A pesquisa Depressão, a Verdade Dolorosa, encomendada pela Federação Mundial para Saúde Mental, avaliou 377 adultos diagnosticados com a doença e 756 médicos (clínicos gerais e psiquiatras) do Brasil, do Canadá, do México, da Alemanha e da França, revelando que 64% das pessoas deprimidas relataram ausência no trabalho (uma média de 19 dias perdidos por ano) e 80% disseram ter a produtividade reduzida em cerca de 26%.
De acordo com o psiquiatra Acioly Lacerda, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a longo prazo, sem dúvida, quadros de depressão não tratados podem resultar no afastamento das atividades, provocando até mesmo demissão, já que a baixa produtividade e o desinteresse pela rotina podem afetar a avaliação do funcionário por parte dos empregadores.
— É muito importante reconhecer os sintomas, buscar ajuda médica e seguir corretamente o tratamento indicado pelo especialista. A falta de tratamento compromete a vida social e profissional do paciente — completa.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que, até 2020, a depressão passará da 4ª para a 2ª posição entre as principais causas de incapacidade para o trabalho no mundo. No mundo, estima-se que 121 milhões de pessoas sofram com a depressão — 17 milhões delas somente no Brasil. Segundo a OMS, 75% desses portadores nunca receberam um tratamento adequado.
Ambiente do trabalho pode contribuir
Competitividade, situações de estresse, jornadas de trabalho muito longas e a busca inconstante por melhores resultados e desempenho. Todas essas situações configuram um cenário oportuno para o desencadeamento de um quadro depressivo, pois o indivíduo fica exposto a situações estressantes e cobra-se mais por metas não atingidas, além de perder muito em qualidade de vida.
As atribuições do cargo também devem ser consideradas um fator de risco para a doença, principalmente para as pessoas com predisposição genética.
— Um executivo, por exemplo, que não gosta de falar em público porque se sente desconfortável e ansioso, mas precisa fazer apresentações a grupos ou dar palestras, pode ser forte candidato a se tornar depressivo. Isso porque fica exposto a situações repetitivas de estresse psicológico — exemplifica Lacerda.
Principais sintomas
— Emocionais: tristeza, perda de interesse, ansiedade, angústia, desesperança, estresse, culpa, ideação suicida.
— Físicos: baixa energia, alterações no sono, dores inexplicáveis pelo corpo (sem causa clínica definida), dor de cabeça, dor no estômago, alterações no apetite, gastrointestinais e psicomotoras, entre outras.
Segundo Lacerda, para o diagnóstico de depressão, o paciente deve reunir pelo menos cinco dos sintomas acima:
— Sendo que um deles tem de ser tristeza ou perda do interesse em atividades antes prazerosas, com duração mínima de duas semanas — comenta.
Tratamento
O objetivo central do tratamento é melhora completa dos sintomas. Como grande parte das doenças, há sempre um risco de, mesmo tratado corretamente, o paciente apresentar recaída no futuro (cerca de 80% das pessoas que apresentaram um episódio depressivo devem apresentar um ou mais episódios adicionais). A depressão, portanto, é, na maioria das vezes, uma doença crônica, assim como diabetes e hipertensão. Quando tratada adequadamente, o paciente leva uma vida absolutamente normal.
— A prática clínica mostra que a depressão, muitas vezes (cerca de dois terços dos pacientes), se manifesta emocional e fisicamente no paciente, causando diversas dores e incômodos — explica o psiquiatra.