Dúvidas sobre a febre amarela e doença cardiovascular?
Sim, todos estamos tendo. Nós, cardiologistas recebemos perguntas sobre vacinação contra a febre amarela durante consultas, telefonemas ou mensagens de pacientes ou familiares. Não é sem motivo, já que o surto da doença tem aparecido no noticiário diariamente e tem preocupado todo o país. Seguem abaixo 7 dúvidas e respostas com evidências sobre a relação da febre amarela e doença cardiovascular.
1) Tenho mais de 60 anos e vou viajar para área com alta incidência, devo ser vacinado?
Mesmo tendo mais de 60 anos, se não preenche os critérios de contraindicação, é recomendável a vacinação, mesmo se for portador de doença crônica como IC, DM, DAC. Se estiver dentro das contraindicações (tabela abaixo), não deve viajar ou, se for inevitável ir, usar repelente de insetos e evitar expor-se.
2) Tenho mais de 60 anos, moro em área urbana sem incidência da doença, não vou viajar para área endêmica, devo ser vacinado?
Neste caso, o risco da vacinação é maior que o benefício.
3) Um paciente com menos de 60 anos, mas portador de doença crônica (como IC, DM, DAC) pode ser vacinado?
Sim, deve. A simples presença de doença crônica não contraindica a vacinação.
4) Meu paciente é jovem e tem cardiopatia congênita complexa. Pode ser vacinado?
Sim, pacientes com cardiopatia congênita, mesmo complexa com mais de 6 meses podem ser vacinados.
5) Meu paciente é valvopata com história de febre reumática (que em última análise é uma doença autoimune) mas não tem tido atividade. Deve ser vacinado?
Não existe nada específico para a febre reumática e todas as doenças autoimunes controladas, na ausência de imunosupressão podem teoricamente receber a vacina, exceto Lúpus onde é contra-indicada, mas mesmo assim existem controvérsias.
6) A vacinação contra febre amarela causa miocardite?
O vírus da febre amarela é uma das causas de miocardite, miocardite pós-vacinal de forma isolada é possível, mas é extremamente rara.
7) Meu paciente teve miocardite sem etiologia definida. Pode receber a vacina?
Sim, pode. Não é contraindicado, tendo ou não recuperado a função ventricular.
Temos que destacar que mesmo na ausência de um consenso sobre a vacinação universal, a situação epidemiológica atual exige a intensificação em curto prazo, pelo risco de desencadear uma epidemia urbana catastrófica, de elevada morbidade e mortalidade.
Uma das mais difíceis decisões envolvendo a responsabilidade médica, está na recomendação para pacientes acima de 60 anos, a partir de quando há maior incidência de eventos adversos que, apesar de raros, podem ser graves e fatais.
Essas complicações foram relatadas em estudos com a vacina não fracionada regularmente utilizada e não sabemos se seriam ainda mais raros com a vacina fracionada que se inicia agora.
É preciso entender que esta situação, como todo surto epidêmico ou pandêmico, é dinâmica e existe a necessidade permanente de reavaliações, esclarecimentos e orientações. Assim o Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Sociedades Médicas, tem orientado que o paciente acima de 60 anos receba a vacina somente após uma autorização vacinal, o que exige uma cuidadosa avaliação do risco epidemiológico. É responsabilidade do médico a definição da proteção desta faixa etária da população. Se o paciente não for vacinado e se infectar, pode evoluir rapidamente para formas graves, além das complicações de sua doença de base.
A decisão, além daquelas comentadas nas 7 perguntas acima, envolve comparar o risco em desenvolver complicações graves com a dose inteira da vacina e o guia abaixo genérico publicado pelo Ministério da Saúde:
- Estudo do CDC (Centers for Disease for Control and Prevention)
- Pacientes não idosos: 1-2 por milhão
- Idosos de 60 a 70 anos: 1 por 100 mil
- Idosos maiores que 70 anos: 1 por 30 mil