Uma dissertação de mestrado defendida em novembro na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) mostra os fatores de risco para a ocorrência de depressão durante a gravidez e o pós-parto. Na gestação, os fatores de risco são estar grávida pela primeira ou segunda vez e não desejar a gestação. Já na depressão pós-parto, os fatores são: não ter religião, ter um companheiro desempregado, ter tido depressão na gestação, não receber suporte do Sistema Único de Saúde (SUS), não receber ajuda para cuidar do recém-nascido e não receber ajuda do companheiro.
— A gestação e o pós-parto são os períodos da vida da mulher em que ela mais sofre de depressão — explica Valéria Feitosa, autora da pesquisa e enfermeira especialista em psiquiatria. — A rotina da mulher muda, muitas vezes ela não tem condições financeiras ou apoio da família. E ainda há as dificuldades com os hormônios.
Das 47 participantes avaliadas, 43% tiveram depressão durante a gestação e 30% durante o pós-parto. O levantamento foi feito com mulheres de baixa renda de uma maternidade em Uberaba (MG) e, segundo a pesquisadora, os dados refletem a realidade do país.
Para chegar às informações, Valéria comparou informações dadas pelas mães com dados médicos. Durante a gestação e o pós-parto, as mulheres responderam questionários sobre sua situação socioeconômica e de saúde e sobre a saúde do bebê. A pesquisadora entrevistou as mulheres para saber se elas recebiam ajuda nas tarefas diárias e tinham apoio emocional e perguntou se eram bem tratadas pelo SUS. Por fim, Valéria pediu para as mulheres preencherem dois questionários que avaliavam se elas tinham ou não depressão e a intensidade da doença.
A pesquisa aponta que as gestantes com depressão apresentaram menos problemas na gestação e seus filhos nasceram com melhores pesos e estaturas. Elas também alimentavam seus bebês de forma mais apropriada à idade. Para a enfermeira, as gestantes com depressão mais leve ficariam mais ansiosas, o que as levaria a visitar mais vezes o médico. Por outro lado, as mulheres com depressão na gestação fizeram mais cesáreas e partos com maior duração. Elas e seus filhos tiveram mais doenças.
Todas as gestantes que não desejaram a gravidez tiveram sintomas de depressão durante a gestação, mas não depois do parto. A depressão durante a gestação também foi mais frequente do que no pós-parto.
— Talvez isso aconteceu porque ainda não existe uma lista de perguntas específicas para depressão durante a gestação. Mas já existe uma para depressão pós-parto.
O estudo também revelou que não receber apoio do SUS e do companheiro são fatores de risco. As mulheres depressivas faziam todas as consultas sozinhas. Por outro lado, aquelas que diziam receber apoio do sistema de saúde adoeciam menos de depressão. A pesquisadora afirma que é fácil identificar a paciente em situação de risco, pois os hospitais costumam pedir as informações necessárias. Porém, os profissionais de saúde não as usam para prevenir ou tratar a depressão.
— Para minha surpresa, muitas pacientes me ligavam para chorar. Elas procuravam o sistema de saúde e as pessoas achavam que era bobeira ou mentira — ressalta.
Para mudar esse quadro, Valéria sugere que os médicos utilizem as escalas de medir depressão, façam grupos de acolhimento para as pacientes doentes e encaminhem as gestantes para profissionais especializados em saúde mental.
— O assunto daria uma outra dissertação. Mas, para começar, essas soluções já estariam de bom tamanho.
Eu passei por isso