A privação do sono tem levado os adolescentes a problemas
sérios de saúde. A nova doença a entrar na lista é a hipertensão
Está faltando sono de qualidade na noite dos adolescentes. A privação do descanso noturno predispõe os jovens a problemas sérios de saúde e comportamento. Males que até agora se acreditavam típicos de adultos insones, como a obesidade e a depressão, começam a se manifestar entre os mais novos. A última pesquisa sobre o assunto revelou que as noites maldormidas podem levar os adolescentes à hipertensão, um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares. Pesquisadores da Universidade Cleveland, nos Estados Unidos, acompanharam 238 meninos e meninas entre 13 e 16 anos que dormiam, em média, sete horas por dia – duas a menos que a quantidade tida como ideal. Divulgado pela revista científica Circulation, o trabalho revelou que 26% dos jovens tinham dificuldade para pegar no sono ou acordavam freqüentemente durante a noite, o que elevou em 3,5 vezes o risco de hipertensão. Outros 11% dormiam menos de seis horas por noite – e tiveram 2,5 vezes mais probabilidade de apresentar pressão alta. O sono é um item fundamental para a vida saudável, mas raramente incluído na famosa e já tão batida combinação de dieta e exercícios físicos para a boa saúde.
Os grandes ladrões do sono juvenil são os hábitos da vida moderna e a correria do dia-a-dia. Além da escola, há uma extensa lista de atividades extracurriculares a ser cumprida. Deve-se levar em conta ainda a agitada vida social (geralmente noturna) a que muitos desses jovens se submetem. O grande culpado pelas noites maldormidas dos adolescentes, porém, está dentro de seus próprios quartos. Nos últimos anos, esse aposento destinado inicialmente ao descanso foi palco de uma invasão tecnológica – televisão, DVD, aparelho de som, computador, videogame, telefone… O quarto foi descaracterizado como local de dormir e os pais perderam o controle sobre o horário de seus filhos. A noite chega e o adolescente se encastela nele. É difícil desligar, querer ir para a cama, quando se pode estar plugado ao mundo todo, o tempo todo. Quem tem mais de 40 anos certamente se lembra quando, em determinado momento da madrugada, as emissoras de televisão saíam do ar – para voltar só no dia seguinte. Hoje, no entanto, não faltam opções para manter a rapaziada acesa. Segundo Susan Redline, coordenadora do trabalho de Cleveland, o sono dos jovens, em geral, ficou bem mais curto nos últimos vinte anos. Nos Estados Unidos, 80% dos garotos e garotas de 13 a 18 anos não dormem o número mínimo de horas considerado ideal. “Quando é possível escolher entre o sono e outra atividade, a maioria opta pela segunda”, escreveu o neuropediatra americano Richard Ferber, da Universidade Harvard, no livro Bom Sono.
Os efeitos da falta de sono são especialmente perversos numa etapa da vida em que o organismo está em pleno desenvolvimento. O sono de má qualidade deixa as funções cerebrais mais lentas, o que, no caso de um adolescente, pode afetar o aprendizado e comprometer o desenvolvimento físico. Uma boa noite de repouso é importante, por exemplo, para síntese de GH, o hormônio do crescimento. Nos meninos, 80% de todo o GH é secretado nas fases mais profundas do sono, quando o descanso se torna de fato reparador. Entre as meninas, 60% do hormônio é liberado nesses estágios. A falta de GH não só atrapalha o processo natural de crescimento como acaba por prejudicar a qualidade do sono. Inicia-se, assim, um círculo vicioso extremamente arriscado.
Os estudos sobre a fisiologia do sono dos adolescentes são bastante recentes. Apenas na década de 90, por exemplo, descobriu-se que o hábito dos jovens de dormir tarde e acordar tarde não é simplesmente preguiça – e, sim, resultado da revolução hormonal a que esses meninos e meninas são submetidos nesse período da vida. Entre os adolescentes, a produção diária de melatonina, o hormônio que estimula o sono, sofre um atraso de até quatro horas em relação à da população em geral. Mesmo os jovens que dormem o necessário tendem a ficar sonolentos até o meio da manhã e alertas a partir do meio da tarde. Com base nessas descobertas científicas, algumas escolas já alteraram o horário das aulas dos adolescentes. Em muitos colégios americanos, o sinal de entrada foi atrasado em uma hora, para alívio de alunos, pais e professores. No Brasil, alguns optaram por iniciar o dia com aulas voltadas às artes ou à educação física. As alterações no padrão do sono típicas dos jovens, somadas ao estilo de vida atual, transformam a adolescência numa das fases da vida mais propensas aos distúrbios do sono. A maioria desses transtornos pode ser tratada com um simples ajuste de horários. Isso pode ser feito de forma gradativa, mas depende do pulso firme e das regras impostas pelos pais. Os remédios para dormir são uma exceção e só valem para os casos mais sérios.