Os mesmos fatores de risco cardiovascular , são fatores de risco para a disfunção erétil , como o tabagismo, sedentarismo, diabete melito, hipertensão arterial , dislipidemias ( anormalidades do colesterol e suas frações ) , depressão , entre outros. Logo , a disfunção erétil , é um marcador de doença cardiovascular. É importante lembrarmos , que a atividade sexual deve ser considerada como qualquer outra atividade física, que condiciona e melhora a capacidade funcional do paciente e, portanto, está relacionada a um aspecto da qualidade de vida. A desinformação sobre a doença cardíaca e o retorno à atividade sexual não está apenas relacionada ao nível de escolaridade. Muitas vezes, o sexo é visto pelos profissionais da saúde e pelos pacientes como assunto de abordagem delicada, já que em nosso meio ainda vigoram o preconceito e o tabu sobre o tema. Estima-se que, após um diagnóstico de infarto do miocárdio ou procedimento intervencionista ( angioplastia coronariana ) , cerca de 25% dos pacientes retornem à vida sexual normal, apresentando a mesma freqüência e a mesma intensidade anteriores ao evento coronariano. Metade dos pacientes retorna à vida sexual com algum grau de diminuição em freqüência e/ou intensidade, e os outros 25% restantes não reassumem sua vida sexual.
Diversos fatores estão bem estabelecidos quanto à possibilidade da redução da atividade sexual após eventos cardiológicos, dentre os quais medo da morte ou do novo infarto do miocárdio , dispnéia ( falta de ar ), angina do peito , exaustão, alterações da libido ( desejo sexual ), depressão, impotência, preocupação ou ansiedade do cônjuge, além da sensação de culpa. Esses fatores podem estar associados à falta de esclarecimento sobre a doença e sobre a necessidade de um boa reabilitação cardiopulmonar após evento cardíaco, além da ignorância a respeito dos possíveis riscos que a prática sexual pode de fato acarretar. É sabido que o aumento do batimento cardíaco e a elevação da pressão arterial durante a relação sexual podem servir de gatilho para outro evento cardíaco. No entanto, após avaliação adequada, o risco absoluto é muito baixo.
O infarto do miocárdio recente , da região inferior do coração por exemplo , nas primeiras seis semanas, é classificado como de risco intermediário para atividade sexual. Estudos têm demonstrado aumento do consumo máximo de oxigênio e aumento da pressão arterial sistólica após exercício físico ou após a prática sexual. Dessa forma, torna-se essencial a avaliação do risco dos pacientes, para uma orientação ótima quanto à retomada dessa prática e posterior liberação pela equipe médica. Dentro dessa perspectiva, ficam claras as dúvidas e dificuldades, tanto dos pacientes quanto da equipe de saúde, de como abordar e/ou engajar nos programas de reabilitação cardiopulmonar as orientações sobre a atividade sexual.
Nesse contexto, estratégias que possam adicionar orientações verbais e/ou escritas têm trazido resultados benéficos. É importante mencionar que o desconhecimento sobre a doença e o retorno da atividade sexual podem ser identificados no período de internação, desde que as instituições e os profissionais direcionem a atenção para esses pacientes. O aconselhamento sexual é um importante aspecto a ser abordado e discutido com pacientes e companheiros durante a internação hospitalar. As orientações dispensadas contribuirão para a redução do medo e da ansiedade dos pacientes após infarto do miocárdio , e, portanto, não irão comprometer aspectos relacionados à qualidade de vida.
As orientações para indivíduos após- infato do miocárdio seguem as recomendações da American Heart Association, estabelecidas de acordo com a prática da atividade sexual e conforme o quadro clínico: a) pacientes de baixo risco cardiovascular : assintomáticos, portadores de menos de três fatores de risco para doença arterial coronária (excluindo gênero masculino ), aqueles com hipertensão arterial sistêmica controlada, angina do peito estável leve , aqueles submetidos a revascularização miocárdica com sucesso, pacientes com infarto do miocárdio passado não-complicado, portadores de doença valvar leve, insuficiência cardíaca sem disfunção do ventrículo esquerdo e/ou em classe funcional I ( falta de ar apenas aos grandes esforços ) – esses sujeitos podem ser encorajados para recomeçar a atividade sexual ou receber tratamento para disfunção sexual imediatamente; b) pacientes de risco intermediário: portadores de três ou mais fatores de risco para doença arterial coronária (excluindo gênero masculino ), presença de angina do peito estável moderada , pacientes com infarto do miocárdio recente (ocorrido entre duas e seis semanas), portadores de disfunção de ventrículo esquerdo e/ou insuficiência cardíaca congestiva classe funcional II ( falta de ar aos médios esforços ), seqüela não-cardíaca de doença aterosclerótica ( derrame cerebral e/ou doença vascular periférica) – esses indivíduos devem realizar uma avaliação cardiológica criteriosa antes de recomeçar a atividade sexual; c) pacientes de alto risco cardiovascular: presença de angina instável ou refratária ao tratamento, hipertensão arterial sistêmica não-controlada, insuficiência cardíaca congestiva grave ( falta de ar aos mínimos esforços ou ao repouso ), infarto recente (menos de duas semanas), arritmias de alto risco, miocardiopatias graves, doença valvar moderada a grave – para esses pacientes a atividade sexual pode constituir um risco significativo, devendo a mesma ser postergada até estabilização da condição cardíaca. A liberação do cardiologista é necessária antes de se reassumir a vida sexual ativa, pois, nessas circunstâncias, o risco pode suplementar o benefício.
Cabe salientar que, em pacientes com doença arterial coronariana estabelecida, o ato sexual , assim como a atividade física vigorosa e/ou a resposta emocional intensa, acaba por representar pequeno risco de desencadeamento de infarto do miocárdio. Além disso, comparado com METs de atividades diárias, a demanda corporal total de oxigênio e o aumento da demanda miocárdica de oxigênio durante a atividade sexual marital são modestas e a duração do aumento é breve . Esse gasto equivale a subir dois lances de escada rapidamente (a atividade sexual vigorosa pode aumentar o gasto de energia para 5 METs a 6 METs). Por fim, tem sido descrito que o risco de evento cardiovascular durante a atividade sexual é significativamente menor naqueles indivíduos que realizam atividade física de forma regular e crônica. Além disso, parece salutar lembrar que sintomas cardiovasculares durante o sexo raramente ocorrem em pacientes que não têm sintomas similares durante o teste de esforço, especialmente se o indivíduo alcançou o equivalente a 6 METs no teste e permaneceu assintomático e sem alterações eletrocardiográficas de isquemia.