Proibição do fumo não emplaca China

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PEQUIM – um homem bem vestido entra no elevador de um prédio de alto nível com um cigarro aceso numa manhã recente e algo inesperado acontece. Uma mulher de meia-idade com um pequeno Maltês no colo abana as mãos diante do rosto e tosse forçosamente para obter o desejado: o homem pisa sobre o cigarro e murmura desculpas.

Em um país em que uma em cada quatro pessoas é fumante e onde médicos acendem cigarros em corredores de hospitais e ministros da saúde tragam durante reuniões, esse foi um pequeno sinal de que uma década de fracas campanhas públicas contra o fumo pode ter conquistado algum espaço.Em maio, o governo municipal proibiu o fumo em escolas públicas, estações de trem, prédios de escritório e outros espaços públicos. Atletas chineses já não podem aceitar o patrocínio de companhias de tabaco. Propagandas de cigarros em outdoors serão restringidas durante as Olimpíadas. O primeiro-ministro Wen Jiabao declarou que os jogos serão “livres de fumaça”.

Apesar das novas leis e regulamentações, o impacto pode ser imperceptível para os visitantes que chegarem à capital no próximo mês. A maioria dos restaurantes permanece envolta em fumaça, o ar em boates e bares pode ser asfixiante e uma proibição de um ano contra o hábito de se fumar nos táxis de Pequim teve pouco efeito.

Autoridades do governo dizem que 100,000 inspetores foram treinados para multar os fumantes, mas a taxa de US$1.40 oferece pouco incentivo.

Li Baojun, gerente de um popular restaurante da Rua Ghost, explicou porque não se atreve a dizer aos clientes que parem de fumar durante as refeições. “Meus clientes iriam preferir não comer do que não fumar e eu iria à falência”, ele disse, e uma densa nuvem tomava conta do local. “Na China, não se pode beber, comer ou sociabilizar sem um cigarro”.

Cerca de 350 milhões de pessoas, da população de 1.3 bilhões da China, são fumantes regulares, mais do que toda a população dos Estados Unidos e mesmo que 1.2 milhões de pessoas morram todos os anos por causas relacionadas ao fumo, há uma crença generalizada de que os cigarros fazem algum bem à saúde.

Um cigarro pela manhã é energético, muitos fumantes declaram, e mesmo quando confrontados com dados científicos eles citam Deng Xiaoping, um fumante inveterado que viveu 92 anos, e Mao Zedong, que viveu 82.

Fumando com uma mão e segurando um par de hashis com a outra, Li Na, 26, secretária, não parece se envergonhar por seu filho de dois anos estar sentado a seu lado no restaurante envelopado em uma nuvem de fumaça. “Se você superprotege seus filhos eles não criam imunidade própria”, ela explicou. “Respirar um pouco de fumaça quando pequena torna a criança mais forte”.

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