Componentes genéticos O alcoolismo é uma doença multifatorial, ou seja, tem origem em várias causas. Além do papel do ambiente no comportamento da pessoa, sabe-se que componentes genéticos são peças fundamentais nesse quebra-cabeça. A descoberta veio no século 20, quando os cientistas perceberam uma incidência maior da doença entre familiares de alcoolistas. Na época, as experiências foram realizadas com gêmeos monozigóticos (idênticos) e dizigóticos. Pesquisadores perceberam que, quando um dos gêmeos idênticos se torna alcoólatra, o irmão tem mais chances de ficar doente, comparando-se um caso como este ao de irmãos não-idênticos. Na prática, isso significa a presença de um componente genético na origem da doença. Hoje, os estudos se voltam para a análise dos genes. Já foram identificados vários genes, normalmente no cérebro, que influenciam no desenvolvimento da dependência. Só que são muitos genes com pequenos efeitos cada um. Isso impede que se faça um diagnóstico genético para tentar decifrar quem tem predisposição ao alcoolismo, o que poderia ajudar na prevenção . Apesar de serem influenciadores desse processo, os genes não são determinantes. Fatores cultural, ambiental e comportamental da pessoa são outras peças importantes que levam ao alcoolismo.
Não são apenas os alcoolistas que bebem diariamente os que sofrem com efeitos nocivos ao organismo. Pessoas que consomem apenas nos finais de semana, mas exageram na dose, também estão sujeitos a desenvolverem sérios problemas de saúde, como pancreatite (inflamação no pâncreas). Além disso, o hábito de concentrar o abuso de álcool em intervalos pequenos de tempo favorece as alterações de consciência, estado que deixa o paciente mais vulnerável a se envolver em acidentes de carro ou em episódios de violência. Outra vítima comum é o alcoolista que não sabe que é dependente. Em alguns estados brasileiros como o Rio Grande do Sul, esse comportamento é comum nas regiões de colonização italiana, onde a cultura favorece o consumo diário de vinho, mesmo que em quantidades moderadas. São pessoas que bebem todos os dias por muito tempo, desde a infância, como um hábito natural, da terra. Só que quando surge alguma complicação de saúde ou são hospitalizadas e precisam parar de beber por muito tempo, descobrem a doença. Esses pacientes são os mais difíceis de serem detectados. Eles passam despercebidos ao longo dos anos, afinal de contas, no seu meio cultural é aceito o consumo diário de vinho.
Quem enfrenta a dependência em álcool costuma ter outros desafios a serem superados na área psiquiátrica. É comum que doenças como comportamento bipolar, ansiedade e depressão precedam, sucedam ou caminhem lado a lado com as manifestações do alcoolismo. Entre os alcoolistas, por exemplo, mais de 30% apresentam transtorno de atenção e hiperatividade, que começa a se manifestar na infância. Por outro lado, diagnosticar essas doenças abre um leque de possibilidades para se fazer a prevenção do alcoolismo. Essas doenças elevam o grau de complexidade na recuperação. Uma pessoa ansiosa pode querer utilizar o álcool como tranquilizantes e ter uma recaída. O mesmo vale para depressivos ou pessoas de comportamento bipolar. Se os sintomas não estiverem controlados, podem funcionar como uma gatilho que dispara a vontade de beber. Além disso, os vícios também podem ser complementares. Um exemplo prático e que se tornou uma epidemia é a do crack. Hoje, é grande a demanda nos centros de reabilitação, e a droga não costuma vir sozinha. Muitos usuários de crack também fumam e bebem bastante. São dependências interligadas. Um hábito leva ao outro, e no final o paciente tem de ser tratado de todos e ter atenção redobrada. Caso contrário, a recaída em um vício pode levá-lo a outros.