Há tempos muitos grupos de pesquisadores — inclusive no Brasil — vêm trabalhando no chamado Projeto Genoma do Câncer, na esperança de decifrar as razões genéticas para o aparecimento dessa doença devastadora. E um grande avanço foi atingido nesta semana. Cientistas americanos anunciam ter, pela primeira vez, sequenciado um genoma inteiro do câncer, acompanhado por sua versão correspondente, só que sadia.
As células que forneceram o DNA canceroso a ser decifrado vieram do sangue de um paciente que sofria de leucemia mielóide aguda. Os cientistas seqüenciaram — ou seja, colocaram em ordem — todos os mais de 3 bilhões de unidades químicas (“letras”) que compõem o DNA completo do câncer.
Para acompanhar, refizeram todo o trabalho com o DNA saído de células sadias do paciente.
Anos atrás, esse volume de trabalho era impensável — basta lembrar que se foi quase uma década de esforço e bilhões de dólares para que um consórcio público internacional conseguisse seqüenciar apenas um genoma humano completo. Agora, as coisas progrediram muito, sobretudo no aspecto da automação do seqüenciamento.
Assim, o grupo liderado por Timothy Ley, da Universidade Washington, nos EUA, passou a ter em mãos tanto o conjunto normal do DNA do paciente como o conjunto mutado, para saber o que mudou, produzindo a doença.
Eles encontraram um total de dez genes que estão “transformados” nas células cancerosas. Dois deles já eram conhecidos de esforços anteriores; outros oito são completamente novos e é certo que estão envolvidos no desenvolvimento da doença.
Como? “A função deles ainda não é conhecida”, afirmam os cientistas, em artigo publicado na edição desta semana do periódico científico britânico “Nature”.
O trabalho é especialmente importante, por duas razões. No caso da leucemia mielóide aguda, já aparecem aqui pistas de possíveis novos alvos para novas drogas e estratégias de tratamento.
Mas, para outros tipos de câncer, os pesquisadores também vêem algum valor. “Nosso estudo estabelece o seqüenciamento do genoma inteiro como um método não-enviesado de descobrir mutações que iniciam o câncer em genes antes não-identificados que podem responder a terapias específicas”, escreveram os cientistas.
Ou seja, o método pode ser uma forma mais abrangente de prosseguir com a busca por todos os genes que, de um modo ou de outro, estão no surgimento dos vários tipos de tumor existentes.