Quando tudo está bem, desejamos que nada mude. Queremos uma juventude que não acabe, um fim de semana prolongado, a saúde e a disposição de uma criança brincalhona. No entanto, sem saber, não preservamos aquilo que é mais intrínseco e essencial à vida: o movimento. Tudo o que está vivo e saudável se move – seja se locomovendo no espaço, transformando-se internamente, gerando novas vidas. Nem mesmo as águas de um rio são sempre as mesmas, e até as nuvens no céu nunca paralisam.
Na Grécia Antiga, o filósofo Aristóteles já havia percebido isso. Ele dizia que se mover não é apenas se deslocar no espaço, é também mudar, alterar uma condição da natureza, crescer e gerar, adoecer e curar, nascer e morrer. Não por acaso, são todas as transformações pelas quais o ser humano passa ao longo de uma vida – todas elas, mais uma vez, sinônimo de contínuo movimento. No entanto, no mundo moderno, onde as possibilidades de grandes deslocamentos pelo planeta aumentam, encurtando distâncias, o homem parece estar se esquecendo dos movimentos mais simples da vida diária, daqueles que fazem seus músculos se manterem fortes, que ajudam seu coração a bombear melhor o sangue pelo corpo, que dão força para os ossos permanecerem firmes e que estimulam as atividades da mente. Não precisamos de muitas evidências científicas para afirmar que o movimento é essencial à vida e em todas as suas fases,. Temos de redescobrir o quanto o movimento é necessário para que a vida fique melhor.
A infância
Logo que nasce, instantaneamente o bebê se mexe. Descobre o corpo fazendo movimentos com os braços, as mãos, a cabeça. Ele toca os outros, aprende a segurar objetos explorando os movimentos das mãos. Com o passar dos meses, vai preparando sua estrutura para sentar, rolar, engatinhar. Logo aprende a andar, dá seus primeiros pulos, sobe os primeiros degraus. Conforme cresce, descobre os movimentos mais finos, mais delicados, a disciplina e a coordenação que eles exigem para serem realizados. Tudo isso num processo natural. A criança percebe que precisa se movimentar constantemente. É uma percepção natural.
O movimento das crianças está em toda parte, e isso é notado na agitação de seus jogos e brincadeiras, em grupos ou sozinhas .
Mesmo assim, quando eles chegam perto da idade escolar, o incentivo dos pais e dos professores é bastante bem-vindo – e traz resultados para a saúde dos pequenos, prevenindo doenças como obesidade, diabetes e colesterol elevado, tão presentes nos dias de hoje, inclusive nessa faixa etária. Habilidades físicas devem ser valorizadas durante o divertimento, como correr, jogar, saltar. Quando se atinge os cinco anos, é importante que a criança já tenha tido contato com diferentes esportes, levando em conta, claro, a preferência dela.
A adolescência
Segundo os especialistas, estimular uma rotina com bastante movimento na infância é mais fácil, já que os pais podem aproveitar a energia da criança, que está descobrindo o corpo e o mundo. As dificuldades começam quando chega a adolescência, fase dominada por alterações existenciais, físicas, sociais e emocionais. O adolescente passa mais tempo sentado na escola, porque seus horários de estudo são mais extensos, começa a se interessar mais por computador e videogame, que o deixam esparramado no sofá ou na cadeira, andam mais de carro com os pais, começam a sair com os amigos. Isso começa a desviar a atenção e o foco das atividades com movimento. Aparecem outras demandas, e ele entra numa fase de maior atividade intelectual.
Há movimento em tudo que é próprio da vida, pois o que é vivo se transforma continuamente. E a saúde é um dos mais belos exemplos do movimento em busca constante de equilíbrio e transformação .
Na adolescência ocorre uma explosão de hormônios, que transformam o corpo, despertam a sexualidade e ajudam uma criança a virar um adulto – e o adolescente saudável deve mesmo passar por todas essas mudanças, aprendendo a conciliar as angústias e as descobertas com o corpo em desenvolvimento. Entretanto, o recado é não deixar o movimento de lado – mesmo com uma rotina diferente, ele sempre tem seu espaço, seja na prática regular de um esporte, de aulas de dança, de caminhadas, de preferir as escadas aos elevadores de prédio. É uma educação que, dada na hora certa, pode preparar o adolescente para se tornar um adulto mais ativo, consciente da importância de estar em movimento em seu dia a dia.
A vida adulta
Chega a hora de a mulher engravidar, e mais uma grande transformação acontece em sua vida. De mulher, geralmente ela passa a ser também mãe. O corpo vira a casa para gerar um bebê, que crescerá com ela e dependerá, durante nove meses, de tudo o que ela fizer. Juntamente com as mudanças emocionais, o cuidado com a alimentação e a preparação da casa, vem a necessidade do preparo físico, sempre seguindo orientação médica. Uma grávida ativa é mais saudável, controla o peso e se prepara melhor até mesmo para o parto. Em outras palavras, ela suporta melhor as transformações pelas quais passa durante uma gestação. Além disso, mantendo-se em movimento, ela pode evitar hipertensão e diabetes gestacional, problemas passíveis de ocorrer nessa fase. Mais uma vez, surge a necessidade de manter o movimento em todas as suas esferas: do bebê, que se desenvolve; do corpo, que muda; da cabeça, que deve acompanhar a nova fase. Ou seja, de todo organismo, que precisa se adaptar às mudanças de maneira saudável.
Segundo Aristóteles, movimento é também mudança, e ela é própria daquilo que é vivo: nascimento e morte, crescimento e envelhecimento, e todas as transformações de seu corpo e mente ao longo da vida.
O homem adulto também deve manter o movimento na sua rotina, de preferência incluindo uma atividade física regular. Imobilidade é doença. Não há dúvida de que, dentro de limites, o movimento leva todo mundo à saúde. A mensagem continua a mesma para homens e mulheres: é preciso ter músculos fortes para suportar o peso da estrutura óssea, corpo alongado para relaxar melhor e resistência cardíaca e pulmonar para aumentar o fôlego. Para quem não pode fazer uma atividade física regularmente, comece se espreguiçando na cama, depois troque o elevador pela escada, deixe o carro na garagem e ande até a padaria, saia para passear com o cachorro, limpe a casa, jogue bola, caminhe no parque, dê uma volta no quarteirão. No começo parecerá difícil e cansativo, mas com o tempo ficará prazeroso e agradável, até a hora em que o próprio corpo pedirá por mais e mais atividade física.
O envelhecer
Mesmo com tudo isso, a tendência das pessoas é deixar se de movimentar com o passar do tempo. Isso não quer dizer necessariamente que ela viverá menos, mas que, muito provavelmente, terá de conviver com problemas que poderia ter evitado. Quem não se movimenta enfrenta com mais dificuldades a degeneração de articulações e cartilagens, que ocorre com o envelhecimento. Também terá mais dores e músculos mais frágeis para continuar realizando atividades cotidianas.
Mas não é só movimento físico, e sim, como já dizia Aristóteles, um processo único: mente e corpo precisam se movimentar para estarem saudáveis. Mesmo se, por ventura, ocorrerem exigências menores de atividades intelectuais, pessoas na terceira idade precisam de estímulos para o cérebro: palavras cruzadas, aulas de idiomas, jogos, entre outros desafios. Mesmo com uma condição física diferente daquela da juventude, precisam de ginástica e movimento. Temos uma mente complexa e um corpo com mais de 206 ossos, 260 articulações e 639 músculos, que se contraem todos os dias. Isso por si só já justifica a necessidade do movimento constante.