A atual recessão pode fazer com que aumente o número de suicídios, temem os especialistas da saúde americanos, que evocam o fantasma da crise dos anos 1930 e seus subseqüentes dramas humanos.
A morte de Thierry de la Villehuchet, um investidor francês que se matou em Nova York depois de se ver arruinado pela fraude de Bernard Maddoff, voltou a gerar medo de uma onda de suicídios em Wall Street em conseqüência da ‘quinta-feira negra’.
“Em períodos de recessão, o índice de suicídios tende a aumentar. Isso se viu em 1929 e nos anos que se seguiram”, observou Ron Maris, ex-diretor do Centro sobre Suicídios da Universidade da Carolina do Sul. As linhas de telefone “SOS suicida” foram reforçadas nos últimos meses.
“Comprvamos um aumento do número de ligações”, afirmou Marshall Ellis, da Associaçao CrisisLink que cobre a região de Washington e recebe cerca de 2.300 consultas por mês.
Em outubro, logo depois do início da crise causada pela falência do banco Lehman Brothers, o número de ligações para a CrisisLink sofreu um aumento de 132% com relação a outubro de 2007. Sobre os cinco últimos meses, o aumento alcançou 81%.
“As pessoas estão angustiadas pelo que acontece. Estão desconectadas (da sociedade) e expressam seu medo”, observa Ellis. “Certas pessoas dizem que têm medo de perder o emprego e outras explicam que se sentem cada vez pior quanto à pouca possibilidade de encontrar trabalho”.
Em 1929, a quebra da bolsa, a chamada “quinta-feira negra”, o dia 24 de outubro, deu lugar ao mito do investidor que pulava de um arranha-céu para pôr fim a sua vida. Os jornais da época mostram, de fato, que apenas dois deles se mataram em Wall Street nos últimos meses de 1929.
Hoje, como naquela época, pular de um prédio fica, no entanto, em segundo lugar entre as modalidades de suicídio em Nova York, com 40% do total, segundo Maris.
O próprio Winston Churchill contribuiu para a lenda. O futuro primeiro-ministro britânico, que se encontrava em Nova York no momento da quebradeira geral, disse ao Daily Telegraph em dezembro de 1929 que viu um homem se jogar do 15º andar. “O pobre coitado se espatifou em pedacinhos”, relatou.
É, no entanto, verdade, que o índice de suicídios explodiu nos anos 1930, na época em que a crise deixou 25% dos americanos sem emprego. Este índice alcançou um pico em 1932, com 21,3 desempregados em cada 100.000 americanos, quase o dobro de 1920 (12,3 em cada 100.000).
O índice de suicídios, calculado de outro modo hoje, era de 11 em cada 100.000 em 2005 (última estatística disponível, segundo o Centro Nacional de Prevenção das Doenças), uma cifra globalmente estável desde o início da década e que coloca os Estados Unidos na média mundial, segundo Maris.
É sempre difícil estabelecer a causa de um suicídio. “São múltiplas”, recorda o especialista, que enfatizou que os fatores econômicos tendem a debilitar as pessoas, já vulneráveis por outras razões (alcoolismo, toxicomania, enfermidades).
Mas uma queda súbida de rendas também pode ter um papel importante.
“O dinheiro permite cuidar da depressão”, explicou Maris. “Podemos viajar e temos mais relações com toda uma série de coisas e pessoas porque somos ricos”.
“Podemos suspeitar que as pessoas que perderam muito dinheiro apresentam um sério risco”, concluiu.