Desde o dia em que você nasceu sua cavidade digestiva está revestida por trilhões de micróbios. Esses seres pequeninos forram toda a parede do intestino e formam um vasto ecossistema. É a microbiota, ou a popularmente conhecida flora intestinal, um complexo indispensável à saúde em que, na maioria das vezes, reina a cooperação.
Há pouco mais de uma década esse cientista esmiúça as interações entre nossos pequenos hóspedes e a digestão. Seus últimos achados indicam que um simples desequilíbrio entre as populações de algumas bactérias intestinais há algo entre 500 e mil tipos diferentes delas morando por lá pode causar obesidade. A absorção de nutrientes varia de acordo com a microbiota de cada um. Ela é um determinante da quantidade de calorias que armazenamos. Algumas pessoas absorvem mais, outras menos.
É justamente essa diferença que é abordada em seu mais recente trabalho, publicado há dois meses na revista inglesa Nature. O pesquisador e sua equipe compararam as fezes de 12 voluntários obesos com as de outros cinco participantes magros. Nas duas turmas já era esperado que a maioria das bactérias presentes nas amostras cerca de 90% delas seriam firmicutes e bacteroidetes.
Só que eis a questão os gorduchos apresentaram cerca de 20% mais firmicutes do que os voluntários em boa forma. Assim como tinham 90% menos bacteroidetes em relação aos esguios. Para confirmar se havia mesmo algum elo entre essas taxas discrepantes e o excesso de peso, os voluntários obesos foram submetidos a uma dieta com baixíssimos níveis de gordura e carboidratos. Com o regime, perderam em torno de 25% da massa corpórea e o mais intrigante as novas medidas pareceram se refletir no exame de fezes.
A proporção entre os dois times de bactérias se aproximou da dos magrinhos, ou seja, firmicutes diminuíram e bacteroidetes aumentaram. “Em uma outra experiência com ratos verificamos que os camundongos com microbiota engordavam muito e rapidamente. Algo que não aconteceu com aqueles que criávamos livres de bactérias intestinais”, diz Gordon, referindose a um outro estudo que saiu há três meses no prestigiado Proceedings of the National Academy of Sciences.
Microbiota e obesidade essa relação pode ser tão íntima quanto polêmica. Há indícios de que alguns micróbios levam ao acúmulo de gordura corporal. Porém nada está comprovado.A pesquisa levanta uma nova perspectiva, mas o mecanismo de ação das bactérias ainda não está claro.
A hipótese levantada pela equipe da Universidade de Washington indica que é possível controlar a absorção de nutrientes e o ganho de peso apenas pela manipulação dos microorganismos da flora intestinal. Essa seria, portanto, uma nova forma de combater e entender o excesso de peso. “O próximo passo é buscar terapias inéditas contra a obesidade. Já vimos que mudanças de dieta alteram nossa microbiota”, diz Gordon.
O consumo de probióticos alimentos que têm bactérias vivas entre os ingredientes poderia mudar a proporção entre habitantes do intestino se ingeridos regularmente. Assim como os prebióticos, comparáveis à ração para os microorganismos. Em tese você poderia consumir alimentos que estimulam o crescimento de bactérias específicas. Comer bastante fibra é outra coisa que modifica o mix de microorganismos presentes no intestino. Contudo, os cientistas americanos ainda precisam responder a muitas perguntas.