Antioxidantes,vitaminas,vinhos… O que ajuda a prevenir doenças cardíacas?

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A lista de suplementos “milagrosos” é grande, mas a maioria não traz qualquer benefício à saúde. Alguns podem até prejudicá-la.

Milhões de pessoas em todo o mundo cumprem um rigoroso ritual todos os dias: ingerem suas doses de vitaminas E, A (betacaroteno) e D, entre outras substâncias antioxidantes que, supostamente, irão protegê-las de um infarto ou derrame (AVC – acidente vascular cerebral). Elas estão certas em se preocupar. As doenças cardiovasculares lideram as causas de morte – no Brasil, assim como na média dos países do mundo, elas respondem por cerca de um terço do total de óbitos. Por outro lado, essas pessoas estão erradas ao achar que os suplementos poderão protegê-las desses males. A grande maioria dessas vitaminas simplesmente não funciona na prevenção de doenças cardíacas.

É verdade que esses e muitos outros produtos são antioxidantes. Também é verdade que o processo de oxidação no organismo (provocado por excesso de consumo de alimentos calóricos, bebidas alcoólicas e cigarro, entre outros) modifica o LDL (lipoproteína de baixa densidade, conhecido como “mau colesterol”), agredindo os vasos sanguineos e desencadeando a aterosclerose, que é a formação de placas de gordura, cálcio e outros elementos na parede das artérias. Com o passar dos anos, isso leva ao entupimento dessas artérias e, em conseqüência, aos infartos, derrames e outros problemas vasculares. Seria lógico imaginar esses problemas poderiam ser evitados com suplementos de substâncias antioxidantes. É essa crença que leva os indivíduos às prateleiras de vitaminas e suplementos e alguns médicos a recomendá-las.

O vinho e a suplementação de vitaminas e substâncias antioxidantes não fazem parte das recomendações das associações médicas para prevenção de doenças cardíacas.
Seria ótimo se a fórmula funcionasse. Mas o fato é que isso não acontece, como mostram inúmeros estudos em todo o mundo. Em um trabalho publicado na prestigiada revista inglesa The Lancet, um grupo de médicos do Departamento de Medicina Cardiovascular da Cleveland Clinic Foundation, nos Estados Unidos, analisou os resultados de mais de uma dezena de pesquisas de vários países relacionadas ao uso de suplementos de vitamina E (envolvendo um total de mais de 80 mil pacientes) e betacaroteno/vitamina A (envolvendo pouco menos de 140 mil). Em nenhum dos casos foi observado qualquer benefício. A mortalidade por doenças cardíacas foi muito similar entre os grupos de pacientes que tiveram a suplementação de vitamina A ou E e aqueles que não tiveram. E mais: embora o risco seja pequeno, a vitamina E pode reduzir o HDL, o “bom colesterol”; e o betacaroteno pode estar associado ao aparecimento de tumores, como o de pleura, especialmente em fumantes.

O arsenal antioxidante em voga inclui vários outros itens, alguns menos estudados. Para o ômega 3, por exemplo, há fortes sugestões de que possa haver benefícios para os pacientes, mas ainda faltam pesquisas mais abrangentes. No caso da vitamina D, os estudos de Framingham, que vêm sendo realizados nessa cidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, desde 1948, constataram maior incidência de problemas cardiovasculares entre indivíduos com baixos níveis dessa vitamina. Mas ainda estão em andamento estudos sobre um eventual efeito positivo da suplementação.

E os famosos benefícios do vinho, especialmente o tinto? Aqui, além das evidências de que os polifenóis – substâncias presentes nas uvas – ajudam a aumentar o HDL, o que temos são estudos mostrando que a incidência de doenças cardíacas diminui nas populações de países onde o consumo da bebida é maior. São principalmente países do sul da Europa, onde, além do vinho, se consomem mais peixes, menos carnes vermelhas, mais azeite de oliva, verduras e legumes – a saudável dieta Mediterrânea. Portanto, há aí um conjunto de fatores favoráveis. Não dá para elevar o vinho à condição de agente solitário na prevenção dos males do coração. Sendo assim, não espere que seu médico vá prescrevê-lo. O máximo que ele fará será recomendar moderação (no máximo 2 taças/dia para os homens e 1 para mulheres) se o paciente tiver o costume de tomar vinho Com isso, a pessoa poderá colher os benefícios dessa bebida e ficar longe dos malefícios do excesso de álcool.

Contudo, nem vinho, nem suplementação de vitaminas e substâncias antioxidantes fazem parte das recomendações das associações médicas para a prevenção de doenças cardíacas. O que elas indicam é: ter uma alimentação saudável, fazer exercícios físicos regulares (30 minutos de caminhada cinco vezes por semana já é suficiente) e visitar o médico periodicamente para controlar fatores de risco como pressão alta, colesterol, obesidade e diabetes, aderindo aos tratamentos indicados quando necessário. São recomendações bem mais prosaicas e menos glamourosas que as poções mágicas dos suplementos. Mas de efeito comprovado.

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