental da população.
Outras informações: [email protected] ou pelo telefone: (11) 3817 7974