Com narrativas da tradição oral dos Guajajara, o livro Arte e manhas do Jabuti, que tem apoio cultural do SESC, será lançado dia 22, na livraria Leitura do São Luís Shopping
“Arte e Manhas do Jabuti” (Autêntica Editora, 2017) é o meu mais novo livro para o público infantojuvenil, que será lançado no próximo dia 22 (quinta-feira), a partir das 19h, na livraria Leitura do São Luís Shopping. O livro, que tem apoio cultural do SESC-MA, será lançado também no dia 20, na U.E. Joaquim Gomes de Souza, numa ação daquela instituição. Com apresentação do escritor e pesquisador da cultura popular Marco Haurélio e ilustrações de Taisa Borges, Arte e Manhas traz recontos da tradição oral dos povos Tenetehara, inicialmente publicados na obra “Os índios Tenetehara, uma cultura em transição”, dos antropólogos Charles Wagley e Eduardo Galvão, no início da década de sessenta.
Fazem parte da coletânea seis narrativas onde o Jabuti, visto por outros animais como ingênuo e limitado, termina por levar a melhor graças à sua astúcia, paciência e, às vezes, malícia. É assim no conto da aposta do Jabuti com o Gambá, quando o Gambá, pensando em sobrepujar seu compadre para tirar dele alimento de graça o ano inteiro, vê-se derrotado. Em outro conto, em que o Jabuti se vê casado com a Mucura, suas vítimas são os próprios cunhados, que ao duvidarem da sua experiência de caçador, voltam-se contra ele tentando eliminá-lo. Por fim tem a Onça, que não poderia ficar de fora. Peso pesado das histórias da tradição oral no Brasil, onde vira e mexe é vista sendo humilhada pelo Coelho, a pintada leva, em dois contos, uma senhora coça do Jabuti.
Os Tenetehara habitam regiões à margem oriental amazônica, em território maranhense. Contam com cerca de quatro século de contato com os brancos, numa relação dramaticamente desigual, muitas vezes trágica, que levou especialistas, ainda na década de 40, a afirmarem que a cultura desse povo estava com os dias contados. Mas o que aconteceu foi o contrário. Capazes de conviver e absorver tradições alheias sem perder sua própria essência, os Tenetehara permaneceram. Entre outros motivos, como observa o antropólogo João Damasceno Figueiredo, “pela capacidade que tiveram em manter viva sua língua e ao hábito até hoje praticado de contar e ouvir narrativas através das quais os mais velhos passam aos mais jovens os valores básicos, essenciais da sua cultura”.
Assim, além dos aspectos literários, “Arte e Manhas do Jabuti” aponta para questões interessantes, que convidam para sua leitura. O primeiro, já comentado, diz respeito à importância que narrativas como essas exercem sobre os povos, a fim de que seus saberes e suas línguas permaneçam, como no caso específico dos Tenetehara. Em segundo lugar, por chamar a atenção para um povo detentor de uma cultura rica e sofisticada, cuja arte e visão de mundo precisam ser melhor conhecidas Brasil afora.
Sobre o livro, Marco Haurélio escreveu: “Saudamos as vozes do povo Guajajara que preservaram, à sua maneira, com as suas particularidades, as histórias que correm pelo Brasil e, em alguns casos, pelo mundo, em outros idiomas, narrados por outros povos, mas que, em essência, fazem parte do grande acervo cultural que torna a humanidade, a despeito das cercas e das divisões, uma mesma família”.