Se você foi à praia nestas férias e levou um popular “caldo”, sentiu na garganta e nos olhos a quantidade de sal que existe na água do mar. O que pode ter levado a se perguntar por que, afinal, a água dos oceanos é salgada.
Para saber a resposta, é preciso voltar no tempo, cerca de 4 bilhões de anos. “Durante a formação da Terra, enormes quantidades de vapor de água foram liberadas por vulcões e se acumularam em uma atmosfera primitiva”, afirma o oceanógrafo Ricardo Cardoso, do Aquário de São Paulo.
“Conforme a temperatura do planeta foi baixando, ocorreu a condensação desse vapor e a Terra passou por extensos períodos de chuvas. A superfície terrestre foi literalmente lavada e grandes quantidades de minerais foram carregados para se acumular com a água nas depressões mais fundas do planeta”, diz o especialista.
Quanto sal?
Segundo o U.S. Geological Survey, centro de pesquisas ligado ao governo norte-americano, não é fácil calcular a quantidade de sal presente nos oceanos. Muitos cientistas estimam que seja algo em torno de 50 trilhões de toneladas. Se tudo isso fosse retirado da água e distribuído sobre a superfície terrestre, a camada teria aproximadamente 150 metros de profundidade. Ou seja: é muito sal.
Como cerca de 97% da água do planeta está nos oceanos, dá para concluir que os rios e as chuvas não são suficientes para alterar a salinidade. Vale lembrar que o sal não evapora com a água, por isso a chuva é “doce”.
De um modo geral, a água do mar apresenta cerca de 35 gramas de sal para cada litro. Mas essa proporção pode variar um pouco, dependendo da região. Perto dos polos, por exemplo, a salinidade é menor por causa do derretimento constante do gelo e da precipitação.
Já no Mar Morto, a concentração chega a cerca de 300 gramas por litro. “É um mar restrito, isolado dos oceanos e que recebia um aporte de água doce oriundo do Rio Jordão. Porém, esse aporte foi reduzido drasticamente pelo aumento de captação de água do rio, que é a única fonte de água doce da região”, diz o oceanógrafo Ricardo Cardoso. Sem a chegada de água suficiente do rio, o Mar Morto vem perdendo volume e sua concentração de sais vem aumentando.
Ainda de acordo com o U.S. Geological Survey, o cloreto de sódio (popular sal de cozinha) constitui pouco mais de 85% dos sólidos dissolvidos na água do mar. Já nos rios, representa menos de 16%. Os rios também possuem bem mais cálcio, bicarbonato e sílica que o mar, o que pode ser explicado, em parte, por criaturas marinhas que extraem esses elementos para construir suas conchas, casas e esqueletos.
Dessalinizar é difícil
A enorme quantidade de sal presente na água do mar a torna inviável para matar a sede. E transformar esse líquido em potável ainda é algo muito caro. Segundo o oceanógrafo do Aquário de São Paulo, o processo é demorado, os filtros são muito sofisticados e a produção é pequena perto do resíduo gerado.
Pelo método mais moderno, chamado de osmose reversa (utilizado em alguns países do Oriente Médio, por exemplo), são necessários dois litros de salmoura (líquido cheio de sal) para gerar apenas um litro de água doce. Para resolver o problema da falta de água em grandes cidades, como São Paulo, a quantidade de resíduo seria tão grande que, possivelmente, contaminaria o solo ou outras fontes de água.